Bernardo Mello Franco – Folha de S.Paulo
O governo não esperou uma semana para cometer a primeira trapalhada do ano. Em pleno recesso, o Planalto conseguiu abrir uma crise no Ministério do Trabalho. O caso comprova a vocação de Michel Temer para escalar as pessoas erradas nos lugares errados.
Ao tomar posse, o presidente transformou a pasta em feudo do PTB, o partido de Roberto Jefferson. Sua primeira escolha foi Ronaldo Nogueira, um obediente deputado e pastor evangélico. Ele se notabilizou ao editar a portaria que afrouxou a repressão ao trabalho escravo.
Investigado pela Controladoria-Geral da União, o pastor aproveitou as festas de fim de ano para sair à francesa. O PTB indicou um deputado do Maranhão para substituí-lo. Faltou pedir a bênção de José Sarney. Aos 87 anos, o imortal mostrou que ainda manda e vetou a escolha.
Sem força para contrariá-lo, Temer teve que engolir o veto. Chamou Jefferson e ofereceu o cargo à sua filha Cristiane Brasil. Mais um erro. O presidente se tornou refém do ex-deputado, que chorou e proclamou o "resgate" da família. Sete dias depois, a herdeira virou saco de pancadas e corre o risco de não tomar posse.
A deputada já havia sido delatada pela Odebrecht, sob acusação de receber R$ 200 mil em caixa dois. Agora sabe-se que ela também foi condenada pela Justiça Trabalhista por não respeitar direitos básicos de um empregado. É como se o governo tivesse escolhido um devastador de florestas para o Ministério do Meio Ambiente.
A liminar que suspendeu a nomeação é questionável. Mais uma vez, o Judiciário driblou a separação de Poderes ao anular um ato do Executivo. Mesmo assim, o governo poderia encurtar a crise se tivesse feito o dever de casa: examinar a ficha da escolhida antes de publicar sua nomeação no "Diário Oficial".
No mínimo, isso evitaria o vexame desta terça. Na hora marcada para a posse, servidores recolhiam cadeiras e explicavam aos convidados que a cerimônia estava cancelada.
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