domingo, 12 de junho de 2016

Palavrões e xingamentos nas disputas entre políticos


Folha de S.Paulo - Thais Bilenki
"Seu patife, me respeite, seu indecente, bandido, cara de ladrão, fala de ladrão e membro de quadrilha. Muito obrigado." Alguns deputados riram do colega Wladimir Costa (SD-PA) no Conselho de Ética, na última terça (7).
O presidente, José Carlos Araújo (PR-BA), tentou continuar a sessão, como se nada tivesse acontecido. "Com a palavra, o deputado..." Foi preciso esperar os ânimos se acalmarem, mas, de fato, nenhum dos congressistas pareceu exatamente surpreso.
Naquela sessão, que debatia o relatório de cassação do presidente afastado da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o bate-boca começara antes.
O deputado José Geraldo (PT-BA) mencionara denúncias na Justiça contra Costa. "Esse parlamentar no Pará está mais sujo que pau de galinheiro", metaforizou.
Essas trocas de ofensas são comuns no Congresso e adjacências. Em tempos de exasperação política, quase rotina. Em um debate na PUC-SP quatro dias antes, o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT) foi pouco delicado ao adjetivar o presidente interino, Michel Temer (PMDB).
"Isso é um salafrário dos grandes. Conspirador filho da puta", declarou.
Exemplos recentes do uso de termos chulos não faltam. Tampouco casos antigos e mesmo estrangeiros.
No teatro de Gil Vicente, no século 16, uma expressão era tão comum que abreviada, "fideputa". Nos EUA, o ex-presidente Richard Nixon causou perplexidade, nos anos 1970, quando áudios do escândalo de Watergate, que levaria ao seu impeachment, revelaram modos considerados indignos para o cargo.
"O problema daqui do Brasil é que os palavrões, de tanto uso, vão acabar perdendo o aspecto de afrontamento", diz Evanildo Bechara, da Academia Brasileira de Letras.
"O meu medo como professor é que, amanhã, o indivíduo, para xingar o outro, vai chamar 'deputado', 'senador'. Aí isso passa a ser palavrão." A depravação verbal não é exclusiva das instituições políticas, como sabe o leitor, e serve, inclusive, como manifestação de carinho, nota Bechara. Frases do tipo "É uma puta felicidade encontrá-lo aqui" resultam da "pobreza vocabular", disse.
No caso da política, as ofensas refletem "tensão e ansiedade", traduz Bruno Dallari, professor de linguística da Universidade Federal do Paraná. Mas, sobretudo, escancaram a natureza da relação entre os atores.
"Em certo sentido, o palavrão é de verdade, e a cerimônia é falsa. Um 'vossa excelência' é muito artificial."
Dallari observa que, na maioria das vezes, o restabelecimento da cordialidade é imediato, porque as relações são de interesse.
A lógica, de acordo com o professor, é a seguinte: "Eu hoje acho você um filho da puta, mas daqui a cinco minutos vai ter uma votação na qual a gente pode ter que negociar, então, sinto muito, as opiniões pessoais são totalmente irrelevantes".
O Código de Ética da Câmara considera atos atentatórios ao decoro parlamentar "praticar ofensas físicas ou morais" e "perturbar a ordem das sessões", entre outros.
Mas não costuma haver consequência ao congressista que infringir a norma.
O deputado José Geraldo, que protagonizou o embate com Wladimir Costa no conselho de Ética, diz que procura respeitar a instituição, desde que isso não signifique "aceitar tudo passivamente".
"Realmente, esses meses de Conselho de Ética, esse cinismo, essa coisa toda que acontece tem hora que irrita, porque você se sente ali perdendo tempo", admite. Costa não quis comentar.
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BOCA SUJA
Políticos se xingam ao vivo e na internet
CONSPIRADOR - 3 de junho
O ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT) falou de Michel Temer em debate na PUC-SP: "Isso é um salafrário dos grandes. Conspirador filho da puta"
XINGOU NO TWITTER - 5 de junho
O ministro Geddel Vieira Lima disse não ter medo de ser envolvido na Lava Jato. "Sei o que eu fiz no verão passado", afirmou. Um usuário do Twitter o questionou sobre o que teria feito no inverno, outono e primavera e se teria sido solidário com Eduardo Cunha. A resposta:
SÓ ELOGIOS - 7 de junho
Em discussão no Conselho de Ética sobre a cassação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o deputado Zé Geraldo (PT-PA) acusou Wladimir Costa (SD-PA) de estar "mais sujo que pau de galinheiro". Costa reagiu chamando-o de vagabundo:
"O senhor é vagabundo, bandido [...] Cala a tua boca, vagabundo. Você é ladrão safado" 

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