Cúpula do PSDB mantém apoio a Aécio e evita falar em expulsão da sigla
Para Executiva Nacional, veredito sobre candidatura cabe ao senador, réu no STF, e ao diretório de MG
Angela Boldrini e Thaiza Pauluze – Folha de S.Paulo
Réu no Supremo Tribunal Federal, o senador Aécio Neves (MG) ainda conta com o apoio do PSDB, partido que presidiu até 2017.
Em enquete realizada pela Folha nesta
semana, membros da Executiva do partido afirmaram não ver motivos para a
expulsão do parlamentar e disseram que a decisão sobre uma eventual
candidatura à reeleição cabe apenas a ele e ao diretório estadual
mineiro.
A
reportagem questionou os políticos sobre: 1) se o senador deveria ser
expulso do partido; e 2) se Aécio, permanecendo na legenda, deveria
desistir de sair candidato ou ser impedido de disputar o pleito pela
cúpula tucana.
Em
11 de outubro de 2017, após contestação no meio político, o plenário do
STF decide que medidas cautelares contra congressistas, para entrar em
vigor, precisam de aval da Câmara ou do Senado se comprometerem o
exercício do mandato. O Senado então ficou de votar as restrições
impostas a Aécio Neves (PSDB) Sergio Lima/AFP
Dos
41 membros da Executiva Nacional contatados, 12 afirmaram que o senador
não deve ser expulso da legenda ou impedido de se candidatar por ter
virado réu. Na avaliação deles, o avanço do julgamento no STF não
significa que Aécio seja culpado, e, portanto, deve-se esperar a decisão
final da Corte.
Outros 23 não quiseram se posicionar sobre o assunto, mas a própria negativa embutia um aval ao senador.
“A
executiva nacional não discutiu em nenhuma reunião sobre essa
possibilidade”, afirmou o ex-presidente do partido Teotônio Vilela
Filho.
“Se os partidos forem expulsar todo mundo aqui [na Câmara] que é réu, não sobra muita gente”, afirmou o líder do PSDB na Casa, Nilson Leitão (MS), para quem é necessário dar a Aécio a chance de se defender na Justiça.
Apenas o prefeito de Manaus (AM), Arthur Virgílio Neto,
disse que Aécio deveria sair do partido. “Se o PSDB tivesse uma
comissão de ética que funcionasse e não fosse uma reunião de compadres,
eu acho que deveria, sim. Na verdade, ele deveria tomar a atitude de
sair, mas não sendo o caso, a comissão de ética tinha que tomar essa
atitude.”
Integrante da Executiva, Aécio não fez parte da pesquisa. Cinco dos membros não foram localizados pela reportagem.
O senador virou réu pela primeira vez no Supremo no dia 17 de abril, por causa do episódio em que foi gravado pedindo R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista, da JBS, em março de 2017. As acusações são de corrupção e obstrução de Justiça.
Sobre
a decisão da candidatura, dentre os que responderam à pesquisa, a
opinião preponderante é que o veredito não cabe à direção nacional, mas
ao diretório mineiro e ao próprio senador.
“Ele
conhece o estado e as dificuldades e cabe somente a ele decidir.
Depois, terá que se justificar com o diretório do PSDB em Minas Gerais”,
afirmou o líder tucano no Senado e vice-presidente do partido,
Paulo Bauer (SC).
Dos
36 entrevistados, só três membros afirmaram que Aécio não deve ser
candidato: Virgílio, que defende a expulsão e, portanto, que o senador
não seja candidato a nada, e os deputados Geraldo Resende (MS)
e Mara Gabrilli (SP), ambos suplentes na cúpula partidária.
Nos
bastidores, a decisão de não se posicionar é vista como estratégica.
Membros do alto comando da legenda afirmaram que a tendência é que Aécio
desista de qualquer candidatura, mas temem que uma pressão partidária
nesse sentido possa ter o efeito contrário sobre o senador.
Um tucano afirmou que a Executiva está “dando espaço” para que o congressista anuncie ele mesmo a desistência.
É essa ala que avalia que os pré-candidatos do partido à Presidência e ao governo de São Paulo, Geraldo Alckmin e João Doria,
se precipitaram ao afirmar que o correligionário mineiro não deveria
concorrer, apesar de concordarem com a avaliação de que Aécio pode
afetar candidaturas do partido tucano.
“É claro que o ideal é que ele não seja candidato, é evidente”, afirmou Alckmin em entrevista à rádio Bandeirantes.
Apesar
da possibilidade de as acusações contra o presidenciável de 2014
respingarem na campanha do ex-governador de São Paulo —que já vem
enfrentando baixos índices de intenção de votos nas pesquisas
do Datafolha—, correligionários avaliam que o principal problema estaria
no palanque de Minas Gerais, onde o senador Antonio Anastasia deve concorrer ao governo do estado.
Após a declaração dos paulistas, Aécio reagiu, afirmando que a decisão será tomada pelos mineiros.
Ele já afirmou que ainda não decidiu se concorrerá à eleição e, em caso
afirmativo, a qual cargo. “É uma decisão coletiva que vamos tomar no
momento certo em função do quadro eleitoral de Minas Gerais.”
Alckmin, que é o atual presidente do PSDB, e Doria não responderam à pesquisa da Folha.
A executiva, que segundo listagem do site da sigla possui 42 membros, é
formada por senadores, deputados federais, ex-presidentes do partido e
lideranças de grupos como o Tucanafro, movimento negro tucano, e da
juventude do partido.
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