Um dos blogueiros mais lidos no País, com 30 anos de atuação na cobertura de fatos da política nacional em Brasília, Josias de Souza, que por muito tempo militou na Folha de São Paulo e hoje está no portal UOL, traça um perfil avassalador da presidente Dilma nesta entrevista exclusiva. Diz que ela não tem aptidão gerencial nenhuma, como foi vendida pelo ex-presidente Lula, que destrata seus auxiliares e que não tem capacidade de tirar o País do fundo do poço.
“Temos pela frente a perspectiva de contar por mais três anos com Dilma, uma presidente que se revelou um desastre gerencial. Com isso, vamos ter um período pela frente muito mais traumático e dolorido, do ponto de vista econômico e político”, atesta Josias. Ele não tem dúvida em afirmar que, em 30 anos de carreira, nunca acompanhou uma crise tão grave como a que o Brasil vive hoje.
“Nunca vi nada semelhante. Lá atrás, vivemos um período muito difícil, que foi o período da inflação de Sarney, a fase de Collor. No aspecto ético e moral, tudo que acontece agora – mensalão, petrolão - superou e muito o que havia na época de Collor, que foi afastado da Presidência”, afirma. Sobre o ex-presidente Lula, o jornalista diz que é um personagem multi-investigado e que seu maior problema é não conseguir dar explicações.
Josias de Souza recebeu este blogueiro em sua residência no Lago Sul de Brasília, na última quinta-feira, onde mantém também seu escritório de trabalho, formado, ainda, por um mini estúdio de TV, onde grava suas participações para o jornal da TV-Gazeta, em São Paulo, e a TV Web do portal Uol. Veja o que resultou da boa conversa:
O Brasil está no fundo do poço?
O País está numa encruzilhada. A economia está definhando. Nós temos praticamente três anos de mandato da presidente Dilma Rousseff pela frente e não há perspectiva de mudanças. Ela não apresenta um plano alternativo, alguma coisa que pareça razoável e que abra um horizonte para o País. A articulação, por outro lado, que havia para promover o impeachment de Dilma, se esvaiu. Hoje, essa articulação praticamente não existe mais. Então, temos pela frente a perspectiva de contar com Dilma por mais três anos, uma presidente que se revelou um desastre gerencial.
E por ser esse desastre, três anos numa terrível conjuntura, o País sangrando...
Sim, três anos sangrando. Estamos sangrando e não há uma perspectiva de estancar essa sangria, essa hemorragia. Então, ou ela se revela, faz alguma mágica que não foi capaz de apresentar até agora ou vamos ter um período muito mais duro e traumático pela frente. A perspectiva é essa. Já tivemos recessão no ano passado, teremos recessão neste ano. E muito provavelmente não teremos nada parecido com crescimento econômico antes no fim de 2017, 2018. Isso se, evidentemente, for feita alguma coisa, porque até agora não se apresentou nada.
Pela sua experiência de Brasília, de cobertura do cenário nacional, já viu uma crise mais grave do que essa?
Não. Eu tenho 30 anos de jornalismo, nunca vi nada semelhante a isso. Lá atrás, vivemos um período muito difícil, que foi o período da inflação de Sarney, a fase de Collor. No aspecto ético e moral, tudo que acontece agora – mensalão, petrolão, etc. Superou e muito o que havia na época de Collor, que foi afastado da Presidência. Em termos econômicos, nós tínhamos conseguido superar a inflação. A inflação deixou de ser um fantasma para nós. Hoje, uma pessoa que tenha entre 30 e 34 anos não sabe o que é hiper inflação porque o Brasil tinha resolvido esse problema. Agora, estamos começando a conviver novamente com esse problema, de forma dramática porque não precisávamos passar por isso mais. Eu diria que desastre semelhante a esse eu nunca vi.
O que falta ao Governo de Dilma? Falam muito que ela não é do ramo e não faz o menor esforço para ter o domínio da questão política, buscando um melhor relacionamento com o Congresso. É por aí também?
A Dilma foi vendida pelo ex-presidente Lula como um talento gerencial inigualável e ela se revelou o oposto disso. Ela não tem aptidão gerencial nenhuma. Hoje, a gente pode dizer, sem nenhum receio de errar, que estamos diante de um desastre gerencial. E esse desastre evidentemente afugenta as pessoas. Ninguém quer fazer política. Você vai pedir voto a uma base eleitoral, vinculado a uma presidência como essa, a menos que o sujeito tenha ambições de fazer negócios ilícitos com o Governo ou se aproximar do Governo para obter vantagens não republicanas. Ninguém vai se vincular a um governo feito esse.
