Por Magno Martins
Afogados
da Ingazeira parou, literalmente, sábado passado, para dar adeus à Giza
Simões, ex-prefeita do município. Nascida e criada em Alagoinha, no
Agreste, Giza chegou jovem em Afogados, foi professora e pelas mãos do
marido, o ex-deputado Orisvaldo Inácio, ingressou na vida pública.
Eleito
prefeito, Orisvaldo dividiu o sucesso da sua gestão com Giza, que
implantou e coordenou um dos mais arrojados programas na área social.
Daí, para ser eleita prefeita foi um pulo. Orisvaldo, que morreu antes,
era médico vocacionado.
Entrou na política por acaso. Giza, não. Já nasceu com alma política. Dava-lhe prazer o exercício da atividade pública.
De
tão dedicada à causa, abriu paradigmas no Sertão, quebrando o
preconceito da assimilação, lenta e gradual, da mulher na política numa
região refém da ditadura do coronelismo machista.
Combativa,
corajosa e aguerrida, Giza certamente se inspirou em Machado de Assis,
que devorou na infância e como professora adotou para seus alunos, que
dizia: “A vida sem luta é um mar morto no centro do organismo
universal”.
Por
isso mesmo, venceu tantas etapas em sua trajetória que pareciam
instransponíveis. Bem-sucedida na política, Giza formou com Orisvaldo um
casal exemplar.
Eram tão apaixonados que tenho impressão que Giza começou a morrer quando perdeu Orisvaldo.
George
Eliot, romancista britânica, diz que “em cada despedida existe a imagem
da morte”. A forçada separação provocou-lhe uma dor insuportável.
Rubem Alves, pensador paulista, diz que toda separação é triste, porque guarda memória de tempos felizes e nela mora a saudade.
Pablo
Picasso disse, certa vez, que a morte não é a maior perda da vida. A
maior perda da vida é o que morre dentro de nós enquanto vivemos.
Giza, portanto, começou a morrer lentamente com saudade de Orisvaldo.
Agora,
entretanto, é Afogados da Ingazeira e sua gente que começam a morrer
lentamente com uma saudade dupla – dela e do seu velho companheiro.
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