Embora político de linhagem conciliatória, de fácil trato e extremamente articulado, o ex-governador Carlos Wilson Campos, já falecido, que começou a trajetória partidária pela Arena e culminou no PT, teve longas desavenças comigo. As brigas começaram quando, sucessor de Arraes por 11 meses no Governo do Estado, Cali, como era conhecido, deu um aumento aos servidores no apagar da gestão para comprometer o Governo Joaquim Francisco.
Joaquim o batizou de “Papai Noel” e era assim que eu me referia a ele quando dava entrevistas na condição de secretário de Imprensa. Wilson Campos, pai de Cali, também já falecido, de temperamento explosivo, deputado federal na época, vez por outra ocupava a tribuna da Câmara dos Deputados para detonar Joaquim e a mim, tentando me desqualificar como jornalista e porta-voz do Governo.
Carlos Wilson morreu muito jovem, com apenas 59 anos, vitimado por um câncer em abril de 2009. Teve uma longa trajetória na vida pública, começando em 1972 no Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) como assessor de Moura Cavalcanti, que mais tarde virou governador biônico de Pernambuco.
Em 1986, Cali foi eleito vice-governador na chapa de Miguel Arraes, assumindo o Governo do Estado em abril de 1990 para que o então governador pudesse concorrer ao legislativo, ficando no cargo durante onze meses. Em 1992, assumiu a Secretaria Nacional de Irrigação, a convite do então presidente Itamar Franco.
Em 1994, elegeu-se senador por Pernambuco pelo PSDB, permanecendo no Senado até o término de seu mandato em 2003. Em 1998, foi candidato a governador, mas ficou em terceiro lugar. Em 2000 se lançou candidato a prefeito do Recife pelo PTB, mas também não se elegeu. Foi peça importante para provocar o segundo turno, vencido pelo petista João Paulo, a quem apoiou.
Nas eleições de 2002 ele tentou a reeleição ao Senado, mas não conseguiu se eleger, filiando-se em seguida ao Partido dos Trabalhadores. Foi presidente da Infraero no primeiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Disputou as eleições de outubro de 2006 para a Câmara Federal, sendo eleito deputado federal pelo PT.
No auge dos precatórios, senador da República, Carlos Wilson defendeu ardorosamente o ex-governador Eduardo Campos, envolvido no escândalo. No transcorrer de 1997, o Senado instalou uma CPI para apurar irregularidades relacionadas à autorização, emissão e negociação de títulos públicos, estaduais e municipais, nos exercícios de 1995 e 1996, dos governos de Alagoas, Pernambuco e Santa Catarina e de Prefeituras como São Paulo, Campinas e Osasco.
O principal foco das apurações acabou recaindo sobre a emissão de títulos públicos destinados a saldar precatórios judiciais. A CPI teve como relator o senador Roberto Requião (PMDB do Paraná). O esquema consistia em simular dívidas judiciais para emitir títulos públicos, para o pagamento de outras contas, não decorrentes das condenações judiciais.
Além disso, os processos eram feitos sem licitação, e intermediadas por instituições financeiras, que depois adquiriam os títulos com deságio, ou seja, muito abaixo do valor de mercado. Dentre as instituições estavam as financeiras Vetor, Split, Paper, e o Banco Bradesco, destinatário de 76,5% dos títulos emitidos, somente pelo Governo de Pernambuco, e que teve um de seus diretores, Katsumi Kihara, denunciado pelo Ministério Público Federal.
O Banco recebeu, na íntegra, os R$ 480 milhões do valor de face. O esquema foi batizado “caminho da felicidade” e a venda de títulos pelos governos a instituições financeiras e suas sucessivas renegociações no mercado foram marcadas por outra série de irregularidades. Essa ia da formação de vasto esquema de fraudes e “lavagem de dinheiro” aos de induzimento à especulação e estelionato, falsidade ideológica e formação de quadrilha.
Envolveu pessoas físicas e empresas, entre as quais, bancos oficiais e particulares, empresas fantasmas, distribuidoras e corretoras de títulos e valores, assessorias empresariais, pessoas usadas com “laranjas”, e também “doleiros”. A Fazenda Pública, na época, foi apontada de sofrer um desvio no montante aproximado de três bilhões de dólares.
Fui escalado para acompanhar o depoimento de Eduardo Campos na CPI e durante a sessão o senador Carlos Wilson cuidou de exercer o papel de fiel escudeiro, formulando perguntas que ajudaram o depoente a se sair muito bem. Ao final do depoimento, já tarde da noite, Eduardo deixa a CPI sob um forte esquema de proteção, tendo ao seu lado o próprio Cali.
Narrei essa cena para a Rádio Clube de Pernambuco, que acompanhava o depoimento de Eduardo ao vivo. Um dos cães de guarda de Carlos Wilson em Pernambuco, acompanhando a sessão da CPI pela Clube, faz chegar aos seus ouvidos que eu o havia chamado de leão de chácara pelo excesso de protecionismo a Eduardo.
Irado, o senador me acha num restaurante em Brasília, já tarde da noite, e não vai para a chamada via dos fatos por causa da turma do deixa disso.
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