Em artigo que escreveu para vários jornais do país, intitulado
“A encruzilhada da mudança”, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso
(PSDB) questiona a capacidade de Marina Silva para fazer a mudança de
que o Brasil tanto necessita.
Confira:
Não é a primeira vez que o Brasil se vê desafiado pelas encruzilhadas
da História. Os eleitores escolherão caminhos de mudança, uns mais bem
pavimentados, outros potencialmente acidentados. Manter as coisas como
estão não é boa alternativa, como já está claro para a maioria.
Não é segredo para ninguém que a candidata Dilma Rousseff,
independentemente das boas intenções que tenha – e as tem – embarcou
num desvio que está custando caro a ela e ao país. A partir da crise
de 2008, ainda no governo Lula, como ministra todo-poderosa, Dilma (e
Mantega, ou sei lá quais outros ideólogos) definiram uma “nova matriz
econômica” para o Brasil. Acontece que a nova matriz era velha e não
produziu o feitiço esperado. Repetiu seu erro de pensar que misturando
ingredientes (gasto público solto, política monetária leniente,
crédito público a mil, isenções fiscais aqui e acolá,
microgerenciamento das decisões empresariais, etc.) e agitando o
caldeirão da política econômica, o governo asseguraria o milagre do
crescimento contínuo e a felicidade geral do povo. As preocupações
contrárias foram consideradas fórmulas velhas, “ortodoxas”,
monetaristas, submissas ao FMI, propensas a fazer o ajuste fiscal à
custa do povo.
Os resultados estão à vista e em mau momento: o das eleições. O PIB
não cresce, antes se contrai e a inflação roça o teto da meta e só não
o ultrapassa porque há preços artificialmente represados pelo governo;
a indústria diminui de tamanho e perde competitividade e os
investimentos despencam junto com a confiança das empresas no governo.
Pudera, o superávit primário virou pó, apesar dos artifícios contábeis
e das “pedaladas fiscais”; os bancos públicos, chamados a injetar
anabolizantes creditícios na economia e a bancar o voluntarismo do
governo no setor elétrico, encontram-se expostos a créditos de
qualidade duvidosa, criando dúvidas adicionais sobre a situação fiscal
do país; a Petrobras e a Eletrobras igualmente submetidas ao
voluntarismo governamental perderam valor e capacidade de inversão; as
reservas do Banco Central encontram-se comprometidas pelos swaps
cambiais (quase cem bilhões de dólares) e por aí vai. Cáspite! como se
dizia nas histórias em quadrinho dos anos 1940, é encrenca para não
botar defeito.
Diante desta situação, o que propõe a candidata? O mesmo, com mais
propaganda. Desfia um rosário de realizações, sem se dar conta de que
o calo aperta na má gerência, no aparelhamento desenfreado da
administração por partidos políticos, na baixa qualidade dos serviços
públicos de educação, saúde e transporte e nos casos de corrupção
sistêmica, nas obras inacabadas e no desperdício do dinheiro público.
Ah, sim, também nos impostos que, mais do que elevados, são mal
utilizados. Dá para ganhar eleições desse jeito? Mesmo Lula parece
arrependido de indicar candidatos-postes cujas luzes não acendem…
Daí a responsabilidade por construir caminhos para um futuro melhor
recair nos ombros das oposições que se deparam com uma encruzilhada.
Um caminho aponta uma estrada pavimentada pela experiência, por
realizações; outro, como se faz nos lançamentos de empreendimentos
imobiliários, mostra fotos de maquetas tomadas com lentes grande
angular: aparece o melhor no foco e se esfumam no horizonte as
dimensões das dificuldades reais. A questão não é a foto da partida, é
o percurso para levar a uma construção sólida.
