“Sarney, ou vocês dão um passo adiante na CPI ou a vítima vai ser você”.
A frase, cochichada por José Agripino Maia, deixou Sarney balançado.
O morubixaba do PMDB acabara de assistir a mais um capítulo da crise.
Cenas tragicômicas. Por pouco a coisa não descambara para o pugilato.
Tasso Jereissati levara o dedo ao nariz do ex-boxeador Eduardo Suplicy.
Por um instante, Sarney deixara de ser o epicentro da crise.
As ondas sísmicas da crise arrastara para o meio do palco a Petrobras.
A oposição a exigir a instalação da CPI. O governismo a tergiversar.
Súbito, Sarney, passos miúdos, desce da mesa da presidência.
Desliza os sapatos pelo tapete azul do plenário, em direção à saída.
Antes de ganhar a porta, achega-se ao líder do DEM. E Agripino:
“Ou vocês dão um passo adiante na CPI ou a vítíma vai ser você”.
Vilão da novela do Senado, Sarney tenta ganhar as coxias de fininho.
Deseja reter a cadeira de presidente sem o inconveniente dos refletores.
PSDB e DEM lhe ofereceram a chance de modificar o roteiro.
Há dois dias, a oposição trocou o bordão ‘fora Sarney’ pelo lema ‘CPI já’.
Impactado pela frase de Agripino, Sarney puxou pelo braço um aliado.
Foi conversar, a portas fechadas, com o líder do PMDB, Renan Calheiros.
Minutos antes, Renan conversara, também ele, com Agripino. Prosa idêntica.
Ou o PMDB ajudava a trocar o cartaz da peça ou a crise continuaria se chamando José Sarney.
Depois de dialogar reservadamente com a crise, Renan retornou ao plenário.
Disse a um senador que comunicaria ao líder do PT, Aloizio Mercadante uma novidade: o PMDB concordaria com a instalação da CPI.
Seguiu-se uma reunião de Renan, Mercadante e outros líderes governistas numa sala envidraçada contígua ao plenário.
Era noite. Horas antes, Meradante fora fustigado pela oposição a dar a resposta que prometera na véspera.
Afinal, o PT iria ou não desbloquear o início da petroinvestigação?
Mercadante recorrera à desconversa: “Não tivemos tempo de tratar do assunto”.
Daí o fervor que levaria Jereissati a desafiar os dotes pugilísticos de Suplicy.
Jereissati enxergara “cinismo” nas palavras de Mercadante.
Acusara um dois diretores da Petrobras, o petista Wilson Santa Rosa, de "estar usando e abusando" das arcas da estatal.
Dissera que usa a empresa para “fazer política e destinar dinheiro para campanhas eleitorais”. Daí o escudo que o governo tenta levantar no Senado.
Suplicy esboçou uma defesa de Santa Rosa. E deu-se o rififi, depois serenado por um pedido de mútuo de desculpas.
Na reunião da saleta envidraçada, os líderes marcaram para as 11h desta quinta (9) uma reunião de todo o consórcio governista.
Autor do pedido de CPI, o tucano Álvaro Dias (PR), que informara sobre a intenção de protocolar um mandado de segurança no STF às 9h, adiou a providência para as 14h.
Antes de bater às portas do Supremo, tucanos e ‘demos’ querem conhecer o resultado do encontro governista.
Alheios aos conchavos insinuados dentro do prédio, manifestantes exibiam numa rua defronte a faixa com os dizeres que o pseudopresidente tenta exorcizar: “Fora Sarney”.
De resto, encaminhava-se para o prelo uma nova e explosiva manchete: “Fundação Sarney desvia recursos da Petrobras (leia texto acima).
A notícia como que injeta Sarney no centro do cartaz du uma peça que a oposição oferecia como alternativa.
A confluência das encrencas decerto levará Renan Calheiros a pisar no freio. Abrindo-se a CPI, Sarney arderá sob holofotes ainda mais inclementes. Não em um, mas em dois palcos simultâneos.
Escrito por Josias de Souza
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