Presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que articula apoio em eventual eleição indireta
Folha de S. Paulo - Igor Gielow
Pesquisa feita pelo Datafolha com 311 dos 594 parlamentares aptos a votar em uma eleição indireta aponta que 61% deles não citam espontaneamente um candidato à Presidência para o caso de saída de Michel Temer (PMDB) do cargo.
Outros 15% rejeitaram falar sobre a hipótese, somando assim 76% de parlamentares sem candidato à mão.
Os dados dão materialidade à avaliação majoritária entre partidos que apoiam e combatem o presidente, que está sob forte pressão após ter sido atingido pela delação dos irmãos controladores da JBS: Temer tem resistido à crise porque não existe consenso sobre quem o substituiria até a eleição do ano que vem.
Para 47% dos ouvidos, Temer deveria deixar o cargo. Dessa parcela, 36% defendem renúncia, 34% cassação no Tribunal Superior Eleitoral e 6%, impeachment. Já 40% dizem que o peemedebista tem de ficar.
COLÉGIO ELEITORAL
No caso de o presidente, que era vice de Dilma Rousseff até o impeachment da petista em 2016, cair, a Constituição determina uma eleição indireta em Colégio Eleitoral.
Entre os parlamentares ouvidos, 9% citaram de forma espontânea o presidente da Câmara, Rodrigo Maia(foto) (DEM-RJ), como candidato favorito.
Com 2%, surgem o ex-ministro Nelson Jobim (PMDB) e os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seguidos por outros nomes com 1% ou menos. Lula não faz parte da bolsa de apostas e defende diretas.
O Datafolha ouviu 275 deputados (54% da Câmara) e 36 senadores (44% daquela Casa) entre terça (30) e sexta (2). O resultado não pode ser projetado para todo o Parlamento porque cada opinião é individual, diferentemente de amostragens em grupos maiores, quando o entrevistado emula características semelhantes de outros.
Quando apresentada uma lista de presidenciáveis indiretos, Maia seguiu à frente, com 13%. Jobim ficou com 7%, e FHC, o governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) e o senador Alvaro Dias (PV-PR) empataram com 5%.
O nome que vinha sendo defendido pelo PSDB para compor uma chapa indireta, o do senador Tasso Jereissati (CE), ficou com 4%. O deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e o ex-ministro do Supremo Carlos Ayres Brito somaram 3%, e o prefeito paulistano, João Doria (PSDB) obteve os mesmos 2% do ministro Gilmar Mendes (Supremo).
Um dado relevante das discussões em torno do nome de Maia é que ele não foi citado por nenhum senador como candidato, enquanto chegou a 15% dos seus companheiros de Casa ouvidos.
A força do presidente da Câmara é junto ao chamado baixo clero, o grupo de deputados sem expressão nacional que soma, segundo estimativas, talvez 70% da Casa, que tem 86% dos votos no Colégio Eleitoral. É ali que nomes articulados pelas cúpulas partidárias governistas, como Tasso ou Jobim, sofrem maior rejeição.
A ideia de adotar eleições diretas em caso da queda de Temer, o que pode ser feito por meio de uma emenda constitucional, divide os entrevistados.
Para 47% deles, isso não deveria ocorrer, enquanto 46% defendem a PEC das Diretas. Não souberam responder 4%, 3% se recusaram e 1% é indiferente.
REGRAS
No caso das indiretas, as regras do pleito têm de ser normatizadas pelo Congresso e submetidas à Justiça. Os parlamentares ouvidos defendem que o voto seja aberto (68% contra 24%).
Para 40%, tanto faz se o candidato for ou não membro do Congresso. Já 28% acham que o melhor seria o nome ser de fora, e 24% defendem o contrário. Oito por cento não se posicionaram.
Assim, o cenário descrito pelo Datafolha favorece Temer, cuja permanência terá um teste no julgamento da cassação da chapa na qual foi eleito, que começa na terça (6) no TSE. Entre aliados, a expectativa é de que ele possa ser absolvido, mas fatos novos da investigação da Lava Jato o envolvendo tornam o ambiente volátil.
METODOLOGIA
O Datafolha entrevistou 311 congressistas entre 30 de maio e 2 de junho, sendo 275 deputados e 36 senadores. Esses percentuais correspondem a 54% e 44% do total de cadeiras, respectivamente. O instituto considera inadequado projetar os resultados para o Congresso como um todo, já que cada entrevistado representa apenas a si próprio.
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