É possível que o presidente Michel Temer (PMDB), mesmo aos trancos e barrancos, consiga escapar e concluir seu mandato, operando, assim, a transição para as eleições de 2018. De todos os julgamentos, o pior já se livrou, no TSE. A próxima etapa está no Supremo Tribunal Federal, nas mãos do ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato. Mas tenho impressão que será uma batalha com vitória de antemão prevista: para o STF botar a cabeça de Temer na guilhotina o Congresso tem que autorizar.
Como o País vive um parlamentarismo branco – nunca se viu na história republicana um presidente com tamanha harmonia com o Congresso – deputados e senadores não avalizarão o Supremo. Mesmo, diga-se de passagem, que os argumentos de Fachin sejam robustos em provas. Com raríssimas exceções, os que integram Senado e Câmara, hoje, querem e torcem para que Michel Temer não apenas faça a transição, mas consiga aprovar as reformas necessárias.
O Brasil vive um parlamento de fato e não de direito pelos números: Temer nunca perdeu uma só votação importante na Câmara nem tampouco no Senado. Mas sabe por quê? Diferente de Dilma, sobra-lhe discernimento e jogo de cintura na relação com os parlamentares. Presidente da Câmara, Temer sabe como a Casa funciona e seu jogo é a ternura.
Ele próprio faz a ponte com deputados e senadores. Do seu celular, liga para todos. Seu gabinete, no quarto andar do Palácio do Planalto, não tem burocracia. Qualquer deputado ou senador que cruzar a Praça dos Três Poderes, mesmo sem audiência marcada, é recebido pelo presidente. Quer dois exemplos da relação de Temer com o Congresso?
Quando expulso do PDT por ter contrariado uma orientação partidária numa votação, o deputado pernambucano Carlos Eduardo Cadoca recebeu de imediato uma ligação do presidente, sem intermediação de secretária. O próprio Temer ligou do seu celular. Kaio Maniçoba, do partido de Temer, estava inclinado a votar contra o Governo numa medida provisória. Informado, o presidente ligou para ele e o convenceu a mudar o seu voto.
Dilma foi cassada porque não soube se relacionar com o Congresso. No mensalão, Lula evitou a abertura de vários pedidos de impeachment porque, a exemplo de Temer, sabia ternurar aliados. A ex-presidente não tratava mal apenas parlamentares. O ministro da Previdência, Garibaldi Alves, me revelou que nunca foi recebido por ela numa audiência formal. Ela despachava com Gabas, adjunto de Garibaldi, queridinho dela.
É por essas e outras que Temer, mesmo navegando num mar tenebroso, enfrentando turbulências que parecem não ter fim, não sofrerá impeachment. Na quadra atual, o mar não está para peixe, mas o presidente vai vencendo as fortes ondas de braçada, a braçada do parlamentarismo branco.
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