Se vivo fosse, o ex-deputado federal José Mendonça Bezerra (DEM), a “Baraúna do Agreste” no batismo político, faria, hoje, 81 anos. Mas Deus se encarregou de encurtar sua missão na terra e o chamou em 24 de abril de 2011, aos 75 anos. Foi de repente, mais que de repente, como diria o poeta. Quinze dias antes, no restaurante Bargaço, em Boa Viagem, tive o privilégio de beber da sua sabedoria num papo molhado com vinho francês branco, uma das bebidas da sua preferência para embalar e emocionar o papo.
Mendonção foi um dos políticos mais sagazes que conheci. Não era de exposição midiática. Os bastidores eram o seu mundo. Articulador nato, levou Jarbas Vasconcelos, um dos então mitos da esquerda pernambucana, a fazer a travessia para o campo da direita e nesta aliança conquistar o Governo do Estado, derrotando o ex-governador Miguel Arraes por uma frente superior a 1 milhão de votos. Foi de Arraes a célebre frase de que Jarbas havia entrado no caminho da perdição.
O velho mito se referia à aliança de Jarbas com Marco Maciel, Roberto Magalhães, Joaquim Francisco e Gustavo Krause, costurada, pacientemente, por Mendonção. A marca Grupo Mendonça nasceu no Estado quando o velho cacique fez do seu filho, o hoje ministro da Educação, Mendonça Filho, seu sucessor, elegendo, também, o genro Augusto Coutinho, primeiro deputado estadual, depois federal, além do prefeito de Belo Jardim, sua terra natal, João Mendonça.
Embora polêmico, criticado também pela sua faceta truculenta, porque jogava duro com inimigos e adversários, Mendonção era um político extremamente carismático, bem relacionado, audacioso e amigo dos amigos. Quando dócil, era um grande sedutor, tão sedutor que conquistou o duro coração de Jarbas, visto por muitos como carrancudo e de poucas palavras no trato.
Fora da política, o velho era um "Bon vivant", gostava de receber amigos na sua fazenda, em Belo Jardim, ou na sua casa de praia, no litoral sul pernambucano. De gosto refinado, não podia ver aberta uma porta de avião que o levasse para cruzeiros pelo mundo afora. O que mais atraia nele, entretanto, era a aguçada memória e o seu talento para contar causos do folclore político.
Mendonção, por fim, tinha mais virtudes do que defeitos. Entre as virtudes, a de ser um político de lado, que nunca mudou de partido e nunca deixou de assumir sua postura conservadora de direita. Morreu sem realizar um velho sonho: de encerrar a sua carreira política como prefeito de sua terra, onde foi sepultado com honras de grande chefe de Estado.
Por Magno Martins
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