Na tradição personalista de sempre (seria da política velha?), os
dados eleitorais parecem mostrar a formação de um vagalhão. As
intenções da candidata oposicionista são boas, mas o político, já
dizia Weber há um século, não é como o pregador. A este basta a
convicção e a boa palavra. Como nos Evangelhos: aquele que acreditar
em mim encontrará a salvação. O político, além da crença, precisa
construir os caminhos da “salvação”, que será sempre terrena e
imperfeita. O desafio está no fazer e não nas palavras. Há “bons” e
“maus” entre as pessoas, assim como há lados “bons” e “maus” em uma
mesma pessoa. Valem as aspas porque há valores e interesses que para
uns são “bons”, para outros “maus”. Além disso, na política, não se
trata só de pessoas, mas do que elas representam. Na vida pública o
objetivo não é somar os “bons” e alinhá-los contra os “maus”, em
confronto definitivo. Trata-se de organizar forças ao redor de ideias
e de interesses que, ainda que contraditórios em alguns pontos, possam
se compor e formar uma maioria para governar por um período
determinado de tempo em torno de objetivos claros que, se alcançados,
possam beneficiar o país. A candidata Marina, se vencer, será capaz de
tal proeza? Tomara, mas ainda é uma incógnita. Sem negar-lhe méritos
pessoais e políticos, é recente sua conversão a algumas das teses há
muito sustentadas pela oposição que não tem medo de dizer o seu nome.
Aécio representa esta oposição que vem junta há muitos anos. Sobre sua
capacidade de mobilizar e coordenar equipes técnicas, organizar e
liderar maiorias políticas, não cabe dúvida. Ele a demonstrou
reiteradas vezes como deputado federal, presidente da Câmara e
governador de Minas Gerais.
Enfim, escolheremos o caminho mais seguro ou, no embalo da velha
tradição personalista, embarcaremos na direção de mares nunca dantes
navegados? Embora a opção em causa seja diferente de outras que nos
levaram a impasses e desastres no passado, prefiro manter-me firme ao
lado de quem já passou por provas que o capacitam a governar com
grandeza, com competência e a obter os apoios necessários para tirar o
país do labirinto lulo-petista.
“A encruzilhada da mudança”, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso
(PSDB) questiona a capacidade de Marina Silva para fazer a mudança de
que o Brasil tanto necessita.
Confira:
Não é a primeira vez que o Brasil se vê desafiado pelas encruzilhadas
da História. Os eleitores escolherão caminhos de mudança, uns mais bem
pavimentados, outros potencialmente acidentados. Manter as coisas como
estão não é boa alternativa, como já está claro para a maioria.
Não é segredo para ninguém que a candidata Dilma Rousseff,
independentemente das boas intenções que tenha – e as tem – embarcou
num desvio que está custando caro a ela e ao país. A partir da crise
de 2008, ainda no governo Lula, como ministra todo-poderosa, Dilma (e
Mantega, ou sei lá quais outros ideólogos) definiram uma “nova matriz
econômica” para o Brasil. Acontece que a nova matriz era velha e não
produziu o feitiço esperado. Repetiu seu erro de pensar que misturando
ingredientes (gasto público solto, política monetária leniente,
crédito público a mil, isenções fiscais aqui e acolá,
microgerenciamento das decisões empresariais, etc.) e agitando o
caldeirão da política econômica, o governo asseguraria o milagre do
crescimento contínuo e a felicidade geral do povo. As preocupações
contrárias foram consideradas fórmulas velhas, “ortodoxas”,
monetaristas, submissas ao FMI, propensas a fazer o ajuste fiscal à
custa do povo.
Os resultados estão à vista e em mau momento: o das eleições. O PIB
não cresce, antes se contrai e a inflação roça o teto da meta e só não
o ultrapassa porque há preços artificialmente represados pelo governo;
a indústria diminui de tamanho e perde competitividade e os
investimentos despencam junto com a confiança das empresas no governo.
