terça-feira, 9 de junho de 2015

Histórias de repórter

Óculos fundo de garrafa, padre por vocação e político construído pelo destino, Mansueto de Lavor, então no exercício do seu primeiro e único mandato de deputado federal em 1986, foi o nome a quem Miguel Arraes recorreu para dar equilíbrio ideológico à chapa que montou para o Senado tendo como principal estrela o usineiro Antônio Farias.
A escolha provocou ciumeira entre os históricos do então MDB, porque outros nomes com maior projeção já se destacavam em Brasília, como Cristina Tavares, Osvaldo Lima Filho e Egydio Ferreira Lima. Arraes deu as mínimas condições materiais para a campanha. Sou testemunha disso porque assessorava Mansueto como deputado em Brasília e vim ao Recife dar o suporte de comunicação à sua campanha.
No comitê faltava até papel higiênico, mas Mansueto, ao contrário de Farias, tímido no trato e econômico no palafraseado em palanque, era valente na rua. Excelente orador, cumpriu o papel de desconstruir o principal adversário para o Senado, o então ex-governador Roberto Magalhães, que nas pesquisas era franco favorito.
Primeiro oposicionista do Sertão a cumprir mandato na Assembleia Legislativa, o valente Mansueto cresceu como um gigante na campanha. Foi buscar inspiração na primeira campanha que disputou para deputado estadual em 1978, combatendo os Coelho de Petrolina. Então mandatário da capitania do São Francisco, o clã Coelho era liderado pelo senador Nilo Coelho.
Já como padre da Diocese de Petrolina e dirigente da emissora Rural, uma das maiores audiências no Sertão, Mansueto era um calo nos pés dos Coelho. Assumia posições corajosas com discursos virulentos. Seus assessores e amigos, como o companheiro Machado Freire, responsável por históricas jornadas ao lado do padre-político, chegaram a temer pela vida de Mansueto.
Da família dominante, o de maior pavio curto era o empresário Paulo Coelho, já falecido, pai do hoje senador Fernando Bezerra Coelho. Mansueto o acusava de ter construído um patrimônio gigante no Sertão com recursos da Sudene nunca pagos, além de empréstimos não cumpridos com outras instituições, como o Bandepe e Banco do Nordeste.
Na campanha para deputado federal em 1982, Mansueto insultava os Coelho num discurso inflamado na Concha Acústica, em frente à Catedral, quando de repente o público foi se dispersando com a boataria de que o empresário Paulo Coelho estava se dirigindo para o local, de arma na cintura.
“Paulo Coelho chegou de arma em punho, houve alvoroço e corre-corre, mas a turma do deixa-disso evitou o pior”, lembra Machado Freire, a chamada testemunha ocular da história. Mansueto cumpriu um mandato exemplar no Senado. O destino e as mudanças de rota na política fizeram, entretanto, Mansueto subir no palanque em apoio à candidatura de Jarbas Vasconcelos a governador, que tinha na vice o empresário Paulo Coelho.
“Mansueto começou sua batalha política dentro da Igreja, como padre de origem humilde, filho de agricultores, com origem no município de Serrita. Seu trabalho sempre simbolizou uma espécie de resistência aos poderosos, originários dos velhos coronéis, como em Petrolina. Ele era um comunicador nato e mantinha um programa na Emissora Rural de Petrolina, ligada à Igreja”, testemunha Machado Freire.
Para acrescentar: “Petrolina e o São Francisco foram defendidos a toda prova por Mansueto de Lavor. Depois dele (entre outros) vieram Valter Lubarino e Gonzaga Patriota, tendo o primeiro “pendurado as chuteiras” a partir do momento em que conquistamos um palmo de democracia. A semente foi tão bem plantada que os coronéis históricos de Petrolina perderam o fôlego e ainda hoje se mantém à custa do poder (oposição) que eles combatiam e segregavam no passado”.
Segundo ele, as ondas da Emissora Rural levavam ao ar a palavra de fé da Igreja, baseada na Teologia da Libertação e cursos de alfabetização, além da organização sociais e do Movimento Comunidade Eclesial de Base. Como constituinte, Mansueto não traiu os seus princípios, honrando o mandato parlamentar.
Votou a favor do rompimento de relações diplomáticas com países com política de discriminação racial, do mandato de segurança coletivo, da remuneração 50% superior para o trabalho extra e da jornada semanal de 40 horas.
Votou a favor, ainda, do turno ininterrupto de seis horas, da unicidade sindical, da soberania popular, do voto aos 16 anos, da nacionalização do subsolo, da estatização do sistema financeiro, do limite de 12% ao ano para os juros reais, da proibição do comércio de sangue, da limitação de encargos da dívida externa, da criação de um fundo de apoio à reforma agrária, da desapropriação da propriedade produtiva e da estabilidade no emprego.
Votou contra a pena de morte, a limitação do direito de propriedade privada, o aborto, a pluralidade sindical, o presidencialismo e o mandato de cinco anos para Sarney. Foi um dos autores da emenda que possibilitou a anistia da correção monetária das dívidas dos micros, pequenos e médios empresários.

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