terça-feira, 17 de abril de 2012

Tuparetama

Hesdras Souto
hesdrassouto@gmail.com

Tuparetama, cidade encravada no Sertão do Pajéu, completou 50 anos de emancipação política. Uma festa foi programada para encher de olhos míopes a maioria dos tuparetamenses que, em vez da arte e a da boa música, assistirá a um espetáculo de mau gosto ao som dos acordes chulos da banda de pornô-music Garota Safada e axé music. Segundo os organizadores do "espetáculo", uma programação para "todos os gostos" foi elaborada. Mas a organização sequer se esforçou para trazer alguma atração que seja atemporal e pautada no mais fino gosto musical. Nos últimos anos, Tuparetama tem provido uma massificação das músicas relâmpagos de uma ou duas estrofes. A organização pecou ainda em não escolher quem faz parte dos 50 anos da cidade. Começando pelos primeiros habitantes-fundadores da Tuparetama, o coronel Manoel Benedito e sua companheira a negra Manoela, como é conhecida, que infelizmente não serão lembrados. Após Tuparetama se desmembrar de Tabira e tornar-se cidade, o grupo responsável pela independência da Vila de Bom Jesus, primeiro nome do município, festejou após incansável luta. Severino Souto de Siqueira, Otton Leite e outros poucos foram os seus condutores. Severino Souto de Siqueira acabou sendo o primeiro prefeito eleito pelo povo de Tuparetama. Sua luta pela independência da cidade até suas primeiras obras são suas marcas. O primeiro e melhor calçamento da cidade também foi concretizado, literalmente, em sua gestão. Hoje, nas vésperas do cinquentenário, o primeiro prefeito eleito não terá seu devido reconhecimento, porque interesses familiares sobrepujaram a história e os fatos.
Uma Vergonha! O atual prefeito da cidade é filho de um homem que também estava envolvido, e também merece uma homenagem, no processo de emancipação de Tuparetama. Este homem acabou sendo nomeado temporariamente a prefeito pelos envolvidos no processo, enquanto os documentos eram feitos para puxar uma eleição democrática. O mais engraçado será a fixação de um busto do primeiro prefeito, não o prefeito eleito democraticamente pelos cidadãos, mas o prefeito nomeado temporariamente. Talvez isso seja uma atitude de alguém que, inconsciente ou não, gosta de se auto-homenagear, sempre que se vê no reflexo do pai. Mas deixamos isso de lado, a história é um profeta com os olhos voltados para traz e nada foge ao seu julgamento. Ela sempre guardará no seu panteão um lugar especial para os grandes homens probos, como Severino Souto de Siqueira e tantos outros.

Hesdras Souto é cientista social e pesquisador pela UFRPE

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