Igor Gielow - Folha de S.Paulo
Na quinta (31), após mais um uso de bens públicos para a adulação ritual da presidente emérita, o ministro Edinho Silva empregou tons sombrios ao falar da radicalização política no país –um dos legados permanente da era PT.
Disse o petista: "Vamos baixar o tom ou vamos esperar o primeiro cadáver?". Menos de 24 horas depois, a Lava Jato, sempre ela, tratou de pagar a clarividência de Edinho com fel, trazendo à costa o corpo insepulto do nebuloso preâmbulo dos anos do PT no poder:o caso Santo André.
A volta à baila dos nomes de Celso Daniel, Ronan Maria Pinto, Delúbio Soares e Silvinho Pereira tem um gosto einsteiniano: o passado, o presente e o futuro soam como uma única história, da propina do ônibus ao petrolão, passando pelo mensalão. Apenas a gravidade, que ora joga o projeto de poder petista ao chão, distorce e simula um círculo narrativo.
O cadáver de fato, Daniel, se insinuou antes do mártir das ruas. Simbolicamente, é sua sombra que se projeta sobre o muito mais complexo esquema Schahin. As traficâncias evoluíram, mas a constante a ser assombrada por suas exumações se chama Luiz Inácio Lula da Silva.
Recado entendido, Lula deve apressar a erosão da máquina pública em nome da prorrogação da agonia de Dilma Rousseff, esbarrando na conveniência eleitoral dos velhos-novos aliados: Dnocs é ótimo para a fisiologia municipal, mas quem quer estar com o PT em outubro?
O processo é sórdido. Só a ideia de um segundo loteamento da Saúde em seis meses em troca de uma dúzia de votos, tornando a pasta depósito de indizíveis úteis em meio a emergências sanitárias, é o que pode de fato ser chamado de golpe.
O agora ex-petista Delcídio do Amaral, teria dito certa vez a Lula que o PT deixa seus "cadáveres em covas rasas". Quase todo império tem corpos em suas fundações. Alguns deles, no ocaso das eras, se materializam como epitáfios.
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