Os conflitos entre PT e PMDB na definição dos palanques estaduais nas
eleições de 2014 têm sido transpostos para o Congresso Nacional e se
tornaram um ingrediente a mais para complicar as relações entre os
partidos. Nas últimas semanas, as duas siglas têm protagonizado embates
sobre temas que vão desde a definição do marco civil da internet até a
regulamentação do trabalho escravo. Para além das disputas ideológicas,
parlamentares admitem que a antecipação das eleições e o consequente
impasse nas negociações nos Estados contribuem para ampliar as
divergências.
Na Câmara, os líderes do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), e do PT, José
Guimarães (CE), são de dois Estados onde os partidos estão em conflito.
No Rio de Janeiro, o PT quer lançar Lindbergh Farias contra Luiz
Fernando Pezão (PMDB), vice de Sérgio C abral, enquanto no Ceará o líder
do PMDB no Senado, Eunício Oliveira, cobra apoio do PT a sua
candidatura, mas o partido se encaminha para ficar ao lado dos irmãos
Ciro e Cid Gomes (PROS).
A tensão tem alcançado o plenário. Guimarães lidera a estratégia de
manter a pauta da Casa trancada para tentar impedir a votação do projeto
que cria um piso nacional para os agentes comunitários de saúde. A
proposta pode ter um impacto de R$ 2,4 bilhões nos cofres públicos
conforme cálculo da Confederação Nacional dos Municípios (CNM). O
governo federal não aceita ampliar o repasse que faz na área, mas o
presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), marcou a votação
para a próxima terça-feira, 12.
Outro embate ocorrerá no marco civil da internet. Cunha faz ataques
contra o relatório de Alessandro Molon (PT-RJ), que tem aval do governo.
O texto prevê uma neutralidade total da rede, impedindo as operadoras
de vender pacotes somente com alguns serviços, além de permitir ao
Executivo obrigar os provedores a instalar datacenters para
armazenamento de dados no Brasil. Cunha quer retirar o trecho do
armazenamento e flexibilizar o conceito de neutralidade, que na sua
visão obrigaria as empresas a fazerem investimentos além do possível.
Trabalho escravo
No Senado, outras duas propostas devem dividir as bancadas nas próximas
semanas. A regulamentação do trabalho escravo, que define como se dará a
expropriação de terras em que sejam encontrados trabalhadores em
condições análogas à escravidão.
O relator da proposta, senador Romero Jucá (PMDB-RR), atendeu aos
pedidos dos ruralistas - a bancada é formada essencialmente de
peemedebistas, como a presidente da Confederação da Agricultura e
Pecuária do Brasil, Kátia Abreu (TO) - e excluiu os termos "exaustivo" e
"degradante" entre os que poderiam caracterizar o trabalho escravo. A
modificação preocupa o governo e o PT, que teme afrouxar a definição.
A proposta de renegociação das dívidas dos Estados também gera problemas
na relação. A proposta ainda não tem relator definido no Senado, mas
Eunício Oliveira já adiantou que vai apresentar uma emenda para anistiar
incentivos fiscais tidos como ilegais no âmbito da chamada "guerra
fiscal" para atrair investimentos.
O governo defende o texto que chegou da Câmara. A intenção é beneficiar a
Prefeitura de São Paulo, comandada por Fernando Haddad (PT).
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