Pudera, o superávit primário virou pó, apesar dos artifícios contábeis
e das “pedaladas fiscais”; os bancos públicos, chamados a injetar
anabolizantes creditícios na economia e a bancar o voluntarismo do
governo no setor elétrico, encontram-se expostos a créditos de
qualidade duvidosa, criando dúvidas adicionais sobre a situação fiscal
do país; a Petrobras e a Eletrobras igualmente submetidas ao
voluntarismo governamental perderam valor e capacidade de inversão; as
reservas do Banco Central encontram-se comprometidas pelos swaps
cambiais (quase cem bilhões de dólares) e por aí vai. Cáspite! como se
dizia nas histórias em quadrinho dos anos 1940, é encrenca para não
botar defeito.
Diante desta situação, o que propõe a candidata? O mesmo, com mais
propaganda. Desfia um rosário de realizações, sem se dar conta de que
o calo aperta na má gerência, no aparelhamento desenfreado da
administração por partidos políticos, na baixa qualidade dos serviços
públicos de educação, saúde e transporte e nos casos de corrupção
sistêmica, nas obras inacabadas e no desperdício do dinheiro público.
Ah, sim, também nos impostos que, mais do que elevados, são mal
utilizados. Dá para ganhar eleições desse jeito? Mesmo Lula parece
arrependido de indicar candidatos-postes cujas luzes não acendem…
Daí a responsabilidade por construir caminhos para um futuro melhor
recair nos ombros das oposições que se deparam com uma encruzilhada.
Um caminho aponta uma estrada pavimentada pela experiência, por
realizações; outro, como se faz nos lançamentos de empreendimentos
imobiliários, mostra fotos de maquetas tomadas com lentes grande
angular: aparece o melhor no foco e se esfumam no horizonte as
dimensões das dificuldades reais. A questão não é a foto da partida, é
o percurso para levar a uma construção sólida.
Na tradição personalista de sempre (seria da política velha?), os
dados eleitorais parecem mostrar a formação de um vagalhão. As
intenções da candidata oposicionista são boas, mas o político, já
dizia Weber há um século, não é como o pregador. A este basta a
convicção e a boa palavra. Como nos Evangelhos: aquele que acreditar
em mim encontrará a salvação. O político, além da crença, precisa
construir os caminhos da “salvação”, que será sempre terrena e
imperfeita. O desafio está no fazer e não nas palavras. Há “bons” e
“maus” entre as pessoas, assim como há lados “bons” e “maus” em uma
mesma pessoa. Valem as aspas porque há valores e interesses que para
uns são “bons”, para outros “maus”. Além disso, na política, não se
trata só de pessoas, mas do que elas representam. Na vida pública o
objetivo não é somar os “bons” e alinhá-los contra os “maus”, em
confronto definitivo. Trata-se de organizar forças ao redor de ideias
e de interesses que, ainda que contraditórios em alguns pontos, possam
se compor e formar uma maioria para governar por um período
determinado de tempo em torno de objetivos claros que, se alcançados,
possam beneficiar o país. A candidata Marina, se vencer, será capaz de
tal proeza? Tomara, mas ainda é uma incógnita. Sem negar-lhe méritos
pessoais e políticos, é recente sua conversão a algumas das teses há
muito sustentadas pela oposição que não tem medo de dizer o seu nome.
Aécio representa esta oposição que vem junta há muitos anos. Sobre sua
capacidade de mobilizar e coordenar equipes técnicas, organizar e
liderar maiorias políticas, não cabe dúvida. Ele a demonstrou
reiteradas vezes como deputado federal, presidente da Câmara e
governador de Minas Gerais.
Enfim, escolheremos o caminho mais seguro ou, no embalo da velha
tradição personalista, embarcaremos na direção de mares nunca dantes
navegados? Embora a opção em causa seja diferente de outras que nos
levaram a impasses e desastres no passado, prefiro manter-me firme ao
lado de quem já passou por provas que o capacitam a governar com
grandeza, com competência e a obter os apoios necessários para tirar o
país do labirinto lulo-petista.
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