Ana Lúcia Andrade
Os 4.295 votos obtidos pelo debutante
Jarbas Filho, 21 anos, na disputa para vereador do Recife, este ano,
aumentaram o passivo eleitoral que seu pai, o senador Jarbas Vasconcelos
(PMDB), acumula desde as duas derrotas estaduais consecutivas: a de
2006, quando não fez o sucessor, apesar do governo bem avaliado, e a de
2010, quando perdeu o governo do Estado por mais de dois milhões de
votos.
Essa conta, segundo próprios aliados ouvidos pelo JC
na última semana, Jarbas poderia não ter pago. Mas a obrigação de
“pai-avô” foi mais forte e o levou a arcar com mais um ônus eleitoral.
Pior, contribuiu para aumentar a sensação de que seu tempo político
definitivamente passou.
Abraçar a causa do filho, num momento
precoce, coincidiu com um movimento político feito por Jarbas de
proporções, consequências e interpretação carregados de riscos. A
“volta”, após vinte anos de rivalidade, ao campo político agora liderado
fortemente pelo governador Eduardo Campos (PSB) até aparecia no
horizonte de muitos que o acompanham como algo “natural”.
Pronto para ocorrer a qualquer momento,
dado o único projeto político que move hoje o peemedebista, o de
derrotar o PT, e considerando a promessa que fez a si mesmo: “Não
terminarei minha vida política agarrada com a direita”.
Mas o roteiro da passagem “reduziu” a
liderança de Jarbas para alguns, quando ainda era ele a base das
oposições no Estado, e por não ter cumprido o percurso de forma gradual;
ganhou contornos de conveniência eleitoral para outros, quando casou
com o compromisso de eleger o filho vereador e com o “dever” de abrir
uma “avenida” política para o deputado Raul Henry; e, por fim, sagrou o
senador um coadjuvante da política de Pernambuco, totalmente dependente
da conjuntura que venha a ser gerada em torno do projeto político futuro
de Eduardo.
Como a vida, a política é feita de
ciclos. Infeliz aquele que acredita, assentado no apogeu, que será
eterno. O ocaso de Jarbas obedece a essa regra, avaliam observadores da
cena política. Mas é impossível descolar a perda de seu protagonismo da
contramão que guiou sua trajetória, depois de longas conversas com
várias pessoas que o acompanham há anos, sobretudo quando ele
desembarcou no Senado. Ressaltadas são as bandeiras que o senador ergueu
no Legislativo combinadas com a ética na política.
Jarbas voltou ao Congresso como aquele
combativo dos tempos ditatoriais. Só não entendeu, ou fez por escolha,
que não podia deixar a política local no passado, mas, principalmente,
não devia brigar contra uma realidade política maior que ele. A oposição
frontal que decidiu fazer contra o ex-presidente Lula alia-se ao dever
cívico de alimentar uma oposição no País. Mas no tom que bradou o grito
do contra, o fez ser ouvido apenas como um porta-voz da reprovação aos
bons ventos que sopravam no País, e em particular em Pernambuco, e que
Eduardo Campos, sabiamente, soube surfar. O presente do político Jarbas
guarda um passado respeitado, ainda capaz de prestar serviços. Mas não
ao seu projeto, analisam. Que no campo eleitoral sofre.
E no campo da política dependerá do “se”
seu novo aliado contra o PT, Eduardo, estiver mesmo disposto a encarar
voo solo. O passaporte que levou o senador a fazer a travessia foi a
sinalização do governador de se confrontar com o PT. O tempo dirá se ele
escolheu o caminho certo ou, mais uma vez, entrou numa contramão. O JC procurou ouvir o senador, mas não obteve retorno.
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