sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Eunício gera mais dúvidas que certezas no comando do Senado


Política Real
Depois do anticlímax que foi a tentativa dos apoiadores do presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de garantir-lhe o direito de concorrer a um novo mandato no comando daquela Casa, inicia-se a temporada de especulações sobre como ficará o Senado Federal nos próximos dois anos. O senador Eunício Oliveira (PMDB-CE) é tido e havido como nome certo para ocupar o comando da “Casa de Rui Barbosa” a partir de fevereiro de 2017.
Ele seria o homem certo para o momento correto? Por que ele chegou a esta situação? Qual o futuro da Casa nos próximos anos? Ele será um pau mandato do velho PMDB ou estará à altura da tal nova política que está aí dizendo que chegou sua hora?
ENTRANDO NO PRIMEIRO TIME
Eunício Oliveira chegou ao Congresso Nacional como deputado federal e já presidindo o PMDB de seu Ceará, eleito no pleito de 1998 chegando à Câmara Federal em 1999. Logo virou vice-líder. Nessa época era conhecido como um empresário de sucesso, genro do histórico peemedebista Paes de Andrade e que teve seus conflitos com a “Turma doa Caititu” da qual Michel Temer, hoje presidente da República, fazia parte. Temer era adversário de Paes Andrade que queria ver o PMDB junto com o PT de Lula que vinha de uma segunda derrota para Fernando Henrique Cardoso.
Nessa época, Renan Calheiros já era grande no PMDB. Calheiros foi ministro da Justiça de FHC e depois virou menino de todas as ações de Jader Barbalho e José Sarney. Eunício Oliveira aproveitando os esticas e puxas do PMDB entrou no primeiro time, pois virou membro da Executiva Nacional e desde então tesoureiro do partido no País.
Naquele ano de 1999 numa solenidade no antigo Centro de Eventos Zumbi dos Palmares, no prédio principal da Câmara dos Deputados – onde, hoje, funciona o estúdio da TV Câmara, todo acarpetado e escuro – foi palco de um evento do PMDB que era a cara da chegada de Eunício Oliveira na cúpula do PMDB. Um deputado de baixo clero chegou para Geddel Vieira Lima, então o poderosíssimo líder do PMDB na Câmara Federal – um dos homens de FHC no Congresso Nacional – e o questionou sobre como ficaria a Executiva Nacional e o comando da Tesouraria.
“Vai ficar o Eunício, ele é rico, não vai roubar a gente!”, disse, para risos dos ouvintes. Vieira Lima sempre foi irreverente.
Eunício Oliveira uniu a capacidade de funcionar como pluma entre cristais entre os peemedebistas tucanos e os peemedebistas petistas. Desde o final dos anos 90, o maior partido do país tinha decidido a ser o mais importante coadjuvante da política brasileira na terceira redemocratização do Século 20.
PSDB E PT
Em 2003, já reeleito para seu segundo mandato de deputado federal acabou virando líder do PMDB na Câmara Federal. Eleição disputadíssima. Virou um dos homens fortes do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mesmo com boa parte da cúpula do PMDB ainda muito ligada ao Tucanato.
Nessa época, a turma de Renan Calheiros no Senado incluía o senador cearense Sérgio Machado, que foi líder do PSDB, e o senador Romero Jucá já no PMDB, e que tinha sido líder do Governo FHC no Senado. Machado tinha derrotado Paes de Andrade, sogro de Oliveira, na disputa para o Senado Federal. Foi uma grande dor política para a família Andrade-Oliveira.
Paes de Andrade, respeitado por Lula, dava um passaporte vermelho para Eunício Oliveira.
Eunício Oliveira soube exercer como poucos a condição de conhecedor da máquina do PMDB nacional e do melhor dos mundos, conversava com todos os lados da política brasileira com desenvoltura.
Cresceu no início dos anos 2000. Líder do PMDB viveu os piores e os melhores momentos dos Governo Lula. Escapou do “Mensalão”. Há quem fique até hoje impressionado como o maior partido do Brasil e que votava eventualmente nos interesses do Governo Lula não teve um de seus expoentes envolvido. Eunício Oliveira não confessa publicamente, mas o período que ficou como Ministro das Comunicações, fora do Congresso por algum tempo, foi seu passaporte para se manter vivo em meio às borrascas que vieram.
