Folha de S. Paulo – Estelita Hass Carazzai, Felipe Bächtold e Ana Luiza Albuquerque
O lobista Jorge Luz, preso na Operação Lava Jato, admitiu nesta quarta (19) que fez pagamentos de propina a políticos do PMDB, incluindo o senador Renan Calheiros (AL), o senador Jader Barbalho (PA) e o deputado federal Aníbal Gomes (CE).
Os três políticos teriam participado de um acerto para apoiar, via partido, a permanência dos diretores da Petrobras Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveró, em troca de R$ 11,5 milhões em propina, segundo o lobista.
As declarações foram dadas ao juiz Sergio Moro, na Justiça Federal do Paraná, durante interrogatório numa ação a que Luz responde sob acusação de corrupção e lavagem de dinheiro.
O lobista, que tem 73 anos e está preso há cinco meses, disse que usava uma conta chamada Headliner, na Suíça, para transferir valores ao PMDB.
"Eu passei a ser um intermediário. O Aníbal me passava a relação das contas", afirmou.
O lobista citou ainda o ex-ministro de Minas e Energia Silas Rondeau, também do PMDB.
Segundo ele, os R$ 11,5 milhões foram pagos em parcelas, e transferidos a contas no exterior indicadas pelo deputado.
Luz, engenheiro com bom trânsito na política, já foi considerado por investigadores como "o operador dos operadores".
Na audiência, ele afirmou que conhecia Renan desde 1989, e Jader, desde 1983.
"Eu fiz esse link [entre a Petrobras e o PMDB]", afirmou, nesta quarta (19).
O engenheiro ainda declarou que os contratos para construção e exploração de sondas, alvos da denúncia a que responde na Justiça, foram transferidos da diretoria de Exploração e Produção para a Internacional -sob o comando de Cerveró- para "facilitar todos esses entendimentos".
"Por que essas plataformas foram contratadas na diretoria Internacional, quando tradicionalmente contratariam na Exploração e Produção? Pelo tipo de diretor que tinha lá. Mais caxias, mais difícil", disse.
Segundo Luz, houve uma reunião de agradecimento em que Jader, disse, o elogiou por "cumprir seu papel".
Ele disse que houve pagamento para políticos nas negociações envolvendo a contratação do navio Victoria 10.000 pela Petrobras, que também motivou outras ações penais da Lava Jato. A operação era de responsabilidade do grupo Schahin.
Luz está detido desde fevereiro, quando também foi preso o filho dele Bruno.
Os dois não são delatores, mas decidiram dar detalhes de negociações à Justiça.
"Já há algum tempo eu gostaria de ter feito isso porque uma pessoa velha como eu não consegue mentir porque não tem mais memória. Não consegue fugir das pessoas que fazem qualquer coisa porque não tem mais pernas."
Bruno Luz, que também depôs nesta quarta (19) e auxiliava o pai na operação das contas no exterior, disse ao juiz que não sabia da origem ilícita dos valores.
"Meu pai sempre foi um empreendedor, montou vários negócios. Eu não partia do princípio que seria algo ilícito. Eu simplesmente seguia as instruções dele", afirmou. "Na posição de filho, eu ficava até um pouco constrangido [de questioná-lo]."
Bruno disse que sua atribuição eram tarefas burocráticas, como realização de transferências bancárias e organização de documentos, e que nunca negociou acertos com políticos ou funcionários da Petrobras.
Luz, o pai, afirmou que tinha contas no exterior desde a década de 1970, e que nunca as declarou por "questões culturais".
"Antigamente, não precisava se declarar as contas. Eu vinha desse hábito. E, como era muito cômodo, não pagava imposto, eu não fiz", afirmou.
OUTROS DEPOIMENTOS
Também falou ao juiz Sergio Moro Agosthilde Mônaco de Carvalho, ex-funcionário da área Internacional da Petrobras. Carvalho é acusado de ter recebido propina em contratos de navios-sonda da estatal. Ele nega, entretanto, que tenha participado "de alguma coisa referente à contratação de sondas". Negou, ainda, conhecer Bruno Luz e disse que foi somente apresentado a Jorge Luz, com quem afirma não ter conversado.
Ex-assessor de Cerveró, o engenheiro fechou acordo de delação premiada em novembro de 2015, no qual detalhou o recebimento da propina para viabilizar a compra da refinaria de Pasadena, nos EUA.
OUTRO LADO
Os políticos não são réus na ação. Os congressistas só podem ser julgados pelo Supremo Tribunal Federal devido ao foro privilegiado.
Renan, por meio de sua assessoria, disse que conheceu Jorge Luz mais de 20 anos atrás e desde então nunca mais o encontrou ou falou com.ele.
Diz ainda que não conhece nenhum dos seus filhos.
"Há 20 dias, o senador prestou depoimento ao juiz Sergio Moro como testemunha de Luz e reafirmou que a citação a seu nome é totalmente infundada."
Em nota, o senador Jader Barbalho admitiu que conhece Luz, mas disse que nunca teve contas na Suíça e que as declarações do lobista são dignas "de criminoso e devem ser investigadas pela Justiça".
Ele nega que tenha mantido qualquer tipo de negócio com o operador.
A Folha não conseguiu contato com o deputado Aníbal Gomes nesta quarta (19).
Nenhum comentário:
Postar um comentário