Ruralista
troca Geraldo Alckmin por Jair Bolsonaro e diz que tempo de tucano
passou. Para Frederico D'Ávila, da Sociedade Rural, ex-governador é
comandante de Boeing, mas Brasil precisa de piloto de caça.
Foto: site: agencia14news Foto: Brasil247
Folha de S. Paulo
Por Igor Gielow -
O agronegócio está fechado com a pré-candidatura de Jair Bolsonaro porque
o isolamento do deputado do PSL-RJ permite que ele assuma posições
defendidas pelo setor, como o reforço da segurança no campo contra
roubos e invasões.
A
avaliação é de Frederico D’Ávila, 40, diretor da Sociedade Rural
Brasileira que elabora o programa de governo de Bolsonaro da área.
D’Ávila é o mais graúdo aliado de Geraldo Alckmin, o presidenciável do PSDB, a
migrar para a órbita de Bolsonaro até aqui. De 2011 a 2013, ele foi
assessor especial do então governador paulista para agro, e até aqui era
seu principal consultor junto ao setor.
Então
filiado ao PP, D’Ávila era uma das vozes aliadas de Alckmin a alertar
sobre a atração que o deputado vinha exercendo junto a produtores
rurais. Sem ser ouvido, abraçou a causa de Bolsonaro, filiando-se ao PSL para disputar uma vaga na Câmara.
Ele é irmão do coordenador de comunicação da pré-campanha do tucano, o cientista político Luiz Felipe D’Ávila.
Produtor
de grãos, diz manter o respeito por Alckmin, mas considera que seu
momento para tentar ser presidente passou. “O Geraldo é um piloto de
747, só que estamos sobre a Síria. O Bolsonaro é um piloto de F-16”,
diz.
O que o levou a se aproximar de Bolsonaro, após tantos anos na órbita de Alckmin?
Eu
continuo tendo o Geraldo como um grande amigo, um grande professor na
atividade pública. Na campanha [presidencial do tucano] de 2006, da qual
eu participei bastante, a gente percebia muito o apoio na rua. Agora eu
não vejo isso. Por quê?
Porque
quando você quer juntar demais e desagradar de menos, você acaba sem
margem, bem engessado. Isso é bem claro no meu setor. O Bolsonaro, até
por não ter esse leque de alianças, pode se posicionar da maneira que
bem entender. Ele abraçou as bandeiras do setor.
A
imagem do Geraldo não sofre abalo nenhum em relação a caráter e
retidão, mas não é o momento. Estamos com o país na UTI e querem tratar o
paciente com homeopatia. Nós precisamos é de antibiótico. Não é para
tomar a vida inteira, é por um período.
O sr. fala muito no agro. Mas acha que Bolsonaro atende às demandas fora dele?
Atende.
Esse presidencialismo de coalização não funciona. Você tem de dar
ministério, cargo, secretaria em troca de apoio. Bolsonaro gosta do
modelo americano, de 15 pastas.
Virou
uma cultura no Brasil tornar o militar um cidadão de segunda classe.
Não conheço oficial-general que tenha sido mal formado. O Bolsonaro já
disse que quer colocar militares nos ministérios por competência.
O sr. acha que, ganhando a eleição, Bolsonaro governa? Com o sistema existente?
Ele
respondeu a essa pergunta num evento no banco BTG: “Se você quiser um
governo que dá ministério em troca de voto, já peço para não votar em
mim”. A plateia veio abaixo.
Agora,
se você me perguntar como faz... Eu sou agricultor, aprendi a cultivar a
terra de uma maneira. Chega uma pessoa falando que vai cultivar de
outra forma, você fica olhando. Tem de haver outro meio, desse jeito não
tem como continuar.
O sr. não vê no Alckmin a pessoa para essa ruptura.
Eu
acho que tanto o Geraldo quanto o Bolsonaro seriam bons para o Brasil,
só que um tem mais condições neste momento. O Geraldo é um piloto de
[Boeing] 747 da [companhia aérea alemã] Lufthansa: não vai chacoalhar,
vai jantar, atravessar o Atlântico bem tranquilo. Só que não estamos
voando em céu de brigadeiro, estamos voando sobre a Síria. O Bolsonaro é
um piloto de [caça] F-16. O Brasil precisa de um piloto de F-16.
