Formado em Medicina pela Universidade Federal do Ceará, especialista em cirurgia geral no Rio de Janeiro, Francisco de Assis de Moraes Souza, 74 anos, ganhou o apelido de “Mão Santa” no Piauí, Estado que governou e foi senador da República, por salvar muitas vidas na mesa de cirurgia.. A fama ganhou o mundo e o fez ingressar na política. Filiado ao então MDB conquistou o seu primeiro mandato de deputado estadual em 1978, chegando a ser eleito prefeito de Parnaíba, sua terra natal, em 1988.
Após o infortúnio de seis derrotas seguidas com a cassação do seu mandato de governador em 2001, ele ressurge das cinzas e volta ao poder como prefeito de seu berço político, derrotando o PT à frente de uma coligação quase solitária, o Solidariedade (SD), seu partido, e o PSL, com apenas 30 segundos de propaganda na TV e no rádio. Eleito para governar a segunda maior cidade do Estado, teve 35.585 votos - 45,53% dos válidos - e o prefeito Florentino Neto (PT), que tentava reeleição com o apoio do governador petista Wellington Dias, obteve 44,09% (34.462 votos).
Como tudo que faz na política é marcado pelo ineditismo e com jogadas audaciosas, Mão Santa foi à forra contra o PT, que promoveu a sua ação de cassação quando governador do Estado pela segunda vez, sem o apoio de um único vereador, sem tempo de propaganda eleitoral, sem fazer comícios tradicionais, promovendo apenas visitas domiciliares, o chamado corpo a corpo. “Eu não tive voto de rico, porque rico não elege ninguém. Ganhei em todos os bairros pobres da cidade e só perdi no centro, onde moram e votam os ricos”, diz.
Bom frasista, inteligência aguçada, coragem de mamar em onça e irônico por natureza, Mão Santa se projetou nacionalmente como um dos maiores combatentes do PT, que, segundo ele, “implantou no País a escola da especialidade em roubalheira”. Quando senador da República, ele criou bordões como “Atentai bem, povo brasileiro”, e “Ô, Luiz Inácio”, ao se referir ao ex-presidente da República. Para se vingar do PT na campanha bem-sucedida em que volta a ser prefeito 28 anos depois de governar a sua terra pela primeira vez, o ex-governador só precisou das suas pernas para andar a pé nas ruas e de figuras com cara de povo para acompanhá-lo de casa em casa.
Breno, 35 anos, negro, seu vizinho, que ajudou a tirar do mundo das drogas, foi um deles. “Era o marqueteiro da campanha”, brinca Mão Santa. O marketing, na verdade, era entregar panfletos nas casas, soltar rojões e reunir populares em comícios relâmpagos cuja tribuna era uma calçada alta. Breno ajudou ainda a formar a chapa proporcional. Candidato a vereador pelo SD teve apenas 135 votos.
Alan Pereira, o Pé de Pano, foi outra peça importante na campanha. Como motorista conhecido em toda periferia, saiu candidato a vereador e teve 147 votos. Sem apoios tradicionais, o prefeito eleito incentivou candidaturas de anônimos para atender aos requisitos eleitorais da justiça. Seus candidatos a vereador tinham nomes esquisitos, como Calango, Engraxate, Pé de Pano e Drogado.
O SD não elegeu nenhum vereador. A legenda totalizou 1,8 mil votos e o candidato mais votado não conseguiu ultrapassar a barreira dos 400 votos. Já o PSL, braço direito da campanha, elegeu apenas dois vereadores: Irmão Marquinho, o 13º mais votado entre os 17 eleitos, com 1.195 votos, e Joaozinho do Trânsito, o 14º mais votado, com 962 votos. Enquanto Mão Santa não tinha palanque nem figuras de projeção em sua campanha, o prefeito Florentino Neto, que tentava a reeleição, trouxe o governador Wellington Dias (PT) para vários atos de sua campanha. “O governador vivia direto na cidade e derramou dinheiro para ganhar as eleições. Faltando oito dias para o pleito inventaram uma verba de R$ 5 milhões para consertar uma ponte, cuja obra nunca saiu do lugar”, afirma o prefeito eleito.
Especialista em polêmicas, Mão Santa veiculou um vídeo na TV em que o presidente Michel Temer (PMDB) pedia votos para ele. Era, no entanto, um vídeo gravado em 2012, quando foi candidato ao mesmo cargo e derrotado. "Eu conheço o Mão Santa há muito tempo. Como governador e senador pode demonstrar a seu Estado e ao País suas qualificações profissionais e administrativas, gerindo seu Estado e representando o seu Estado com muita grandeza”, dizia Temer, para acrescentar:
“Mas você também ganhará um prefeito extraordinário a administrar o desenvolvimento de Parnaíba. Por isso lhe peço, vote Mão Santa". O vídeo foi postado como sendo atual com a legenda "presidente da República" ao referir-se a Temer. Além do vídeo, Mão Santa também usou as redes sociais para afirmar que Temer o apoiaria e já teria informado que iria ajudá-lo com recursos, caso fosse eleito.
Em uma das postagens, dizia: “Com ajuda de Michel Temer, Mão Santa vai reconstruir a cidade de Parnaíba”. Mão Santa ganhou destaque nacional quando em 2001 se tornou o primeiro governador cassado no País por abuso do poder econômico. No ano seguinte, sempre alegando ser injustiçado, foi eleito senador pelo PMDB. De 2004 a 2014, no entanto, disputando ou apoiando a mulher, Adalgisa Moraes Souza, e o filho, Francisco de Assis de Moraes Souza Júnior, o Mão Santinha, ele perdeu seis eleições.
A pior das derrotas ocorreu há dois anos, ao disputar pelo PSC o cargo de governador e ter obtido só 1,55% dos votos. "Expulsamos os portugueses do Piauí e agora o PT. Foi Deus que me ajudou, pois ninguém gosta de quem mente e rouba e o PT faz as duas coisas", disse o prefeito eleito, sobre a vitória na eleição municipal. A vitória, ainda que apertada, significa o renascimento de Mão Santa, que era apontado por rivais como alguém "no fundo do poço", também por ter passado por inúmeras siglas desde a cassação.
Do PMDB, foi para o PSC, mas rompeu com líderes do partido e se filiou ao SD. “Essa é a maior vitória da democracia, nós combatemos mais de 15 anos de PT, 20 partidos contra a gente, mas Deus e o povo são maiores do que tudo. Essa é a vitória do povo”, destacou. O presidente estadual do PPS, ex-governador Zé Filho, diz que as pessoas serão as maiores beneficiadas durante a gestão de Mão Santa. “Com o resultado dessa eleição, o povo volta ao poder”, enfatizou.
Mão Santa foi candidato a prefeito de Parnaíba pela terceira vez. Foi eleito prefeito e governou entre 1989 e 1992. Em 2012, pelo PSC, acabou derrotado pelo candidato Floriano (PT), a quem deu o troco agora. Mão Santa também foi governador do Piauí entre 1995 a 2001, pelo PMDB, quando teve o mandato cassado. Em 2002, ainda pelo partido, foi eleito senador e ficou na Casa de 2003 a 2010, quando se tornou conhecido pelos discursos de oposição ao ex-presidente Lula.
Por Magno Martins
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