Por Josias de Souza
Um
cacique do pedaço do PMDB ainda leal ao governo diz que ficou muito
fácil reconhecer em qualquer roda um político da coligação encabeçada
por Dilma Rousseff. É o que estiver falando mal de Dilma, ele explica.
As críticas aumentam na proporção direta da elevação do risco de
derrota.
Por enquanto, o burburinho
soa apenas atrás das portas. Na pior hipótese, Dilma terá tinta na
caneta até 31 de dezembro, explica um membro do diretório nacional do
PT. Mas, confirmando-se a derrota, petistas e aliados culparão Dilma
quando puderem falar sobre 2014 sem medo de perder cargos, verbas e
privilégios.
Levada no embrulho do
desejo de mudança que as pesquisas farejam, Dilma é bombardeada até por
seu estilo. Tornou-se mais difícil encontrar um apologista da presidente
disposto a repetir a teoria da “firmeza” —aquela segundo a qual Dilma
lida mal com questionamentos porque tem convicções sólidas.
No atacado, seus críticos a
acusam de autossuficiência, teimosia e inépcia. Ela só chama os
partidos que a apoiam para conversar na hora que o calo lhe aperta,
afirma um senador governista. A conversa não flui, ele realça. O diálogo
só é considerado bom quando ela obriga o interlocutor a calar a boca.
O senador resume: os
empresários não confiam na Dilma, os políticos a detestam e os ministros
têm medo dela. Quem desconfia não investe. Quem odeia não faz campanha.
E quem teme só diz ‘sim senhora’! Como resultado, tem-se a combinação
de PIB baixo com inflação alta, desânimo político e inação.
Curiosamente, os
governistas isentam Lula de responsabilidade. Foi graças ao apoio dele
que Dilma amanheceu um belo dia presidente. Mas os críticos da afilhada
alegam que ela está em apuros porque fez ouvidos moucos para os pitacos
do padrinho. Nessa versão, Lula engrossa, em privado, a sinfonia de
críticas.
Confirmando-se o pior,
Dilma será apresentada à adaptação de um velho axioma da política.
Diz-se que a vitória tem muitos pais, mas a derrota é órfã. No caso de
Dilma, o eventual insucesso virá acompanhado de uma subversão da máxima.
Confirmando-se o pior — ou melhor, conforme o ponto de vista — Dilma
será vista por seus pseudo-apoiadores como pai e mãe da própria derrota.
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