domingo, 25 de outubro de 2009

Gustavo Krause: 'Não é só o eleitoral que motiva uma candidatura'

Por Ana Lúcia Andrade, de Política / JC

Ele foi o candidato do então governista PFL – com o apoio de Jarbas – para o embate contra o então favorito Miguel Arraes (PSB) na eleição estadual de 94. No momento em que as legendas hoje na oposição, e agora num esboço de aliança mais ampla, se preparam para enfrentar o neto de Arraes, Eduardo Campos (PSB), Gustavo Krause (DEM) desabafa e dá o seu testemunho do que conta na armação de um palanque com essas características. Assegura que não foi para sacrifício algum, naquela época, pois tinha consciência das dificuldades, mas sobretudo do papel “político e histórico” que desempenharia.

JC – Se o debate de 2010 se der em torno de um candidato para competir, como será essa discussão? O que é considerado num debate nesses termos? A vontade do candidato é o que conta?
GUSTAVO KRAUSE – Primeiro vamos ao contexto da época (da eleição de 94, quando ele foi escolhido o candidato do PFL). Eu era deputado federal, tinha tido uma rápida experiência no Ministério da Fazenda, o que me deu uma certa notoriedade, e tive uma passagem razoável na Câmara dos Deputados, o que me daria talvez uma eleição mais tranquila.

JC – Mas o candidato em potencial não era você?
KRAUSE – Não. Os candidatos potencialmente fortes eram Jarbas Vasconcelos, que tinha dois anos de prefeitura, e Roberto Magalhães. No plano nacional havia Lula disparado nas pesquisas, e se esboçava uma aliança entre o PFL e o PSDB. Com a entrada em vigor do Plano Real, o PFL percebeu que poderia apontar para um cenário favorável, que desse para disputar.
Na época Fernando Henrique (PSDB) relutava muito. Ele estava fragilizado eleitoralmente e tinha quatro ou cinco pontos percentuais nas pesquisas, isso por volta de fevereiro ou março de 94. No caso específico de Pernambuco, começou a se desenhar a não candidatura de Jarbas e a de Magalhães, por uma série de motivos que cabe a cada um avaliar, e emergiu um candidato forte que era Miguel Arraes (PSB, então oposição). Eu percebi ali, era começo de abril, que aquilo iria sobrar para mim.

JC – Que você seria um candidato para competir apenas?
KRAUSE – É, mas acontece que eu tinha a perspectiva de que a aliança (nacional entre PFL e PSDB, para a eleição presidencial) precisava de um rebatimento político em Pernambuco. Era preciso um palanque que tivesse amplitude. Então eu vi ali um papel político mas também histórico. Era a primeira vez de uma aliança de centro-direita com centro-esquerda, com um cara como Fernando Henrique, com Maciel como vice... Mas independentemente disso, eu achava que Pernambuco deveria ter um palanque amplo. Tanto que uma das coisas que coloquei, quando a minha candidatura foi posta, é que só iria para aquela disputa com o PSDB e com Jarbas ao lado. Não precisava nem o PMDB, na época o candidato do PMDB era Cid Sampaio. Mas era preciso ir com Jarbas porque se eu não tivesse amplitude de pouco estaria valendo. Sem isso não contem comigo. Algumas pessoas imaginavam que se Fernando Henrique fosse eleito me colocaria num ministério, não houve acordo nenhum, eu fui para a luta porque eu achava que podia cumprir uma missão política, partidária e histórica, do ponto de vista da aliança e do grau de sua amplitude.
Um Plano (Real) que estava estabilizando o País, um candidato extremamente clarividente como era Fernando Henrique, e com um vice como Marco Maciel... Quer dizer, existia um conjunto de condições que me levaram a não negligenciar, me levaram a não me preocupar tanto com o resultado eleitoral, porque eu sabia que teria muitas dificuldades. O resultado foi menor do que as dificuldades mostraram. Eu sei que a gente não pode olhar para o passado com o condicional ‘se’, mas se alguma coisa a mais tivesse sido feita naquele momento talvez o resultado fosse outro.

JC – Por quê? O que é que faltou?
KRAUSE – A candidatura nacional tracionou a candidatura local como habitualmente acontece. Eu fui tracionando também. Mas o que é importante é que eu tinha aquilo como missão. Eu não fui para sacrifício nenhum. Eu achava que estava cumprindo uma missão importante porque a gente precisava eleger uma bancada, de qualquer maneira elegemos um senador (Carlos Wilson, então no PSDB). Eu não tinha me preparado nem político nem eleitoralmente para ser candidato. Mas eu tinha um grau de consciência muito grande.
E outra coisa: do ponto de vista eleitoral, aquela candidatura minou o mito eleitoral, o mito político. Porque se percebeu que o eleitor de Arraes já não era mais aquele com o perfil de quando ele voltou (do exílio, em 79). Já havia uma certa diluição do voto ideológico. O chamado voto de opinião se deslocou em direção aos grotões, o voto metropolitano já não era aquele voto consagrador de outras épocas.

JC – O que é fundamental num processo decisório desse tipo que você viveu?
KRAUSE – Que seja colocado, lembrando que é legítima qualquer decisão, mas é preciso colocar até onde o processo lhe aponta um caminho que não seja apenas o eleitoral, onde se tem um maior ou menor grau de possibilidades. Do outro lado da balança você pesa a visão de um processo mais amplo.
De encarar uma missão histórico-política onde sairá maior do que entrou na eleição, mesmo perdendo. Porque não tenho dúvida nenhuma de que eu saí maior (da eleição de 94). Agora nisso tudo existe uma série de contingências: a disposição da pessoa é uma delas. Eu acho que é legítima qualquer tipo de decisão e eu a respeito. No meu caso, tenho a consciência de que no meu limite, no meu micro mundo, dei minha contribuição e não tenho dúvida nenhuma de que sai maior. É agradável perder a eleição? É não. Ela tem uma certa contundência? Tem. Mas ali as forças estavam íntegras.

JC – Você encontra semelhanças entre aquele momento e o de hoje?
KRAUSE – É muito difícil comparar momentos históricos. Eles têm suas peculiaridades. Agora é importante perceber que nós estamos diante, mais uma vez, de uma aliança ampla. Observei todos esses movimentos que aconteceram, até se ‘magnificaram’ certas coisas, mas quando eu olho para o DEM, para o PSDB, para o PPS e para o PMDB, vejo muito mais coisas nos unindo do que nos separando. Então esses episódios (a briga José Mendonça x Sérgio Guerra) são apenas pequenas trepidações. Há um quadro nacional que mantém até uma aliança mais ampla. Até mais consistente.
Naquela época, Fernando Henrique partiu numa situação de absoluta adversidade. Só se configurou uma avalanche ‘fernandista’ a partir de julho/agosto (94) por conta do Plano Real. Então hoje, em alguns aspectos, vejo uma situação, de certa forma, até vantajosa. Uma amplitude da aliança e um candidato que tem maior consistência eleitoral do que tinha Fernando Henrique naquele momento. José Serra (PSDB, provável candidato das oposições à Presidência em 2010) tem maior consistência eleitoral.
E seu perfil se enquadra bem nessa questão de o presidente (Lula) querer fazer uma eleição plebiscitária. Um presidente que propõe esse tipo de eleição está olhando para trás e a agenda tem de ser para a frente. Serra tem um perfil adequado para um debate desse tipo. Mas não sei se o quadro vai justificar esse desejo de um plebiscito entre oito anos versus oito anos. Essas circunstâncias trazem algumas vantagens. Desde que se respeite suas peculiaridades.

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