Bernardo Mello Franco - Folha de S.Paulo
Uma onda conservadora se ergueu sobre o país nas eleições municipais. Suas águas varreram o petismo, afogado nos próprios escândalos e no naufrágio da economia sob o governo Dilma. O mapa do Brasil está mais azul, mas as diferenças de tom devem ficar visíveis assim que a nova pintura secar.
Em capitais como São Paulo, Porto Alegre e Salvador, o eleitor escolheu candidatos com perfil de centro-direita. João Doria e Nelson Marchezan Jr, do PSDB, e ACM Neto, do DEM, apostaram no discurso pró-mercado. Prometeram reduzir a máquina pública e assumiram a bandeira das privatizações, que costumava ser escondida nos palanques.
Os dois tucanos têm pouco a ver com o passado social-democrata do PSDB, mas se apresentaram como políticos moderados. Aproveitaram o desgaste da esquerda sem tirar proveito eleitoral de temas de comportamento, como drogas e aborto.
Outras capitais, como Rio, Belo Horizonte e Curitiba, consagraram representantes da direita populista que emergiu das manifestações de rua. Marcelo Crivella, Alexandre Kalil e Rafael Greca apostaram na revolta com o sistema político. Os três chegam ao poder a bordo de siglas médias (PRB) ou nanicas (PHS e PMN).
Bispo da Igreja Universal, Crivella abandonou o estilo moderado e se aliou a figuras como o deputado Jair Bolsonaro e o pastor Silas Malafaia. No segundo turno, radicalizou o uso de temas morais e a pregação anticomunista para desgastar o adversário, que concorria pelo PSOL.
Os novos prefeitos de Curitiba e BH apostaram no personalismo e na fabricação de polêmicas ao estilo Donald Trump. Na campanha, Greca contou ter vomitado com o cheiro de um pobre e Kalil disse que "rouba, mas não pede propina". No Brasil de 2016, nada disso foi suficiente para evitar que os dois se elegessem.
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