Ricardo Noblat
Eduardo Cunha, o todo poderoso presidente da Câmara dos Deputados, o dono de uma bancada que ajudou a eleger por meio de milionárias ajudas, o algoz da presidente afastada Dilma Rousseff, aquele que há menos de dois anos sonhou em ser candidato do seu partido à presidência da República em 2018, esse Eduardo Cunha morreu ontem com a eleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) para completar seu mandato até 31 de janeiro próximo.
Acabou-se uma curta, mas frenética e atribulada Era que marcará para sempre a Câmara como instituição e que naturalmente entrará para a História.
Ninguém comandou a Câmara com mão tão pesada como a de Cunha. Ninguém como ele teve a quase totalidade dos partidos aos seus pés. Ninguém demonstrou tamanha coragem, afoiteza e disposição para enfrentar seus desafetos e impor sua vontade. E ninguém como ele foi tão rapidamente do céu ao inferno.
Hoje, a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara se reunirá mais uma vez para votar o parecer do Conselho de Ética que recomenda a cassação do mandato de deputado de Cunha por quebra de decoro.
Ele mentiu aos seus pares quando disse que não tinha contas no exterior. Há folgada maioria de votos na comissão para aprovar o parecer.
É improvável que Cunha consiga adiar mais uma vez a votação. Seu estoque de recursos e de manobras para isso parece ter se esgotado.
Uma vez que a comissão aprove o parecer, ele será remetido à votação no plenário da Câmara. Antes do fim de agosto, Cunha será cassado.
Seus colgas, que até um dia desses o reverenciavam, só divergem quanto ao número de votos que Cunha ainda terá a seu favor. Ele deverá ser maior do que 50 e menor do que 100 em um total de 512 votos. Cunha sabe disso. Mas o que há de fazer? Mesmo um náufrago, sem terra à vista, se debate para não submergir.
Nos primeiros minutos que se seguiram à proclamação da vitória de Maia sobre Rogério Rosso (PSB-DF), candidato de Cunha, o que mais se ouviu no plenário repleto de deputados foram gritos de “Fora, Cunha”. O nome de Maia não foi gritado uma única vez, embora bastante aplaudido.
Mas o que se comemorou não foi o seu triunfo, foi a derrocada final de Cunha. Não se espera que a Câmara recupere seu prestígio só porque elegeu um novo presidente, mas que pelo menos não perca o pouco que resta dele.
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