Carlos Brickmann
Um dos sintomas universais de crise é a epidemia de discursos de quem tem por obrigação manter-se calado. Juiz, ensina a tradição de nosso Direito, deve falar apenas nos autos. Aqui todos seguem este princípio: falam nos autos sempre que os repórteres enfiam os microfones pela janela, e só param de falar quando o motorista enfim pisa no acelerador.
Generais devem falar nas ordens do dia, e até isso muitas vezes é perigoso; aqui, estão dando entrevista. E, como o general Sérgio Etchegoyen, de primoroso currículo, respeitado dentro e fora do Exército, falam da participação militar na segurança pública.
Com um detalhe: ele sentado e o ministro da Defesa atrás, de pé, na condição de papagaio de pirata.
Vazamentos de informação de documentos usados como prova na Justiça têm fontes conhecidas: promotores interessados em punir futuros réus destruindo sua imagem pública, antes mesmo que sejam levados a julgamento. A técnica (a propósito, fora do bom procedimento legal) foi usada na Itália, na Operação Mãos Limpas. E é usada há muito tempo no Brasil, alegando-se informalmente que se não for assim os acusados, “que têm dinheiro para contratar bons advogados”, escaparão ilesos após cometer ilegalidades. Elogia-se quem contrata um bom médico, um bom arquiteto, mas quem contrata um bom advogado – hummmm, aí tem!
Mudos estão falando. E quando os mudos falam a democracia se cala.
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