Por Fernando Castilho
Agora que o PMDB de Pernambuco e mais os partidos de amigos fizeram um desagravo em nome do deputado Jarbas Vasconcelos reivindicando o direito dele continuar no comando da legenda no estado, cabem dois dedos de conversa sobre como foi que, com mais de 50 anos na liderança e comando da agremiação em Pernambuco, o experiente político não percebeu que, ao votar contra Michel Temer na ocasião da primeira denúncia proposta por Rodrigo Janot no Congresso, ele perdeu o comando local da agremiação.
Hoje, parece claro que Jarbas não entendeu os recados de Temer (que é o presidente nacional licenciado do partido) e, hoje, na presidência da República mandou o comunicado pelo seu lugar tenente, o senador Romero Jucá, quando disse que haveria punições.
Jarbas conhece Michel Temer melhor que Fernando Bezerra Coelho. Sabe de sua capacidade de articulação para comandar o partido por décadas e que Temer é aquele sujeito que na política de mesa de bar é chamado de “pelvelso”.
O problema é que Jarbas avaliou mal até que ponto esse índice de maldade poderia ir. Certamente apostando que por ter, inclusive, ajudado a formar o governo Temer em 2016, o velho comandante partidário não faria a desfeita de tomar-lhe o partido em Pernambuco. Mas, Temer fez. Fez e fará com todos os infiéis. Importa pouco que tenham histórico no PMDB confederado.
Neste debate sobre a figura de Jarbas como ícone da resistência democrática, o deputado que propôs a Constituinte e o possível “herdeiro” do comando do partido, segundo dizia Ulysses Guimaraes, é importante observar que Temer será candidato à reeleição em 2018. Se vai ser eleito, isso é com o povo. Mas, ele vai sair candidato.
Achar que Temer não será candidato é o mesmo que achar que Paulo Câmara não será candidato em 2018. Por que não seria? Afinal, está na cadeira, tem o partido e sua máquina.
E esse parece ser o fundamento do jogo que Jarbas não entendeu. Temer está organizando, pela primeira vez, o seu PMDB para ser cabeça de chapa. E, sendo assim, precisará montar os palanques nos estados. Porque, como se sabe, as eleições gerais no Brasil exigem que os partidos que, de fato, disputam o cargo, precisem ter de candidato à presidente até o deputado estadual com potencial de votação. É uma pirâmide. E é isso que faz os chamados partidos pequenos terem chances mínimas de emplacar uma candidatura com potencial. Porque não tem gente pedindo votos para presidente em todos os estados. Mas, o PMDB tem.
Ora, se Temer é candidato e está organizando sua estrutura de disputa nacionalmente por que, em Pernambuco, deixaria Jarbas no comando, quando até Michelzinho sabe que o objetivo de Jarbas é formar uma chapa com o PSB de Paulo Câmara? Por que deixaria ele fazer isso aqui? E o resto do País, faria o quê?
Talvez, Jarbas tenha se apegado à sua história para entender que o Temer, em nome dela, não passaria por cima de seus 50 anos de militância. Só que Temer passou e passará.
Será assim, não porque tem disponível na prateleira “FBC & filhos”, mas porque o senador petrolinense lhe dará um palanque forte aqui, não só contra Paulo, mas contra o adversário de Temer na disputa nacional, seja ele quem for.
Política, ensinam os especialistas, é conversa, traição e maldade. Acordo político tem prazo de validade: a próxima eleição. Nome e tradição só servem para dar brilho, mas não são fatores determinantes.
É importante observar isso. Talvez, Jarbas não tenha entendido quando Jucá lhe transmitiu o recado do chefe. Não percebeu que, estando a decisão tomada em nível presidencial, o máximo que poderia fazer era estender o tapete e apresentar FBC como o mais novo correligionário, ainda que o PSB de Paulo ficasse soltando brasa pelo fundo feito ferro antigo de engomar. Talvez, Jarbas não tenha percebido que já não tinha mais o comando por que ele tinha sido pago como artigo político a FBC em 2018.
Há poucas chances de Jarbas ficar com comando do PMDB de Pernambuco agora. FBC & filhos vão chegar feito noivo rico em casamento de conveniência em que o dote da virgem paga as dívidas da família e o genro assume, de fato, o comando dos negócios.
A menos que decida deixar o PMDB e construir uma nova família, Jarbas não tem outro caminho senão aceitar o fato – ainda que cuspa no prato do genro enquanto ele não chega na sala com sua filha.
Certamente, não será fácil para Jarbas, e nem para todos os que orbitam em seu entorno. Afinal, serviram a ele por décadas. Mas, o jogo está feito. Mesmo que seja muito difícil ir para a festa como convidado quando, um dia, foi o anfitrião
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