Jornal do Commércio
Nocauteado por escândalos de corrupção, o PT de Lula e de Dilma Rousseff está prestes a cair,
de forma traumática, depois de 13 anos no poder.
Um inesperado fim de governo para um partido que nasceu das mãos do carismático líder
sindical Luiz Inácio Lula da Silva nas greves do ABC Paulista, no final dos anos 1980, e se tornou,
pouco depois, promessa de mudança.
Agora, o partido deverá traçar uma estratégia clara, se quiser voltar para o jogo em 2018.
"O PT perdeu o apoio da imprensa, da opinião pública, da classe média ilustrada", destacou o
professor de Ciência Política Adriano Codato, da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Dilma foi a primeira mulher a se tornar presidente do país, com o legado positivo de Lula: um
apoio popular de mais de 80% e uma economia pujante, que tirou 40 milhões de brasileiros da
miséria.
Nesta quinta (25), o Senado inicia a votação para decidir se a presidente, afastada do poder, será
destituída pelas acusações das chamadas pedaladas fiscais, uma prática frequente em outros
governos.
Ninguém duvida de que o "Fora Dilma" que ecoou nas ruas será realidade em breve.
Entre 58 e 61 senadores estão dispostos a votar contra a presidente, segundo pesquisas
recentes. O total passa com folga dos dois terços necessários.
O "boom" econômico do Brasil, motor de crescimento para a região, começou a desmoronar no
primeiro governo Dilma. Agora, o país está mergulhado em uma recessão profunda, com um
desemprego que afeta mais de 11 milhões de pessoas, uma inflação disparada e um escândalo
de corrupção que está abalando toda a classe política.
Muitos criticam que Dilma, de 68, não soube fazer nem a autocrítica nem as reformas
necessárias para sair da crise e que há tempos perdeu contato com suas bases e com a
sociedade brasileira.
Para emblemáticos seguidores do PT, tudo isso foi uma estratégia para tirar o partido do poder.
José Eduardo Cardozo, ex-ministro da Justiça do governo Dilma, defendeu que há uma clara
"tentativa de demonizar o PT".
Estratégia para voltar
Dilma insiste em que é "inocente", vítima de "um golpe de Estado",
orquestrado por seu ex-vice, Michel Temer (PMDB-SP). Se for destituída,
Temer assume a Presidência de forma definitiva e permanece no cargo
até 2018.
Transformado em partido de oposição, o PT deverá desenhar uma
estratégia, se quiser recuperar o poder nas eleições gerais de 2018.
"O futuro do PT dependerá do que fará depois das eleições municipais
de outubro", declarou à AFP Tarso Genro, ex-ministro de Lula e figura
política emblemática do Rio Grande do Sul.
Genro é um dos poucos a falar em uma "refundação do partido". É que
sua formação "ficou devastada pelo pragmatismo e pelas alianças",
critica.
Codato adverte, porém, que as eleições municipais vão refletir,
provavelmente, um ressurgimento de uma onda conservadora, em
reação ao desencanto com o PT.
Veremos um "forte crescimento dos pequenos partidos evangélicos de
direita", antecipou.
As classes populares, grandes beneficiárias dos programas sociais como
o Bolsa Família, "provavelmente votarão a favor do PT".
"De qualquer maneira, os escândalos de corrupção e a recessão
econômica dão uma imagem negativa do PT", avalia o professor
Maurício Santoro, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
Além disso, pode soar contraditório que o partido se alie com seus
arqui-inimigos nas municipais.
"O PT diz que o impeachment é um golpe de Estado, mas em mil (de
mais de 5.000 municípios) vai-se aliar a partidos que apoiam a
destituição (de Dilma). Isso vai custar caro", completa.
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