Então, a tendência é que a base congressual dela definhe?
Já está assim hoje e tende a se agravar. Popularidade é sinônimo de prosperidade. Se você não tem prosperidade, se a sua administração econômica não conduz a prosperidade, você não vai ter popularidade. Dilma tende a ser uma presidente impopular. Aliás, já é e tende a se agravar. E quem é que vai querer se vincular a uma presidente impopular?
Fale um pouco da personalidade dela. Correm muitas versões nos bastidores que ela é muito rude no grato com seus auxiliares, que não tem a menor educação doméstica nem controle emocional. Isso é verdade?
É verdade. Os relatos que a gente tem são nessa direção. Ela é uma pessoa irascível, destrata assessores, ministros até, e tem essa característica que a distância de Lula nesse aspecto. Lula era um administrador do tipo que reunia os seus assessores envoltos de uma mesa, os auxiliares traziam suas ideias, ele ouvia e depois abstraía daquelas observações o que ele considerava importante e tomava suas decisões. Dilma chega às reuniões com as decisões tomadas e as pessoas que ousam divergir com ela são admoestadas. Nessa segunda fase, o segundo mandato dela, como ela se revelou esse desastre do qual nós estamos falando, dizem que ela mudou um pouco. Mas ninguém muda, depois dos 60 anos. Quem é que vai mudar sua personalidade depois de uma certa idade, já plenamente madura? Então, ela de vez em quando tem uma recaída. Ela tem uma dificuldade enorme de ouvir. Outra coisa que eu acho que ela também não consegue fazer é a autocrítica. Ela não é capaz de fazer uma autocrítica. Isso é muito difícil e ruim. Ela não redireciona o seu Governo, que é um fiasco, e não tem a capacidade de ouvir para isso. Tem pela frente um futuro muito estreito.
A impressão que passa é que ela tenta demonstrar com alguns gestos e declarações que não tem nada a ver com os escândalos e a irresponsabilidade de tantos desvios públicos no Brasil, porque isso seria herança da era Lula. Dilma herdou isso de Lula ou ela tem responsabilidade pelos escândalos?
Eu acho que ela tem responsabilidade. Vou dizer a você o que é a minha visão sobre esse processo. O PT quando chegou ao poder precisava obter essa base congressual para governar. No primeiro mandato compraram a base congressual com o mensalão, e aquilo se revelou muito fácil porque não precisaram negociar, conversar. Era o dinheiro dado em troca do voto. Isso se revelou para eles um negócio da China e, para surpresa geral, embora o mensalão tenha sido descoberto, resultado em prisões até da cúpula do PT, eles mantiveram o mesmo esquema na Petrobrás com o chamado petrolão. É impossível um administrador público, como foi Lula e como é agora Dilma, não ter conhecimento disso tudo que se passou. Obviamente, tinha o conhecimento.
Mas como Lula, ele diz que nada sabia.
Essa história de “eu não sabia” é uma fábula. Dilma teve, portanto, responsabilidade indireta. Nessa matéria de Petrobrás é ainda maior a responsabilidade, porque é a área dela. É a área em que ela sempre militou no Governo. Foi ministra das Minas e Energia, desde o início do primeiro mandato de Lula, e a Petrobrás é vinculada ao Ministério de Minas e Energias. Foi presidente do Conselho da Petrobrás, as nomeações de diretores passam por esse Conselho. É impossível ela não saber o que se passava ali. Ela sabia, evidentemente. Agora ela fechou os olhos para isso e, tendo assumido a Presidência da República, passou um ano convivendo com os mesmos diretores. No segundo ano, em março, dispensou esses diretores. Renato Duque, Zelada, todos esses que hoje estão enrolados em Curitiba com o juiz Sérgio Moro, alguns presos ainda. Dispensou sob elogios por serviços prestados, maravilhosos e com graça ela se livrou também de José Sérgio Gabrielli, que era o presidente da Petrobrás, e colocou Graça Foster. Mas ela e a Graça tiveram muita dificuldade para desmontar o esquema que lá estava. Então, eu diria a você que sim, ela sabia de tudo isso que se passava lá, demorou a tentar se desvencilhar e quando teve a oportunidade – na questão da refinaria de Pasadena - disse que não. Afirmou que tinha aprovado porque tinha um parecer técnico e juridicamente imperfeito, preparado pelo diretor Nestor Severo, que hoje está preso. Ela deu uma nota dizendo que aprovou porque foi mal informada. O PT pressionou e ela recuou. Ela ali teve a oportunidade de se desvencilhar, mas ela recuou. Hoje está associada com o esquema. Não digo a você que ela participou do desvio de dinheiro, mas politicamente ela está ligada a esse assunto.
