Maia mantém canhão apontado para Temer visando cacifar DEM em 2018
Igor Gielow – Folha de S.Paulo
Um dos mais curiosos subprodutos da debacle do petismo no poder federal foi a ressurreição do DEM, ex-PFL, ex-Arena, aí desde sempre, como se diz.
Lula empenhou-se pessoalmente em destruir a sigla, em especial nos seus ninhos nordestinos. Logrou sucesso, particularmente na Bahia que substituiu o carlismo pelo lulismo durante os anos PT no poder, garantindo margens eleitorais que foram vitais, por exemplo, a Dilma Rousseff em suas duas eleições. Viu o arquirrival Jorge Bornhausen sair da vida partidária em 2010.
Esses dias acabaram com o fim da era Lula, inagurada em 2003. Temos a montanha-russa de Michel Temer (PMDB) como capítulo final dessa história, legado transitório no qual o fenômeno do ressurgimento pefelista, digo, democrata se deu.
Foi quase um acaso da burocracia. Rodrigo Maia (RJ), deputado de estatura política mediana e muito criticado pelos cardeais de seu meio, herdou a cadeira na esteira da queda de Eduardo Cunha em 2016. Operou com habilidade e a manteve em 2017, quando outro meteoro lhe favoreceu em maio: a delação agora contestada da JBS contra Temer.
Do dia para a noite, Maia virou ator cortejado, porque a lei o colocaria na Presidência no caso de Temer cair -por até 180 dias, se o presidente fosse afastado para ser processado, ou por um mês, na hipótese de ele renunciar ou ser impedido.
Naquele mar de nulidades que é o Congresso, Maia saiu-se como um Maquiavel. Alimentou um processo de tentativa de engorda do DEM a partir da cisão do PSB, só para ver o Planalto agir contra seus interesses -bancadas robustas serão vitais em tempos de financiamento curto e regras limitadoras.
Apesar de Temer ter todas as condições de manter-se no cargo, mesmo ainda mais diminuído, o episódio em que o democrata ameaçou o presidente vai ressoar por um bom tempo. Recapitulando, o advogado de Temer criticou a Câmara por divulgar vídeos da delação do doleiro Lúcio Funaro em que o presidente é acusado de tantos outros malfeitos. Maia foi no pescoço do sujeito, mas mirando o Planalto, e disse que a partir de agora iria agir apenas institucionalmente.
Noves fora o absurdo da frase, na qual Maia se autoincrimina de ter agido de forma não institucional antes, ficou o canhão apontado para Temer, ainda que não interesse a quase ninguém no campo governista a queda de Temer a essa altura do campeonato. Todos dizem que está tudo resolvido, que foi um mal-entendido, mas as trincas estão evidentes.
Objetivamente, tudo isso tem a ver com manter a aura de poder desproporcional que o DEM ostenta hoje. O partido de Maia continua sendo uma força mediana no Congresso, com 29 deputados e 4 senadores. A sigla ora diz que apoiaria Geraldo Alckmin (PSDB-SP) à Presidência, ora o prefeito paulistano, João Doria (PSDB). Dado momento, defende candidatura própria, soprando o nome de Doria só para afirmar que quis dizer Luciano Huck.
É um jogo conhecido. Na prática, o que interessa mesmo ao DEM é garantir a vice numa chapa majoritária de centro-direita, preferencialmente do PSDB, mas nunca diga nunca quando se fala em um quadro pulverizado. Um voo solo, exceto que o chiste Huck virasse realidade, soa como uma improbabilidade.
Bons palanques estaduais, seja na cabeça (Bahia, Rio) ou na vice (São Paulo), estão na mira. Maia fala grosso, mas quem tem voto no seu partido se chama ACM Neto, prefeito de Salvador que deverá reconquistar o território de seu avô na disputa estadual e, fazendo isso, ser fiel da balança para qualquer candidato que não seja do PT ao Planalto em todo o Nordeste.
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