O
ministro Joaquim Barbosa, 57, convive diuturnamente há seis anos com
duas companheiras inseparáveis: a ação penal 470 e uma dor crônica nas
costas. Nesta semana, ele começa a se libertar da primeira, com o voto
no processo do mensalão.
Os
colegas do Supremo e os advogados dos 38 réus são unânimes em prever
sentença favorável à condenação da maioria dos acusados pelo Ministério
Público, instituição à qual Barbosa pertencia ao ser escolhido para a
corte pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003.
Caso
a expectativa se confirme, o doutor em direito pela Universidade Paris
2, saudado como o primeiro negro a chegar à mais alta corte brasileira
graças ao PT, terá confirmado sua condição de inimigo número 1 do
partido.
Os
mesmos companheiros de Lula que exaltavam o currículo acadêmico
brilhante de Barbosa -que, além de ter obtido a titulação na França, deu
aula nos EUA e é fluente em inglês, francês e alemão- agora desdenham
de sua nomeação, atribuindo a escolha a uma política de cotas.
Ao
encaminhar sua nomeação, Lula dizia aos conselheiros, entre eles o então
ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que indicaria o primeiro
negro para a corte.
Vários
'currículos' foram analisados pelo governo, e o de Barbosa se destacou
sobre os demais. 'Era uma covardia o tanto que o Joaquim era mais
preparado', lembra um participante do processo.
Uma
vez nomeado, Barbosa começou a mostrar outras características que
começaram a assustar os políticos: em questão penal, costuma ser autor
de votos duríssimos, quase sempre favoráveis ao Ministério Público. 'É
um promotor em pele de magistrado', vaticina um dos advogados do
mensalão.
No STF, travou várias e acaloradas discussões com colegas, a mais notória com Gilmar Mendes, a quem acusou de ter 'capangas'.
Não
fez amigos no tribunal, cuja presidência assumirá em dezembro. O colega
de quem é mais próximo é o presidente Carlos Ayres Britto.
O
rigor, dizem os amigos, vem do fato de 'Joca', como é chamado, ter sido o
arrimo da família de oito filhos, em Paracatu, interior de Minas.
Mas fora da corte Barbosa é bem-humorado, sarcástico, amante de música -tem coleções de MPB, jazz e música clássica -e boêmio.
Antes da dor crônica nas costas, jogava futebol duas vezes por semana. São-paulino doente, era o craque da UnB, onde se formou.
Ocupou
cargos públicos, mas recusou convite para ser secretário nacional de
Justiça no governo FHC. Ironicamente, se tivesse aceitado, não teria
sido ungido por Lula nem viria a relatar o caso que tira o sono dos
petistas. (Folha de S.Paulo - Vera Magalhães - Felipe Seligman)
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