Da Folha de São Paulo
A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) afirmou em entrevista ao jornal
"Valor Econômico", publicada hoje, que seu "capítulo preferido" na
Operação Lava Jato são as perguntas que o ex-deputado Eduardo Cunha
(PMDB-RJ) encaminhou ao presidente Michel Temer na Justiça Federal.
"Quando li a primeira vez, lá sabia quem era José Yunes [ex-assessor
da Presidência]? Mas lá está Eduardo Cunha dizendo que quem roubava na
Caixa Econômica Federal, no FGTS, é o Temer. Leia, minha filha. Não
tenho acesso às delações, mas sei o que é um roteiro. E lá está
explícito roteiro da delação de Eduardo Cunha."
O ex-deputado elencou perguntas a Temer na Justiça Federal do DF, que
investiga supostas irregularidades no Fundo de Investimento do FGTS.
Na Justiça Federal do Paraná, o juiz Sergio Moro vetou parte das
questões do ex-deputado e afirmou que ele tentava constranger Temer.
Na entrevista, a ex-presidente afirmou ainda que não iria "assaltar o
país", ao se aliar com Eduardo Cunha e seus correligionários. "Eles
assaltam o país. Assaltam. Do verbo assaltar. Além de outras coisas, né?
Ele tem uma postura, em relação a direitos, coletivos e individuais,
extremamente sectária."
Cunha decidiu receber o pedido de impeachment de Dilma, no fim de
2015, após romper com o governo, no que foi entendido como uma
retaliação por não ter obtido apoio do PT para evitar sua cassação na
Câmara.
Ao jornal a petista disse que ainda que impediu o ministro Moreira
Franco, atualmente da Secretaria-Geral da Presidência, de "roubar"
quando ele integrava o seu governo.
"O gato angorá [Moreira Franco] tem uma bronca danada de mim porque
eu não o deixei roubar, querida. É literal isso: eu não deixei o gato
angorá roubar na Secretaria de Aviação Civil", afirma Dilma.
"Angorá" era o apelido de Moreira em negociações com a Odebrecht, segundo o delator Cláudio Melo Filho.
A petista prossegue: "Chamei o Temer e disse: 'Ele não fica. Não
fica!'. Porque algumas coisas são absurdas, outras não consegui impedir.
Porque para isso eu tinha de ter um nível de ruptura mais aberto, e eu
não tinha prova, não tinha certeza, entendeu?"
O peemedebista foi ministro em duas áreas no primeiro mandato de
Dilma: foi responsável pela pasta dos Assuntos Estratégicos de 2011 a
2013, com status de ministro, e comandou a Aviação Civil até o fim de
2014. Depois, foi substituído por Eliseu Padilha e deixou o governo.
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