Em meados do ano de 2005, dois anos após Fernando Collor voltar a morar no Brasil, recorri ao ex-senador Ney Maranhão para intermediar uma entrevista com o ex-presidente. Já com seus direitos políticos restaurados depois de oito anos do impeachment, tendo passado boa parte do seu exílio em Miami, Collor havia reassumido o comando das Organizações Arnon de Melo, composta por jornal, rádio e TV.
Nosso encontro foi agendado no seu gabinete no jornal Gazzeta de Alagoas, onde me recebeu, pontualmente, às 15 horas. De camisa curta e calça jeans, já livre dos charutos cubanos, Collor me deixou bem à vontade. E foi dele que recebi, pela primeira vez, a notícia de que o ex-governador Carlos Wilson, de quem era amigo fraterno, estava com câncer já num processo irreversível.
“Muito meu amigo, uma pessoa cativante e adorável”, disse Collor. Quando candidato à Presidência da República em 89, o então caçador de marajás, com apenas 3% nas pesquisas, procurou Carlos Wilson para pedir apoio, de quem recebeu um não. Leal ao PMDB, Wilson dissera que votaria em Ulysses Guimarães, quando Collor retrucou, tentando forçar a barra: “Mas, Ulysses não tem chances”.
Carlos Wilson concordou, mas disse que por uma questão partidária não poderia deixar de votar em Ulysses. A conversa com Collor durou mais de três horas. Ele falou de tudo que abordei com muita serenidade. Encontrei uma outra pessoa, sem aqueles arroubos quando candidato e depois presidente. Estava reflexivo, vivendo a paixão pela arquiteta alagoana Caroline Medeiros, com quem tem duas filhas gêmeas.
Collor fez revelações bombásticas. Falou do seu Governo, marcado pela implementação do Plano Collor e a abertura do mercado nacional às importações e pelo início de um programa nacional de desestatização. Seu Plano, que no início teve uma boa aceitação, acabou por aprofundar a recessão econômica, corroborada pela extinção, em 1990, de mais de 920 mil postos de trabalho e uma inflação na casa dos 1200% ao ano.
Junto a isso, denúncias de corrupção política envolvendo o seu tesoureiro, Paulo César Farias, feitas pelo irmão Pedro Collor de Mello, culminaram com um processo de impeachment. O processo, antes de aprovado, fez com que o presidente renunciasse ao cargo em 29 de dezembro de 1992, deixando-o para seu vice Itamar Franco.
Embora sem mandato e mergulhado, Collor acompanhava o cenário nacional da sua ilha alagoana torcendo, como confessou, para que o então presidente Lula desse a volta por cima no escândalo do mensalão. Foi quando revelou, pela primeira vez, o que me rendeu uma baita manchete, que votaria na reeleição de Lula.
Provocado sobre as pistas que a mídia nacional havia descoberto ligando Lula diretamente ao escândalo, Collor respondeu que só mudaria o voto diante de provas irrefutáveis da conivência de Lula com o escândalo. “Lula é inocente e não tem páreo para ele, vai ser reeleito e com o meu voto”, confessou.
Sobre a eleição que havia enfrentado Lula em 89, Collor revelou que a propaganda do adversário na televisão era tão competente que ele próprio ficou com a musiquinha do Lula, lá na cabeça. “Aquele coral de atores, atrizes, todas cantando essa música, com aquela bandeira vermelha, a estrela branca tremulando por trás, eu ia dormindo e acordava cantando a música do Lula”.
A entrevista ocupou duas páginas da Folha de Pernambuco e foi reproduzida por vários jornais do País pela Agência Nordeste, que eu dirigia em Brasília. Dias depois, recebi um telefonema de Ney Maranhão vibrando com a repercussão e em seguida do próprio Collor, que me confessou: “Magno, nunca vi uma entrevista na qual o repórter consegue manifestar com tanta fidelidade e correção o que falei”.
No ano seguinte, Collor volta à cena nacional eleito Senador de Alagoas, filiado ao Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB), porém migrando para o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) logo no primeiro dia no Senado. Em 2010, anunciou candidatura ao Governo de Alagoas pela terceira vez (as outras foram em 1986, quando elegeu-se, e 2002, quando foi derrotado por Ronaldo Lessa). Entretanto, nas eleições de 2010 para o governo alagoano ficou em terceiro lugar.
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