Bernardo Mello Franco - Folha de S.Paulo
Nem toda unanimidade é burra. Por seis votos a zero, o Supremo Tribunal Federal formou ontem a maioria necessária para enviar Eduardo Cunha ao banco dos réus. O deputado será processado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no escândalo da Petrobras.
Foi a segunda derrota do correntista suíço em menos de 24 horas. Na madrugada de quarta, o Conselho de Ética da Câmara finalmente aprovou a abertura do processo para cassá-lo por quebra de decoro parlamentar.
O voto do ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no STF, foi devastador. Ele apontou indícios "robustos", "variados" e "seguros" da participação do deputado no que chamou de "engrenagem espúria" do petrolão. Os outros cinco ministros que votaram ontem também aceitaram a denúncia. Cunha perdeu de goleada para o procurador Rodrigo Janot.
O julgamento foi interrompido por causa da ausência dos ministros Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Luiz Fux. Coincidentemente, a tropa do deputado contava com os votos dos três. Mendes e Toffoli saíram mais cedo, sem que suas agendas registrassem qualquer compromisso externo. Fux está em Portugal. Cunha ficou só.
A decisão do Supremo ajudou a formar outra unanimidade contra o peemedebista. Na Câmara, líderes de partidos rivais, como PT e PSDB, superaram as divergências para cobrar sua saída da presidência da Casa.
"É um grave constrangimento o que estamos vivendo", disse o tucano Antonio Imbassahy. "Ele não tem nenhuma condição de continuar presidindo", reforçou o petista Henrique Fontana. Há poucos meses, os dois partidos competiam pela simpatia do peemedebista. Agora resolveram se unir para defender sua derrubada.
Cunha ainda não caiu, mas nunca esteve tão isolado. Ontem ele só foi defendido por figuras como o deputado Laerte Bessa, da bancada da bala, que já pregou o aborto de fetos com "tendências criminosas". Ele não explicou se a ideia incluía bebês com vocação para a corrupção.
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