O
país foi arrebentado, precisa de uma depuração da máquina pública. Falo
pelo meu setor inclusive. Veja a Operação Carne Fraca [que apura
irregularidades em frigoríficos], tinha agente corrupto.
O
sujeito faz concurso e sabe o quanto vai ganhar, não é para fazer rolo.
Isso diz respeito ao Bolsonaro: se alguém chega para ele para falar de
estrutura de campanha, de dinheiro, ele já pula fora.
Por outro lado, a campanha dele está embrionária em termos de estrutura.
É, mas também não é para ninguém fazer campanha agora.
Mas ele está em campanha há dois anos.
Mas isso que você está vendo é muito da parte dos entusiastas dele. E ele tem de estar no Parlamento terça, quarta e quinta.
Ele
é um político profissional, não tem boa produtividade no Congresso.
Saindo desse “momento Bolsomito” em aeroportos, ele passa pelo
escrutínio de uma campanha?
Acho
que sim. Os 28 anos de Parlamento dele lhe dão total estofo. Ele não se
diz um não político. É um parlamentar de segmento que virou figura
nacional.
E as polêmicas todas nas quais ele se envolveu?
Você não está acreditando na evolução do ser humano...
Não.
[Risos]
Veja aquelas declarações polêmicas. Se você pegar um Fernando Gabeira,
um José Serra na década de 70, eles não corroboram aquela linha nos dias
de hoje. Chamar o Bolsonaro de misógino e racista? Isso não é verdade.
Ele trabalha com mulheres e negros.
Mas
ele é processado por isso no Supremo [disse que não estupraria a
deputada petista Maria do Rosário porque ela “não merecia” em uma
discussão].
Mas
você vê aquela cena, é ela que estava defendendo um criminoso. Ele é um
cara risonho, brincalhão, afetuoso. E o pavio dele está muito mais
longo do que antigamente. O que irrita ele é que só falam dessas coisas
antigas.
E o agro? Qual é o projeto que o sr. faz para ele?
Se
você for olhar a pauta dos candidatos, exceto aqueles que são contra o
modelo produtivo, as demandas são as mesmas. De diagnóstico estamos
cheios, temos de fazer. Precisamos de logística.
Precisamos de segurança no campo, tanto contra roubo de insumos quanto jurídica, contra invasão e demarcações arbitrárias.
Por
fim, estabilidade e previsibilidade na concessão de crédito. Falam que a
gente quer dinheiro subsidiado. É que há uma distorção original, que é a
taxa de juros do país não ser competitiva. Precisamos de uma
equalização para poder competir.
Vocês se falam sempre, o sr. já apresentou esses pontos?
Não
falamos diariamente não. Sobre os pontos, já, e ele aprovou, por isso é
apoiado. Ele disse que quem vai dar a diretriz da agricultura será o
setor. O ministro não será indicado pelo partido tal. A primeira vez que
temos um ministro que realmente vive da terra é agora, com o Blairo
Maggi.
O sr. quer ser ministro?
Se eu toparia? Se ele me convidar... As pessoas precisam entender que se a agricultura patina, a cadeia da economia cai toda.
Voltando à política, haverá candidato do PSL em São Paulo?
Então,
o pessoal pede para ele. Mas eu vou falar do que eu entendo, meu setor.
Tenho dois irmãos, todos votam diferente, nunca briguei. Não briguei
com o Geraldo por política.
Falando nisso, como ficou o almoço de domingo com se u irmão [integrante da campanha de Alckmin]?
É a ironia do destino, o que a gente pode fazer? Ele está no juízo dele, eu estou no meu.
Frederico D’Ávila
Nasceu em 2 de novembro de 1977, em São Paulo. Graduou-se em direito pela FMU.
Produtor de grãos, é diretor da Sociedade Rural Brasileira.
Foi
assessor especial de Geraldo Alckmin (2011-13) no governo de São Paulo e
colaborador da campanha do tucano à Presidência. Ex-coordenador de
agronegócio do PP, agora dirige o programa do PSL no setor.
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