Em relação ao ex-presidente Lula, quem acompanha o seu blog fica com a sensação de que a situação dele parece ser mais complicada do que a de Dilma com relação a provas.
Lula é, hoje, um personagem multi-investigado. Ele está sendo investigado pela Procuradoria da República em Brasília, por conta de suspeita de tráfico internacional a favor de empreiteiras, que depois o contrataram como palestrante. Está sendo investigado pelo Ministério Público em São Paulo, por conta do apartamento tríplex no Guarujá, que foi reformado pela OAS. Só lembrou de sair fora desse negócio, de sair do lugar quando o assunto foi para o noticiário. Do contrário, já estaria morando lá. Ele é investigado pelo mesmo tríplex na Operação Lava Jato, que incluiu esse assunto na investigação geral do escândalo de Petrobrás, porque a OAS é uma das empreiteiras investigadas e suspeitam de lavagem de dinheiro. Não só com Lula, mas com o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari, que também tem apartamento lá - a OAS praticamente assumiu a construção do prédio. Lula também foi investigado por um delegado da Polícia Federal chamado Josélio Souza, que pediu autorização do Supremo Tribunal Federa. E, embora Lula tenha prestado depoimento como testemunha, a inquirição feita foi de que Lula fosse realmente suspeito.
Suspeito de que?
Ele perguntou como o Lula não sabia, como se dava a formação da base congressual de seu Governo, como eram nomeados os diretores da Petrobrás. Aí, Lula tentou restringir nas suas respostas a responsabilidade ao Gabinete Civil, dizendo que os nomes eram indicados para os ministérios das respectivas áreas e depois encaminhados ao Gabinete Civil – na época ocupado por José Dirceu – e ali se filtrava e escolhia o nome. O delegado foi fundo, insistindo até que Lula foi admitindo que a última palavra era dele, do presidente. Então, eu diria a você que ele se tornou esse personagem multi-investigado.
Qual é o maior problema de Lula?
O grande problema de Lula hoje é que ele não consegue dar explicações. Ele faz uma pose de perseguido político, diz que é vítima de preconceito da elite, mas hoje ele é a elite. O Governo dele se aproximou do grande empresariado de São Paulo, dos banqueiros. Então, dizer que sofre preconceito da elite é ridículo, ele precisa dar as explicações. Até o momento ele não deu e isso corrói a imagem de Lula, que já estava com a popularidade bem menor – ele saiu da presidência com 83% de aprovação, hoje deve estar abaixo de 50%. É preciso aguardar as próximas pesquisas. Mas à medida que ele não oferece as respostas, a tendência é de que a imagem dele – quase mitológica – seja arranhada evidentemente.
Temos dois processos de impeachment da presidente Dilma, um correndo na Câmara e outro no TSE por razões distintas. Pela sua experiência, por tudo que você já leu, vem acompanhando, vem escrevendo, ela pode se complicar a ponto de perder o mandato ou essa ameaça já se esvaiu?
O processo de impeachment na Câmara, que é bem político, ele se esvaziou. Os adversários de Dilma cometeram um erro muito primário que foi se vincular a Eduardo Cunha, propulsor do impeachment. Isso inviabilizou praticamente o processo. No TSE, o que se discute é se Dilma utilizou verba do petrolão na campanha dela e se houve abuso de poder político, o uso da máquina. Há muitos indícios de que isso ocorreu. As duas coisas ocorreram. Agora é preciso ver se o TSE terá coragem para fazer o afastamento de uma presidente da República com base nessas evidências. Eles estão reunindo provas e eu tenho muita dúvida se terá essa coragem. Acho até que se as provas fossem carreadas para os autos deveria ter. As coisas precisam ter consequências no Brasil.
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