Por falar em vendaval e tempestades, Oliveira é craque em fugir do desvario. A Operação Lava Jato que pega até quem não é muito relevante no jogo nacional na política brasileira pouco lhe toca. Acusações surgiram, como a do ex-diretor da Oderbrecht, Cláudio Melo Filho, no entanto são tiros, mas, até o momento, nada mortal. Oliveira não responde nenhum inquérito no Supremo Tribunal Federal. Costuma brincar que é ficha limpa, casado com a mesma mulher desde sempre e só teve uma filiação partidária. 
PERGUNTAS E RESPOSTAS
Eunício Oliveira seria o nome certo para o momento certo, o comando do Senado Federal num ano que promete ser tortuoso?
Quem disser que sim ou que não estará arriscando o pescoço. Em Brasília, para quem não sabe, o que une a cabeça ao tronco é a parte mais sensível do corpo. Não é o coração para os passionais, nem o bolso para os pragmáticos.   É lá que fica a gravata, acessório que é cara da Capital Federal, é lá que se aprende a engolir em seco!
Ele não é do confronto aberto, como faz Renan Calheiros, nem da truculência como era ACM, da dissimulação de José Sarney ou força como foi Jáder Barbalho, as eventualidades acidentais de Ramez Tebet ou Garibaldi Alves Filho, os ex-peemedebistas e pefelista/democrata que mandam no Senado Federal nos últimos 20 anos.
Eunício Oliveira é criticado entre os seus pares em face de sua autossuficiência. Homem rico, face aos negócios de sucesso em várias áreas de atuação, não pede favores, os faz.  Adora conversas sem fim sobre política, mas quando lhe interessam. Dedica todas as forças ao que busca com muita paciência.
Sabe que se Renan Calheiros pudesses teria feito o senador Romero Jucá (PMDB-RR) como seu sucessor. Calheiros fez o que pôde em muitos momentos para que Jucá se viabilizasse presidente do Senado. Não conseguiu, Jucá, apesar de pernambucano, não tem o sangue frio de Calheiros, um bom alagoano, para lidar com as estocadas da política atual. Lembro aos mais atentos que Calheiros vem de Alagoas, aquela terra em que nasceu o tenente João Bezerra que comandava a volante que entrou na Cova de Angicos (SE) e matou, degolou, Vírgulino Ferreira da Silva, o Lampião.
Eunício Oliveira não tem nada da cara da nova política, apesar de ter morado na Casa dos Estudantes, em Fortaleza (CE). Homem de 60 anos detesta construções políticas formadas pelo assembleísmo, mas sabe que o maior dilema da democracia é a corrupção com a apropriação do Estado pelo poderosos. Vai saber lidar com a discussão como poucos, tem paciência para esse jogo. Não dá murro em ponta de faca, como se diz no seu Ceará.
Eunício Oliveira saberá comandar o Senado Federal num momento de conflagração generalizado? Saberá esgrimir um PT pintado para a guerra, constantemente? São dúvidas que existem no Palácio do Planalto, assim como na Oposição. Só o tempo dirá. Ele foi um dos senadores que convalidaram o acordão que Renan Calheiros montou para manter os direitos políticos da ex-presidente Dilma Rousseff no julgamento do Impeachment, naquele 31 de agosto de 2016.
PANO RÁPIDO
A disputa para o comando do Senado caminha a passos rápidos para um jogo jogado. Existe em Brasília um tempo, em janeiro, onde muita coisa acontece, mas são todas irrelevantes. Tempo de uma aparente ventania que nada move, alguns costumam dizer que nascem rosas e cravos exuberantes que chamam atenção, porém morrem logo e ninguém mais lembra que um dia encantaram. As chamadas flores do recesso parlamentar.
Tudo aponta que Eunício Oliveira vai ter que encarar os espinhos das flores do recesso, mas seus problemas maiores serão depois dos dias fevereiro de 2017, quando virá os Idos de Março, dias difíceis na tradição da política brasileira.

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