segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Despedida: Dilma encara discurso final "com alívio"


Dilma no Auditório dos Bancários, na quarta (24), no provável último ato público antes do impeachment
Folha de S.Paulo – Marina Dias
Dilma Vana Rousseff, 68, começou a se preparar para aquele que deve ser seu último discurso como presidente da República há 13 dias.
Muitas vezes sozinha, dedicou-se exaustivamente à elaboração de sua defesa para encarar, nesta segunda-feira (29), no Senado, um de seus maiores fantasmas: a divergência.
Pediu a aliados sugestões por escrito, separou documentos —alguns jurídicos e outros, para inspiração, da Era Vargas— e reuniu números: um roteiro comum para quem já treinou 17 horas seguidas para um debate eleitoral na campanha de 2014.
No domingo (28), um pouco mais calma, recorreu a seu advogado, José Eduardo Cardozo, e a sua assessora Sandra Brandão, que conhece, com precisão decimal, os dados sobre seu governo, para discutir os últimos ajustes de sua fala, que define como o momento mais difícil desde seu afastamento do cargo.
Dilma não queria ir ao Senado. Resistiu até a semana passada, mas foi convencida por aliados de que era um bom momento para "fazer história".
Esperava encerrar logo o ciclo e, como disse aos mais próximos, ficará "aliviada" em acabar com a agonia pessoal que foi para ela o processo de impeachment.
A obsessão por afastar o contraditório teve reflexo direto na perda de condições para governar ao longo de seu segundo mandato, dizem auxiliares.
Dilma foi se desvinculando de quem discordava dela e passou a ouvir cada vez menos os divergentes, inclusive o ex-presidente Lula.
Cercou-se de pessoas que diziam "sim" para tudo o que ela ordenava, que tinham medo de seus famosos ataques de fúria quando confrontada e que não puderam evitar que esse comportamento fizesse ruir também seu relacionamento com o Congresso.
Nesta semana, enquanto revezava-se entre a elaboração de seu discurso e o mapeamento de votos que teria no Senado — para aprovar o impeachment são necessários 54 dos 81 votos —, a petista sentiu os reais reflexos de sua personalidade.
Um aliado escalado para convencer senadores indecisos a conversar pessoalmente com Dilma ouviu a constatação retórica de um deles: "Mas ela nunca me recebeu antes". Foi entusiasmado a "olhar o futuro", porém não se sabe se foi convencido.
A presidente afastada diz ter consciência de que as sessões do impeachment no Senado são "teatrais", que as decisões estão tomadas e que será muito difícil mudar algum voto com sua fala.
Preferiu não assistir aos senadores pela TV, mas pediu a assessores os discursos de aliados por escrito, para ter uma ideia do que se passava.
Ela quer fazer uma fala forte, pessoal e que sirva, em suas palavras, como um "registro histórico do golpe".

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