Morto em acidente aéreo de helicóptero, em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, em 12 de outubro de 1992, junto à esposa D. Mora, o ex-senador Severo Gomes, a esposa deste e o piloto, Ulysses Guimarães era o político mais extraordinário para entrevistar por ser, talvez, um dos maiores frasistas da cena nacional.
“A única coisa que mete medo em político é o povo nas ruas”. Esta foi uma das frases dele mais ouvidas durante a campanha do impeachment de Collor. Quando na Bahia foi cercado pela Polícia com cães adestrados, afirmou: “Respeitem o líder da oposição no Brasil”. Só entrevistei “O senhor diretas”, como era conhecido, em duas oportunidades.
Em 1988, antes da promulgação da Constituição Cidadã, por ele presidida, e numa histórica visita dele a Rio Claro, interior de São Paulo, sua cidade natal, na condição de candidato a presidente da República. “Enquanto houver Norte e Nordeste fraco, não haverá Estado forte, pois o País será fraco”, pregou numa das entrevistas.
Em Pernambuco, Ulysses não tinha uma boa relação com Miguel Arraes e foi piorando na medida em que Jarbas Vasconcelos, na condição de vice-presidente nacional do PMDB, foi se aproximando do grande líder, a ponto de criar uma relação afetiva.
Tão próxima que Jarbas era frequentador assíduo da mesa exclusiva de Ulysses no Piantella, restaurante da elite política de Brasília, onde batia ponto todos as noites, após as sessões do Congresso, para degustar sua Poire, uma aguardente de pera.
Antes de Jarbas, Ulysses foi buscar em Pernambuco o ex-governador Barbosa Lima Sobrinho para compor a sua chapa em 1973, quando lançou sua anticandidatura simbólica à Presidência da República como forma de repúdio ao regime militar. Mais tarde, no processo do impeachment de Collor, Barbosa Lima, já na condição de presidente da ABI, reencontrou-se com Ulysses em outra campanha majestosa.
Ulysses Guimarães quase foi o candidato a presidente da República em 1985 pelo PMDB, quando as eleições foram realizadas no colégio eleitoral. As articulações políticas da época acabaram levando à eleição de uma chapa "mista", com Tancredo Neves como candidato a presidente pelo PMDB e o candidato a vice José Sarney, do PFL.
Devido à sua grande popularidade conquistada presidindo a Assembleia Nacional Constituinte, entre 1987-1988, batizada por ele de Constituição Cidadã, pelos avanços sociais que incorporou no documento, Ulysses candidatou-se à Presidência da República nas eleições de 1989 pelo PMDB, mas só teve 4,4% dos votos, porque as lideranças do seu partido, com raras exceções, o apoiaram da boca para fora.
Em Pernambuco, Arraes, governador, organizou um encontro de Ulysses e teve a deferência de ir receber o candidato no aeroporto. Saudou-o, em discurso veemente, como “o futuro presidente da República”. Para quem, lá atrás, declarava-se descrente quanto as chances de Ulysses diante de Collor, foi um progresso apreciável.
Ulysses deu maior importância, ainda, às manifestações da militância que pôde sentir durante o encontro. Animado com o calor da recepção, ele afirmou: “Ofereço à minha pátria a minha idade, a minha coragem e, sobretudo, a minha experiência”. Mas Arraes, ao contrário de Jarbas, que percorreu o País com Ulysses, conspirava.
E por outra razão. Gostaria de fazer seu vice Carlos Wilson candidato à sua sucessão, mas não estava encontrando espaço. Por isso, foi engolindo a candidatura Ulysses com muita dificuldade, porque sabia que Ulysses havia assumido compromisso em apoiar Jarbas. Num dos encontros secretos que teve com Lula, Arraes chegou a ser convidado para ser o seu vice, mas se recusou. O convite vazou, mas Arraes nunca confirmou.
Nos bastidores, ele acusava Ulysses de ter dividido a oposição com uma candidatura sem chances, deixando a entender se o partido tivesse indicado o vice na chapa de Lula este teria tido mais chances de ter derrotado Collor.
A candidatura de Ulysses, com Waldir Pires na vice, depois de renunciar ao Governo da Bahia, ficou para Arraes simbolizada numa frase lapidar do próprio Ulysses, quando disse: “Sou louco pelo poder, seduzido pelo poder e é para isso que eu vivo.”
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