domingo, 19 de julho de 2009
O fator eleitoral
Foram muitos os governistas que caíram em campo para minimizar a declaração do presidente Lula, que se referiu aos senadores da oposição como "bons pizzaiolos". A rigor tais cuidados caem no vazio. Ultimamente, o presidente tem se especializado em tantos desatinos verbais e ultrapassado todos limites do bom senso político, como a defesa que fez do presidente do Senado, José Sarney (PMDB/AP) e o chamego com o senador Fernando Collor de Mello (PTB/AL), que não há remendo que dê jeito. O comportamento do presidente, no entanto, além de revelar que ele chegou ao limite máximo do narcisismo - está acima de tudo e é o melhor de todos -, deixa claro também que o fator eleitoral está obscurecendo o seu lado racional. Lula quer ganhar a eleição de qualquer maneira, e nada como tentar desmoralizar a oposição no Senado, que se debate em torno da CPI da Petrobras e dos escândalos envolvendo o presidente do Senado, José Sarney. É fato que a CPI da Petrobras bate nos nervos do presidente, porém mesmo tendo ingredientes para implicar Deus e o mundo, a Comissão, já com governistas na presidência e na relatoria, não teria como ir muito longe. Mas Lula, ao apelar para os "pizzaiolos", conseguiu um efeito inverso. Alimentou a ira dos senadores da oposição e alertou a bancada governista. Às vésperas de uma eleição, em que a maioria dos senadores concorre a reeleição, ninguém quer aparecer mal perante a opinião pública. Dos 19 senadores do PMDB, por exemplo, só três - Jarbas Vasconcelos, Pedro Simon e José Sarney, não disputam em 2010. E é por isso, que já se registram mudanças de comportamento. O senador Garibaldi Filho (PMDB/RN), por exemplo, sempre tão afável, não hesitou em condenar a manobra do seu próprio partido que garantiu ao PMDB governista a presidência do Conselho de Ética, que por sua vez vai julgar representações contra Sarney e Renan Calheiros (PMDB/AL). Garibaldi criticou até a demissão de Lina Vieira, da Secretaria da Receita Federal, que caiu em desgraça por ter peitado o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli. Pois é, o fator eleitoral estimula todo mundo. E, se Lula diz bravatas para agradar seu eleitorado, os outros mortais radicalizam para garantir seus mandatos. DP,17/07/09.
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