Helena Chagas – Blog Os Divergentes

Já houve um ensaio disso nas eleições municipais de 2016, embora os candidatos ricos tivessem um limite para colocar seu próprio dinheiro na campanha. Agora, com o veto de Temer a esse item da Lei Eleitoral – e a subsequente derrubada do veto, mas fora do prazo de um ano para alteração das regras da eleição – restou um imbroglio jurídico e um risco imenso.
O benefício aos mais abastados será elevado à enésima potência, pois os milionários podem botar milhões em sua própria campanha, tendo como limites apenas o máximo de gastos permitido para cada cargo em disputa: para presidente da República, por exemplo, R$ 70 milhões; para deputado federal, R$ 2,5 milhões.
Seria injusto atribuir a eleição prefeito paulistano João Dória a essas regras, mas que elas ajudaram, ajudaram. Assim como podem ajudar muito a outros navegantes ricos da disputa presidencial deste ano, como Luciano Huck, por exemplo, se for convencido a entrar no páreo e resolver botar a mão no bolso.
O mais grave dessa permissividade – que reafirma vergonhosamente as diferenças entre ricos e pobres também no plano eleitoral – não está na eleição presidencial e nem na de governador. Vai estar na de deputado, favorecendo aqueles sustentados por igrejas e até pelo crime organizado. Além do eterno caixa 2, que agora é que não vai desaparecer mesmo, abre-se uma avenida para usar os CPFs dos próprios candidatos e de seus parentes para contribuições de campanha – venham elas ou não do patrimônio real do candidato.
A última esperança da República está, para variar, no Supremo Tribunal Federal, onde esse assunto vai parar. É possível que, lá, seja restabelecido o limite para doação individual do próprio candidato. É bom lembrar, porém, que essa hipótese torna-se mais difícil à medida em que se aproximam as campanhas. Ou decide agora, ou nunca mais.
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