Dilma Rousseff e Jaques Wagner observam movimentação na frente do Palácio do Planalto, em Brasília
Bernardo Mello Franco - Folha de S.Paulo
No dia da votação do impeachment no Senado, o Palácio do Planalto respirou um ar carregado de velório. Os corredores, sempre agitados pelo vaivém de funcionários e jornalistas, viveram horas de monotonia e silêncio. O Salão Nobre, escuro e deserto, não parecia o palco dos atos barulhentos de apoio ao mandato de Dilma Rousseff.
A presidente acordou cedo como sempre, mas trocou a pedalada por um passeio protegido pelas grades do Alvorada. Depois recebeu ministros no gabinete de trabalho. Enquanto tratava de detalhes da despedida, servidores limpavam gavetas e enchiam caixas com documentos pessoais e lembranças.
Assessores que perderão os cargos no "Diário Oficial" de hoje conversavam sobre o futuro e a volta às cidades de origem. As secretárias passavam as últimas ligações, e o pessoal da limpeza arrastava sacos de lixo cheios de papel picado.
Com o destino político selado, só restou a Dilma escolher a porta de saída do palácio. Ela descartou a ideia de descer a rampa e optou por uma alternativa mais discreta: a portaria principal. Segundo auxiliares, vai caminhar em direção à praça dos Três Poderes, cumprimentar militantes e partir de carro rumo ao exílio na residência oficial.
A rampa foi descartada por dois motivos. O primeiro, a recusa de Lula, que não quis acompanhá-la numa cerimônia teatral de despedida. O segundo, a tentativa de não passar a imagem de fim definitivo do governo. Afastada por até 180 dias, Dilma acalenta a esperança de voltar ao cargo após o julgamento final no Senado. A maior parte de seus aliados pensa ser um sonho impossível.
À noite, antes de deixar o Planalto, a presidente apareceu na janela ao lado do chefe de gabinete, Jaques Wagner. Ele abriu a persiana, e os dois olharam para a pista vazia, interditada ao tráfego. Os manifestantes esperados pela polícia não apareceram. Talvez nem o ministro saiba o que a chefe pensou antes de ir embora.
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