Emílio: Lula pedia doações ao PT, mas não tratava de valores. Empresário cita 'relação cerimoniosa' com o ex-presidente, que escalava Antonio Palocci como interlocutor da empreiteira para assuntos financeiros
O empresário Emílio Odebrecht, um dos delatores da Operação Lava Jato (//Reprodução)
Do site da Veja
Por João Pedroso de Campos
Presidente do conselho administrativo do grupo Odebrecht, Emílio Odebrecht falou ao juiz federal Sergio Moro nesta segunda-feira como testemunha de acusação em um dos processos que têm entre os réus o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O empresário confirmou ao magistrado que Lula lhe pedia ajuda financeira a campanhas do Partido dos Trabalhadores, “como todos os presidentes daqui do Brasil como do exterior”, mas pontuou que o petista não tratava de valores.
“Existia uma relação cerimoniosa, apesar da relação de confiança, que eu diria até de amizade por longa data que nos conhecíamos, não existia efetivamente algo onde a gente conversasse sobre valores. Tanto assim que ele indicava quem seria a pessoa dele e eu indicava quem seria a minha pessoa, para ver como nós ajudávamos”, afirmou Emílio Odebrecht.
O empresário relatou que o interlocutor escalado por Lula para negociar doações eleitorais oficiais e não oficiais com a Odebrecht era Antonio Palocci, enquanto encarregava para tratar com Palocci, em momentos distintos, os ex-presidentes do grupo Odebrecht Pedro Novis e Marcelo Odebrecht.
Quando a procuradora do Ministério Público Federal Isabel Cristina Groba Vieira o questionou a respeito da declaração de seu filho, Marcelo, de que havia disponibilizado 300 milhões de reais ao PT em caixa dois, Emílio Odebrecht ressaltou que não tratava de valores com o ex-presidente. “Tive conhecimento, Marcelo me trouxe pra eu informar o presidente Lula e eu não levei porque não levava números para ele. O que eu perguntava é ‘você e o interlocutor indicado pelo presidente acertaram? Vocês estão de acordo?’”, respondeu.
O empresário também negou conhecer a conta “amigo”, rubrica que o MPF atribui a Lula dentro da planilha “Italiano”, e relatou os termos em que conversava com Lula sobre a criação de uma entidade para preservar seu legado político.
“Eu sempre procurei, há muitos anos, dizer a ele, da mesma forma que eu tenho perante os meus executivos na organização, um trabalho sobre o “day after”. Ou seja: vocês, quando se aposentarem, precisam se preparar hoje para o dia de amanhã. A mesma coisa eu dizia ao presidente: ‘Presidente, o senhor precisa pensar no day after’. Aí surgiam conversas sobre instituto, sobre fundação, onde eu dizia a ele a experiência que existe, internacional, de vários presidentes”, disse Odebrecht.
O que pesa contra Lula
No processo em que Emílio Odebrecht depôs como testemunha, Lula é acusado pela força-tarefa da Lava Jato dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro por supostamente ter sido beneficiado com propinas da Odebrecht na compra de um terreno onde seria construído o Instituto Lula e na aquisição de uma cobertura vizinha à do ex-presidente no edifício Hill House, em São Bernardo do Campo.
Pelo prédio que abrigaria a entidade que leva o nome do ex-presidente, a DAG Construtora, espécie de “laranja” da empreiteira, pagou 12,4 milhões de reais. O imóvel acabou sendo descartado pelo petista. No caso do apartamento, Glaucos Costamarques, primo de José Carlos Bumlai, pecuarista e amigo de Lula, serviu como “laranja”.
O dinheiro teria sido desviado de obras como a terraplenagem do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), das refinarias Abreu e Lima, em Pernambuco, e Getúlio Vargas, no Paraná, além da construção de plataformas de perfuração e da montagem de um gasoduto.
Também são réus neste processo Antonio Palocci, Marcelo Odebrecht, o advogado do petista, Roberto Teixeira, o ex-assessor de Palocci, Branislav Kontic, o ex-executivo da Odebrecht Paulo Ricardo Baqueiro de Melo, o empresário Demerval Gusmão, dono da DAG Construtora, e Glaucos Costamarques. A ex-primeira-dama Marisa Letícia Lula da Silva, que também era ré e morreu em fevereiro, teve a culpabilidade extinta por Moro.
Outro lado
Por meio de nota, o advogado do ex-presidente Lula, Cristiano Zanin Martins, afirma que “os depoimentos prestados mostram, mais uma vez, o caráter irreal da acusação, pois o MPF tenta atribuir a Lula ou a pessoa a ele relacionada um imóvel que jamais solicitou ou recebeu. A audiência foi marcada pelo incentivo à exploração de opiniões e juízos de valor por parte das testemunhas, tornando inevitável à defesa lembrar ao Juízo a vedação legal para essa conduta, prevista no artigo 212 do Código de Processo Penal.
Na falta de qualquer prova sobre a acusação veiculada na denúncia, o MPF buscou introduzir questionamentos estranhos à ação penal e baseados em documentos ligados à delações que a defesa somente teve ciência no final da manhã e não teria como analisar até o início dos depoimentos coletados na parte da tarde. Buscou-se um espetáculo midiático com evidentes prejuízos à defesa, que não viu apreciado o seu pedido de suspensão da audiência formulado ao TRF4 ainda no final da manhã”.
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