quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Terra natal ressuscita Mão Santa


   Formado em Medicina pela Universidade Federal do Ceará, especialista em cirurgia geral no Rio de Janeiro, Francisco de Assis de Moraes Souza, 74 anos, ganhou o apelido de “Mão Santa” no Piauí, Estado que governou e foi senador da República, por salvar muitas vidas na mesa de cirurgia.. A fama ganhou o mundo e o fez ingressar na política. Filiado ao então MDB conquistou o seu primeiro mandato de deputado estadual em 1978, chegando a ser eleito prefeito de Parnaíba, sua terra natal, em 1988.
Após o infortúnio de seis derrotas seguidas com a cassação do seu mandato de governador em 2001, ele ressurge das cinzas e volta ao poder como prefeito de seu berço político, derrotando o PT à frente de uma coligação quase solitária, o Solidariedade (SD), seu partido, e o PSL, com apenas 30 segundos de propaganda na TV e no rádio. Eleito para governar a segunda maior cidade do Estado, teve 35.585 votos - 45,53% dos válidos - e o prefeito Florentino Neto (PT), que tentava reeleição com o apoio do governador petista Wellington Dias, obteve 44,09% (34.462 votos).
Como tudo que faz na política é marcado pelo ineditismo e com jogadas audaciosas, Mão Santa foi à forra contra o PT, que promoveu a sua ação de cassação quando governador do Estado pela segunda vez, sem o apoio de um único vereador, sem tempo de propaganda eleitoral, sem fazer comícios tradicionais, promovendo apenas visitas domiciliares, o chamado corpo a corpo. “Eu não tive voto de rico, porque rico não elege ninguém. Ganhei em todos os bairros pobres da cidade e só perdi no centro, onde moram e votam os ricos”, diz.
Bom frasista, inteligência aguçada, coragem de mamar em onça e irônico por natureza, Mão Santa se projetou nacionalmente como um dos maiores combatentes do PT, que, segundo ele, “implantou no País a escola da especialidade em roubalheira”. Quando senador da República, ele criou bordões como “Atentai bem, povo brasileiro”, e “Ô, Luiz Inácio”, ao se referir ao ex-presidente da República. Para se vingar do PT na campanha bem-sucedida em que volta a ser prefeito 28 anos depois de governar a sua terra pela primeira vez, o ex-governador só precisou das suas pernas para andar a pé nas ruas e de figuras com cara de povo para acompanhá-lo de casa em casa.
Breno, 35 anos, negro, seu vizinho, que ajudou a tirar do mundo das drogas, foi um deles. “Era o marqueteiro da campanha”, brinca Mão Santa. O marketing, na verdade, era entregar panfletos nas casas, soltar rojões e reunir populares em comícios relâmpagos cuja tribuna era uma calçada alta. Breno ajudou ainda a formar a chapa proporcional. Candidato a vereador pelo SD teve apenas 135 votos.
Alan Pereira, o Pé de Pano, foi outra peça importante na campanha. Como motorista conhecido em toda periferia, saiu candidato a vereador e teve 147 votos. Sem apoios tradicionais, o prefeito eleito incentivou candidaturas de anônimos para atender aos requisitos eleitorais da justiça. Seus candidatos a vereador tinham nomes esquisitos, como Calango, Engraxate, Pé de Pano e Drogado. 
O SD não elegeu nenhum vereador. A legenda totalizou 1,8 mil votos e o candidato mais votado não conseguiu ultrapassar a barreira dos 400 votos. Já o PSL, braço direito da campanha, elegeu apenas dois vereadores: Irmão Marquinho, o 13º mais votado entre os 17 eleitos, com 1.195 votos, e Joaozinho do Trânsito, o 14º mais votado, com 962 votos. Enquanto Mão Santa não tinha palanque nem figuras de projeção em sua campanha, o prefeito Florentino Neto, que tentava a reeleição, trouxe o governador Wellington Dias (PT) para vários atos de sua campanha. “O governador vivia direto na cidade e derramou dinheiro para ganhar as eleições. Faltando oito dias para o pleito inventaram uma verba de R$ 5 milhões para consertar uma ponte, cuja obra nunca saiu do lugar”, afirma o prefeito eleito.
Especialista em polêmicas, Mão Santa veiculou um vídeo na TV em que o presidente Michel Temer (PMDB) pedia votos para ele. Era, no entanto, um vídeo gravado em 2012, quando foi candidato ao mesmo cargo e derrotado. "Eu conheço o Mão Santa há muito tempo. Como governador e senador pode demonstrar a seu Estado e ao País suas qualificações profissionais e administrativas, gerindo seu Estado e representando o seu Estado com muita grandeza”, dizia Temer, para acrescentar:
“Mas você também ganhará um prefeito extraordinário a administrar o desenvolvimento de Parnaíba. Por isso lhe peço, vote Mão Santa". O vídeo foi postado como sendo atual com a legenda "presidente da República" ao referir-se a Temer. Além do vídeo, Mão Santa também usou as redes sociais para afirmar que Temer o apoiaria e já teria informado que iria ajudá-lo com recursos, caso fosse eleito.
Em uma das postagens, dizia: “Com ajuda de Michel Temer, Mão Santa vai reconstruir a cidade de Parnaíba”. Mão Santa ganhou destaque nacional quando em 2001 se tornou o primeiro governador cassado no País por abuso do poder econômico. No ano seguinte, sempre alegando ser injustiçado, foi eleito senador pelo PMDB. De 2004 a 2014, no entanto, disputando ou apoiando a mulher, Adalgisa Moraes Souza, e o filho, Francisco de Assis de Moraes Souza Júnior, o Mão Santinha, ele perdeu seis eleições.
A pior das derrotas ocorreu há dois anos, ao disputar pelo PSC o cargo de governador e ter obtido só 1,55% dos votos. "Expulsamos os portugueses do Piauí e agora o PT. Foi Deus que me ajudou, pois ninguém gosta de quem mente e rouba e o PT faz as duas coisas", disse o prefeito eleito, sobre a vitória na eleição municipal. A vitória, ainda que apertada, significa o renascimento de Mão Santa, que era apontado por rivais como alguém "no fundo do poço", também por ter passado por inúmeras siglas desde a cassação.
Do PMDB, foi para o PSC, mas rompeu com líderes do partido e se filiou ao SD. “Essa é a maior vitória da democracia, nós combatemos mais de 15 anos de PT, 20 partidos contra a gente, mas Deus e o povo são maiores do que tudo. Essa é a vitória do povo”, destacou. O presidente estadual do PPS, ex-governador Zé Filho, diz que as pessoas serão as maiores beneficiadas durante a gestão de Mão Santa. “Com o resultado dessa eleição, o povo volta ao poder”, enfatizou.
Mão Santa foi candidato a prefeito de Parnaíba pela terceira vez. Foi eleito prefeito e governou entre 1989 e 1992. Em 2012, pelo PSC, acabou derrotado pelo candidato Floriano (PT), a quem deu o troco agora. Mão Santa também foi governador do Piauí entre 1995 a 2001, pelo PMDB, quando teve o mandato cassado. Em 2002, ainda pelo partido, foi eleito senador e ficou na Casa de 2003 a 2010, quando se tornou conhecido pelos discursos de oposição ao ex-presidente Lula.  
Por Magno Martins

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