"É só olhar para a cara deles para saber que os 300 picaretas que eu falei em 1994 aumentaram um pouco"
Folha de S.Paulo – Catia Seabra, Carolina Linhares, Paula Reverbel e Reynaldo Turollo JR.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reassumiu o discurso de oposição em ato contra o governo do presidente interino, Michel Temer (PMDB), e reeditou o ataque ao Congresso feito há 22 anos chamando os deputados de picaretas.
"É só olhar para a cara deles para saber que os 300 picaretas que eu falei em 1994 aumentaram um pouco", disse, em discurso na avenida Paulista na noite desta sexta-feira (10).
O protesto, segundo os organizadores, reuniu cerca 100 mil pessoas, mas havia grandes espaços vazios na avenida. A PM não divulgou estimativa de público.
Numa fala em que voltou a admitir uma candidatura à Presidência em 2018, Lula criticou a montagem do ministério de Temer. O petista afirmou que, com José Serra (PSDB) à frente do Ministério das Relações Exteriores, o país voltou a sofrer do "complexo de vira-lata".
"Se a solução deste país fosse diminuir ministério, era melhor tirar o da Fazenda, do Planejamento, e deixar o dos pobres", completou, ao criticar a extinção da pasta de Direitos Humanos.
Segundo o petista, os "coxinhas" que pediam a saída de Dilma Rousseff hoje têm vergonha de dizer que querem Temer. Seu discurso focou mais em criticar o presidente interino do que em defender a presidente afastada.
Nos últimos dias, Dilma havia dito que viria ao protesto, por pressão da organização, mas avaliou que não era apropriado porque não queria se associar a discursos mais radicais.
Lula afirmou que não poderia reivindicar o "Fora, Temer", mote do protesto, porque "não ficaria bem". E emendou: "Temer, você é um advogado constitucionalista, você sabe que não agiu correto. Por favor, permita que o povo retome o poder para Dilma e participe em 2018 das eleições."
Diferentemente de membros da CUT que discursaram antes dele e defenderam a construção de uma greve geral contra o governo, Lula disse que não proporia essa medida.
"Eu não posso falar em greve geral porque eu não estou dentro da fábrica, e aposentado não faz greve", afirmou. A Folha apurou, no entanto, que o entorno do ex-presidente avalia que não há musculatura para parar o país agora.
Em vários momentos, o ato na Paulista, que atraiu um grande número de pessoas ligadas ao PT, pareceu um comício do partido. O mote "Fora, Temer" deu espaço a gritos de "Volta, querida".
Alguns partidos e movimentos de esquerda, como o PSTU, não engrossaram o protesto anti-Temer porque não endossam a volta do governo petista.
A tese de convocar novas eleições ou realizar um plebiscito, defendida por alguns setores, não foi abraçada nos discursos
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