domingo, 11 de agosto de 2019

A força de Bolsonaro no Brasil seguro


A segurança pública foi um fator relevante na eleição, mas não foi o único. Houve sobretudo o fator-medo, real e manipulado
Elio Gaspari – Folha de S.Paulo
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgaram a lista das 20 cidades mais violentas e de outras 20 que poderiam ser consideradas as mais pacíficas. Cruzando-se esses dados com os números da última eleição, resulta que o capitão venceu em todas as 20 cidades onde a taxa de homicídios é baixa. Em 17, teve mais de 70% dos votos e em cinco delas, mais de 80%. Essas cidades estão em São Paulo (14), Minas Gerais (3) e Santa Catarina (3).
No mapa das 20 mais violentas, Bolsonaro venceu em 6, divididas entre o Pará (3), Acre (1), Rio de Janeiro (1) e Rio Grande do Sul (1). Nas demais, todas do Nordeste, venceu Fernando Haddad.
Esse resultado reflete a tendência geral do eleitorado, que ficou com Bolsonaro nas regiões Sudeste e Sul, enquanto o Nordeste preferiu Haddad. 
Foram poucas as cidades de São Paulo e Santa Catarina onde Haddad venceu, mas, mesmo assim, o desempenho do capitão nas 20 cidades mais pacíficas superou o percentual que ele obteve nos dois Estados.
A segurança pública foi um fator relevante na eleição, mas não foi o único. Houve sobretudo o fator-medo, real e manipulado. Se o discurso da lei e da ordem do capitão fosse aceito nas cidades violentas, ele teria vencido em Maracanaú (CE), a campeã na desgraça. Lá deu Haddad. Num raciocínio inverso, se ele fosse repelido, Bolsonaro teria perdido na vice-campeã, Altamira (PA), mas ali ele venceu.
O comportamento do eleitorado nas cidades violentas ficou tremido, mas nas cidades mais seguras bateu um 100% onde se deve reconhecer que estava embutido um aviso. Algumas explicações para o resultado de 2018, coisas como "voto anti-PT" ou "efeito facada" valem pouco para quem quer pensar na eleição do ano que vem ou na de 2022.
Quem olha a lista das 20 cidades menos violentas e vê que 14 delas estão em São Paulo deve reconhecer que Geraldo Alckmin, o "picolé de chuchu", podia não ter sabor, mas refrescava.

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