Da Folha de S.Paulo – Bela Megale e Cátia Seabra
No auge daquela que talvez seja a maior crise de sua história –com notável aumento de sua rejeição, o governo mal avaliado e dirigentes acusados de corrupção–, o PT abre nesta quinta (11) seu 5º Congresso, em Salvador, com oito teses inscritas disputando seus rumos, 800 delegados credenciados, mas o risco de ter os debates esvaziados.
Por pressão do governo da presidente Dilma Rousseff ou das alas mais fortes internamente, as deliberações mais relevantes foram adiadas ou tendem a ser amenizadas.
Uma delas é a proposta de formalizar a proibição de doações de empresas a diretórios do PT, o que seria, em tese, um primeiro passo para uma posterior proibição total.
Em abril, quando o então tesoureiro João Vaccari foi preso no âmbito da Operação Lava Jato, a direção nacional do partido decidiu aprovar uma norma interna proibindo as doações aos diretórios petistas, medida a ser referendada no Congresso que começa nesta quinta.
Temerosos de perder competitividade, petistas de várias partes começaram a fazer pressão contra a medida.
A tendência de a Câmara dos Deputados aprovar na reforma política a proibição de doações de empresas só a candidatos (continuariam legais as doações aos partidos) colocou em xeque a decisão da sigla que já vinha sendo bombardeada. Para os candidatos do PT, isso já seria, na prática, a proibição total.
O presidente PT, Rui Falcão, começou a sinalizar que haveria adiamento sobre esse tema já no começo deste mês. Ele defendeu não ter razões para pregar o fim das doações privadas sem uma definição da reforma política que tramita na Câmara.
Nesta quarta (10), um pouco antes de participar de uma reunião com tesoureiros da sigla, ele reforçou essa posição. "Há várias propostas. Eu vou apresentar que a gente mantenha como está no momento [o partido, desde abril, não aceita doações privadas] e combata duramente a aprovação do financiamento empresarial no Congresso".
Outro sintoma de esvaziamento é que a própria conveniência do 5º Congresso passou a ser questionada. Há cerca de dois meses, um integrante do governo procurou Falcão para discutir até a possibilidade de cancelamento do encontro.
Um importante petista ligado ao governo afirma que o evento ocorre "fora de hora" por não haver uma definição de um cenário político e econômico que possibilite à sigla dar uma resposta à sociedade sobre a crise atual.
Esse tipo de reclamação chegou a ser levada ao ex-presidente Lula. Mas ele avaliou que o cancelamento prejudicaria a imagem do partido e defendeu que o evento seria importante para retomar o diálogo com sua base.
Outro aspecto que gera insatisfação foi o movimento, a partir do governo –e este apoiado por Lula– para amenizar as críticas em relação ao pacote fiscal.
Minoritários, grupos mais à esquerda deverão verbalizar insatisfação. Os governistas jogarão na retranca.
Nenhum comentário:
Postar um comentário