O CHEFE
O deputado Jorge Picciani, do PMDB, na cadeira que ocupa há seis gestões. Ele é acusado de ser parte do esquema dos conselheiros do TCE ( Foto de Domingos Peixoto – O Globo)
A investida da lei sobre Jorge Picciani, o político mais forte de um Rio de Janeiro esvaziado, vai cobrar um preço alto de um governo em profunda crise
ÉPOCA – Sérgio Garcia, Aguirre Talento e Hudson Corrêa
No fim de tarde de quarta-feira, dia 29, o deputado estadual Jânio Mendes, do PDT, discursava no plenário da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, a Alerj. Discorria contra a descriminalização do aborto, enquanto exibia um minúsculo boneco de um feto, indecifrável mesmo a curta distância. O salão estava vazio, imerso em um silêncio que dizia muito sobre o medo que abatia seus colegas. Horas antes, o presidente da Casa, deputado Jorge Picciani, do PMDB, o homem mais poderoso na política do Rio de Janeiro, fora levado à força pela Polícia Federal para depor.
E tivera sorte. Na mesma hora, cinco dos sete conselheiros do Tribunal de Contas do Estado, órgão ligado à Alerj e encarregado de fiscalizar as contas do governo, foram presos, acusados de corrupção. Seriam depois levados ao complexo penitenciário de Bangu, onde já estão o ex-governador Sérgio Cabral, alguns de seus secretários e o empresário Eike Batista. Realmente, era um dia para políticos no Rio se esconderem.
Picciani foi acordado por agentes da Polícia Federal na porta de sua casa, em um condomínio na Barra da Tijuca (a PF já conhecia o caminho: Picciani é vizinho do ex-deputado Eduardo Cunha, também do PMDB). Pediu para beber um café antes de conhecer a situação, e foi ele próprio para a cozinha preparar. Os agentes cumpriam um mandado de condução coercitiva expedido pelo ministro Felix Fischer, do Superior Tribunal de Justiça. Haveria também uma operação de busca e apreensão em seu gabinete.
Era a Operação O Quinto do Ouro, uma referência ao imposto cobrado pela Coroa Portuguesa nos tempos coloniais, esperada no meio político e em seu submundo desde que Jonas Lopes, ex-presidente do TCE, fechou um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal. Picciani foi interrogado como suspeito de intermediar um esquema pelo qual conselheiros do TCE recebiam propina para encobrir irregularidades cometidas por empresas que faziam negócios com o governo do Rio de Janeiro.
O despacho do STJ que autorizou a operação, revelado por ÉPOCA na sexta-feira, dia 31, aponta que os crimes começaram na presidência do conselheiro Maurício Nolasco (2007 a 2010) e se perpetuaram durante a gestão de Jonas Lopes Júnior. Em sua delação premiada, Lopes contou – entre outras coisas – que houve desvio de 15% dos pagamentos de despesas de alimentação dos detentos do Rio de Janeiro para abastecer os bolsos dos conselheiros. “Consta que cada conselheiro teria recebido cerca de R$ 1,2 milhão”, diz o texto. A investigação descobriu também que, em 2015, cada um dos conselheiros recebeu R$ 60 mil em propina para favorecer empresas de transporte em processos.
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