Carlos Chagas
Acima e além das gravações de grosseiros diálogos do ex-presidente Lula com metade do governo, inclusive a presidente Dilma; superior à guerrinha suja entre Judiciário, Executivo e Legislativo; mais explosivo até do que o clima verificado na Praça dos Três Poderes, esta semana – chama a atenção um perigoso sintoma envolvendo as instituições.
Depois da presença no país inteiro de seis milhões de brasileiros indignados com o governo, domingo passado, dois dias depois, na terça-feira, assistimos aglomerados populares insurgindo-se nas ruas contra os mesmos responsáveis pela baderna nacional. Diante do Palácio do Planalto, do Congresso e do Supremo Tribunal Federal, em Brasília, além de grupos em outras cidades, o povo entendeu de seguir protestando. “Fora Dilma!” só não teve maior agressividade do que “Fora Lula!” Interpretando: fica difícil para as autoridades constituídas evitar a voz rouca das ruas. A escalada é trágica, se prosseguir nesse diapasão.
Não faz muito tempo que o Comandante do Exército, general Villasboas, numa entrevista nem tão amena assim, declarou haver apenas uma hipótese de os militares saírem dos quartéis: o tumulto ganhar as ruas. Quer dizer, assaltos a supermercados, depredações maciças de patrimônio público, desmoralização da autoridade e similares.
As imagens do povo demonstrando sua profunda irritação não deixam dúvidas, duas noites atrás. Dessa vez, ainda que em número bem menor, mais se pode aferir o esgotamento dos cidadãos comuns. Não foi diante do fracasso dos transportes de massa nem da falta de água, leite ou energia. Muito mais grave é perceber a explosão coletiva atingindo pessoas, governantes, parlamentares e categorias enredadas em atos de corrupção e incompetência. As manifestações atingem mais do que a falta de gêneros ou necessidades pessoais. Vão diretamente sobre carências éticas e morais, ou seja, visam maus e desmoralizados administradores.
Apesar de um reingresso infeliz nos domínios do poder, teria o Lula condições de dar a volta por cima, ou, como virou moda dizer agora, dar um cavalo de pau na viatura? Pode ser que sim. Experiência não lhe falta. No entanto, além de vir a ocupar um lugar subalterno no governo, chega sob a suspeição de enriquecimento ilícito e debaixo de maciça oposição, além de estar obrigado a enfrentar as piores crises econômicas e políticas de nossa História. Precisará carregar nas costas a presidente Dilma, anda por quase três anos.
De qualquer forma, é bom prestar atenção. Agora, também, para a voz das ruas.
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