Bernardo Mello Franco
"Quem foi, quem foi / Que falou no boi voador / Manda prender esse boi / Seja esse boi o que for." A marchinha de Chico Buarque e Ruy Guerra remete a um episódio do século 17, quando o conde holandês Maurício de Nassau prometeu fazer um boi voar no Recife. Também poderia embalar um caso caso mais recente: os bois voadores do senador Renan Calheiros.
Em maio de 2007, a revista "Veja" publicou que um lobista da empreiteira Mendes Júnior pagava despesas pessoais do presidente do Senado, Renan Calheiros. O dinheiro era repassado à jornalista Monica Veloso, com quem ele teve uma filha fora do casamento. A bolada ultrapassaria os R$ 28 mil por mês, em valores atualizados pela inflação oficial.
Ao se defender, o senador disse que não recebeu "qualquer recurso ilícito ou clandestino" e que repassava os recursos para o lobista fazer os pagamentos. Para sustentar a versão, apresentou recibos da venda de gado em Alagoas. A imprensa descobriu que os bois de Renan voavam. Até o gerente das fazendas reconheceu que o rebanho era menor que o declarado.
A Procuradoria-Geral da República demorou, mas denunciou o peemedebista por peculato, falsidade ideológica e uso de documento falso. Nove anos depois de o caso vir à tona, o Supremo Tribunal Federal finalmente decidirá se abre uma ação penal contra o senador.
Para o Ministério Público, Renan não tinha recursos para bancar a generosa pensão da filha. O dinheiro seria mesmo da empreiteira, interessada em aprovar emendas no Congresso. O alagoano nega as acusações. Ele voltou à presidência do Senado e hoje é um dos principais aliados da presidente Dilma Rousseff.
O Carnaval é um bom momento para cantar velhas marchinhas. Se você esbarrar com um ministro do Supremo na folia, aí vai uma sugestão: "Quem foi, quem foi / Que falou no boi voador / Manda prender esse boi / Seja esse boi o que for".
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