Eleito governador de Pernambuco pela terceira vez em 1994, aos 78 anos, sendo um dos principais opositores do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Miguel Arraes de Alencar pagou um preço caro, politicamente, pela postura corajosa de enfrentamento ao Governo Central.
Além de contar com Marco Maciel como seu vice-presidente, Fernando Henrique abriu uma interlocução fácil com Jarbas Vasconcelos, eleito pelo PMDB prefeito do Recife dois anos depois, já rompido com Arraes. O último Governo de Arraes foi marcado, portanto, por uma grave crise financeira, com greves das polícias civil e militar que marcaram época pelo grau de radicalismo.
Seu Governo foi objeto, também, de investigação de um gigantesco esquema de fraudes com títulos públicos, conhecido como Escândalo dos Precatórios. Na ocasião, Eduardo Campos, seu neto e herdeiro político, com apenas tinha 32 anos, foi responsável pela operação pilotando a Secretaria da Fazenda.
O escândalo teve um custo político: Miguel Arraes disputou e perdeu a reeleição, em 1998, para Jarbas Vasconcelos, que teve 64% dos votos válidos. O curso da história fez que com, oito anos depois, Eduardo Campos viesse a ser eleito governador, exibindo na campanha sua absolvição no caso dos precatórios pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Mas o último Governo Arraes também foi movido por uma grande campanha dos pernambucanos em defesa da instalação da refinaria do Nordeste, disputada por mais quatro Estados: Ceará, Maranhão, Sergipe e Rio Grande do Norte. A notícia de que havia sido descoberto óleo de excelente qualidade na costa de Sergipe encheu de esperança os políticos daquele Estado.
Sergipe é o quinto maior produtor de petróleo do País e o Estado e tinha uma área destinada a instalação de um polo cloroquímico adequada para abrigar uma refinaria. Já o Rio Grande do Norte já produzia 100 mil barris/dia, o que correspondia a segunda maior produção em mar. Já o Ceará alegava que já tinha uma unidade de lubrificantes e asfalto da Petrobras. A briga, portanto, rendia grandes manchetes na Imprensa.
Diretor da sucursal do Diário de Pernambuco em Brasília, pautei a briga dos estados nordestinos pela refinaria, assunto que só foi resolvido na gestão Lula, tendo Pernambuco, no final do Governo Fernando Henrique, assinado um protocolo de intenções para a implantação da unidade de refino em Suape.
No auge da briga, Arraes é recebido no Palácio do Planalto pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. Foi uma audiência demorada e cheia de expectativas. Primeiro, porque o assunto estava em pauta. Segundo, por Arraes, atolado numa crise financeira espetacular, culpar FHC pela falta de apoio.
Arraes deixa o Planalto com cara carrancuda e dá uma rápida entrevista, na qual diz que pediu ao presidente para que Pernambuco sediasse a refinaria. A revelação, claro, foi destaque em todos os jornais. Dois dias após, Fernando Henrique recebe Jarbas Vasconcelos, então prefeito do Recife.
Tão logo recebeu Jarbas, Fernando Henrique sapecou: “O Arraes esteve aqui comigo, numa conversa de mais de duas horas, sentado ai onde você está. Falou muito sobre o quadro nacional, mas só entendi, no máximo, 20%, porque a sua dicção está cada vez pior. O engraçado é que quando abri os jornais do dia seguinte vi que ele havia me cobrado a refinaria, mas em nenhum momento lembro dele ter tocado no assunto”.
Quando soube desse diálogo, em conversas de bastidores muito tempo depois, fiquei de queixo caído, porque lembro muito bem que Arraes, dias após, exibiu documento entregue ao próprio FHC, no qual havia pleiteado a refinaria.
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