Bernardo Mello Franco - Folha de S.Paulo
Ao anunciar a criação do PSD, Gilberto Kassab informou que o partido não seria "nem de direita, nem de esquerda, nem de centro". Parecia piada, mas era uma declaração de princípios -ou da total ausência deles. Desde que registrou a sigla, o ex-prefeito fornece apoio a todo tipo de candidato, sem distinguir ideologia ou cor da camisa.
Em 2012, ele se aliou ao tucano José Serra na eleição paulistana. Em 2014, abraçou a petista Dilma Rousseff na corrida presidencial. Fracassou ao tentar uma cadeira no Senado, mas foi recompensado com um cargo mais valioso: o Ministério das Cidades, que controla repasses para obras de saneamento e habitação.
O ex-prefeito não se contentou em comandar um orçamento bilionário e voar nos jatinhos da FAB. No início do novo governo, apresentou ao Planalto o projeto de criar mais uma legenda amorfa. A ideia encantou o ministro Aloizio Mercadante, que pontificava como o principal articulador político da presidente. Assim nasceria o novo PL, com a missão de filiar o maior número possível de parlamentares e esvaziar o velho PMDB.
O sonho durou pouco. A dupla Michel Temer e Eduardo Cunha farejou o risco e aprovou mudanças na lei eleitoral, abatendo o avião de Kassab antes da decolagem. O episódio desgastou Dilma com o maior partido do Congresso e deu um pretexto para o vice-presidente e o chefe da Câmara tramarem sua derrubada.
Enquanto o impeachment avançava, o ministro se reaproximou discretamente dos políticos que havia tentado sabotar. A poucos dias da votação decisiva, perguntei a um antigo aliado de Temer como ele se comportaria. "O Kassab? Este vai ser o último a trair", respondeu o peemedebista.
O dono do PSD pediu demissão na noite de sexta (15). No domingo (17), seu partido deu 29 votos "sim" e garantiu a aprovação do impeachment na Câmara. No feriadão de Tiradentes, o ex-prefeito foi visto no Palácio do Jaburu, onde o vice negocia a distribuição de cargos no futuro governo.
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