Eleito deputado federal nas eleições de 1986, marcada em Pernambuco pela volta de Miguel Arraes ao poder, Joaquim Francisco talvez tenha sido o ministro mais relâmpago da história do País. Indicado por Marco Maciel, ficou no então Ministério do Interior apenas por quatro meses, assumindo em abril de 1987 e renunciando em agosto do mesmo ano. O estopim da sua jogada de toalha teve como pano de fundo uma briga pelo comando da Sudene, principal instituição atrelada ao Ministério.
Joaquim tomou posse já encontrando na Sudene um velho adversário, o advogado Dorany Sampaio, indicado por Arraes a pedido do presidente nacional do PMDB, Ulysses Guimarães. Ex-deputado estadual, cassado pelo regime de exceção, Dorany enfrentou o arbítrio dos ditadores "eleitos" pela caserna daqueles tempos.
Ao longo da sua trajetória política ocupou a Diretoria de administração do Ministério da Agricultura no Governo João Goulart ficando no cargo até a deposição do presidente pelos militares, quando foi eleito deputado estadual em 1966. Foi um dos redatores da Constituição Estadual de 1967, como membro da Comissão de Constituição, Legislação e Justiça.
Portou-se na tribuna como severo crítico do autoritarismo vigente, da violência oficial e das prisões arbitrárias e ilegais. Com o advento AI-5, em 1968, ao lado de outros parlamentares, foi cassado e passou a figurar na lista dos perseguidos políticos.
A partir de 1972, passou a integrar o Conselho Estadual da Ordem dos Advogados do Brasil, sendo eleito sucessivamente vice-presidente e presidente da seccional de Pernambuco por duas vezes, ambiente jurídico-institucional que se transformava em tribuna alternativa, substituta do parlamento, dando voz aos que lutavam pela volta do estado de direito.
Na Sudene, Dorany ganhou carta branca do então ministro Ronaldo Costa Couto, mas não esperava que viesse a ter um chefe como inimigo. Tão logo assumiu a Pasta, Joaquim tentou afastá-lo, mas não conseguiu em razão do trânsito nacional que Dorany tinha com os principais líderes do PMDB que deram suporte para José Sarney assumir a Presidência diante da fatalidade da morte de Tancredo, como Ulysses e Mário Covas.
Joaquim chegou a ir a Sarney pedir a cabeça de Dorany num encontro que teve a presença de Marco Maciel e do então poderoso ministro das Comunicações, Antônio Carlos Magalhães. Mas Sarney não queria aborrecimentos com Ulysses nem tampouco com o PMDB de Arraes e Jarbas. A saída de Joaquim foi nomear Romário Dias, seu chefe de gabinete, superintendente-adjunto da autarquia.
De pronto, Joaquim liga para Dorany e comunica a nomeação. Só não esperava a reação contundente do auxiliar rebelde, afirmando que ele havia passado por cima do regimento e que a nomeação de Romário era ilegal. A nomeação de Dias foi consumada, mas Dorany continuou impondo autonomia no cargo, sem o menor diálogo com o ministro da sua pasta. Em meio a tudo isso, Joaquim demite o diretor do Banco do Amazonas, envolvido até o talo num escândalo.
Sarney não respaldou a decisão e Joaquim, já impaciente com as chafurdações na Sudene, uma novela que parecia não ter fim, entrega o cargo a Sarney e sai atirando. Aos jornalistas, sem entrar em detalhes nos problemas enfrentados no Baza e na Sudene, afirma que o Governo Sarney não era de transição, mas de transação.
No meio da crise, Dorany é afastado do cargo, mas em tom contundente faz a seguinte ressalva: “Não coloque que minha demissão foi a pedido se não desminto”, ameaçou. O grau de estresse, entretanto, provocou um pico de pressão arterial em Dorany, que chegou a dar entrada numa emergência hospitalar com sintomas de pré-infarto, que não veio a se confirmar.
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