Por Luciano Siqueira, vice-prefeito do Recife
No espectro político, o centro se comporta em qualquer lugar do mundo como no Brasil: alia-se com a esquerda ou com a direita conforme a direção do vento.
É o que se materializa com clareza cristalina do comportamento de uma parcela expressiva de parlamentares, na Câmara e no Senado, no processo de impeachment e, sobretudo agora, na montagem do governo interino de Michel Temer.
Como bem observar o engenheiro Lúcio Monteiro, velho militante pernambucano, com a possível assunção de Pedro Parente a presidência da Petrobras, por exemplo, dentre outros, Temer recompõe rapidamente o elenco de quadros de inspiração neoliberal que ocuparam postos chaves no governo na chamada Era FHC.
– Um trânsfuga, esse Temer, protesta um amigo no Facebook, referindo-se ao fato de que o vice-presidente avalizara o programa de governo da Dilma em duas eleições sucessivas. – Como agora nega tudo e promove a toque de caixa um retorno ao passado que havia sido sepultado nas urnas desde 2002?
Errado.
O vampiresco – como o têm caracterizado chargistas – presidente em exercício, na verdade jamais adotou as concepções nacional-desenvolvimentistas, que Ulysses Guimarães e outros peemedebistas históricos defenderam. Apenas fizera uso da proeminência que sempre exerceu no PMDB na última quadra para representar a sigla na composição com o PT, a despeito da sua não adesão ao programa de governo.
Assim, não é propriamente um trânsfuga (expressão que prefiro não usar), como podem ser caracterizados os senadores Cristóvão Buarque e Marta Suplicy, por exemplo, que realmente mudaram de lado.
Temer, não. Permanece onde sempre procurou estar, no governo.
Daí a desenvoltura com o que se empenha agora em desfazer a obra construída nos dois governos Lula e no primeiro governo Dilma, retomando em plenitude o figurino neoliberal.
Quanto a isso, não cabe lamentações nem críticas de ordem moralista.
Cabe debate de ideias, a crítica consistente, desvendando as verdadeiras intenções do governo interino.
A luta política tende a se acirrar tendo como cerne os rumos da nação e dando conteúdo à votação definitiva do impeachment no Senado; às eleições municipais — que embora locais, pesarão na correlação de forças em plano nacional — e ao próximo pleito presidencial.
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