segunda-feira, 18 de julho de 2011

“Ninguém será eterno no Governo”

Entrevista:  Roberto Freire (PPS) "Deputado federal"
Presidente nacional do PPS, o deputado federal Roberto Freire avisa à Frente Popular: “Ninguém será eterno no Governo”! Integrante da oposição, o pernambucano cobrou, sem citar nomes, que os adversários deixem a “arrogância” de lado. “Mais alto o coqueiro, maior é o tombo do coco afinal”. Eleito por São Paulo, Freire justificou sua mudança de domicílio eleitoral como uma estratégia para fortalecer o PPS em nível nacional. “Para ser protagonista político no País, o PPS precisa ter força e presença significativa em São Paulo”, argumentou, lembrando que, em 2012, a legenda tem projeto de lançar candidatos nas principais cidades brasileiras, a exemplo do Recife, onde o ex-deputado Raul Jungmann deve ser o escolhido. “Tenho notícia do desastre da administração na Prefeitura do Recife”, disparou o pós-comunista, que também não economizou críticas a presidente Dilma Rousseff, a quem classificou como incompetente.
A oposição em Pernambuco sofreu uma derrota significativa em 2010. Como o senhor avalia o futuro do bloco?
Sem nenhuma grande preocupação, porque ninguém pense que será eterno. Essa aliança terá problemas e, quem sabe, vá deixar de existir já agora em 2012. Não sei se eles vão manter nessas eleições as principais cidades, inclusive o Recife. Vamos ter um realinhamento preparatório para 2014, não vamos imaginar que, em 2014, se repetirá o que houve em 2010. O Brasil será outro, as forças políticas terão outros interesses, outros objetivos. A mudança que vai se operar vai ter reflexo nas coligações partidárias. Então, ninguém imagine que vamos permanecer estáticos numa correlação de forças. Isso pode mudar, portanto, nenhuma precipitação. O que seria de nós no MDB, quando na resistência ao Regime Militar, fomos flagorosamente derrotados na época do Milagre Brasileiro. Resitimos e dorrotamos a ditadura. A vida traz lições e a gente precisa aprender com elas. Calma, sem precipitação. E dizer que cuidem um pouco da arrogância. Morreu agora recentemete Billy Blanco, paraense que fez músicas inesquecíveis no Brasil. Ele fez uma que é muito interesante: ‘Mais alto o coqueiro, maior é o tombo do coco afinal’. Então cuidado, não tenham tanta arrogância, saibam que a vida é dinâmica, ela muda. Ela não permanece quando as coisas não estão sendo bem resolvidas, a mudança se instala e alguém vai representar isso. Nós, do PPS, sob a liderança de Raul Jungmann, estamos nos preparando para representar a necessidade de mudança que o Recife já experimenta hoje.
Ao falar dessa “arrogância”, o senhor se refere a quem, especificamente?
Não, não, não... Quando falo em arrogância política não estou falando especificamente em relação a uma ou outra pessoa. Ela está muito presente, por exemplo, em imaginar que a nossa derrota esmagadora (no ano passado) é algo que signifique o nosso fim, ou vai significar algo que Lula desejava, que é extirpar a oposição.
Em sua resposta, o senhor citou a PCR. Como avalia a gestão João da Costa?
Não estou mais morando no Recife, mas cotinuam meus filhos, meus netos, miha história. Engraçado, estou tendo contato até mais agora, do que há algum tempo, um certo ostracismo (risos). Tenho notícia do desastre da administração na Prefeitura do Recife. Não sei se isso vai ser resolvido por alguém que estava anteriormente na administração. Pode até ter um recall muito forte.
Depois deter sido deputado federal e senador por Pernambuco, o senhor disputou novo mandato federal por São Paulo, em 2010. O que o motivou a mudar o domicílio eleitoral?
Primeiro, a constatação de que, para ser protagonista político no País, o PPS precisa ter força e presença significativa em São Paulo. O peso do Estado na Federação por si só indicaria a necessidade de você se fazer mais presente no Estado. Segundo, é um Estado cosmopolita. Eu saí também de um colégio eleitoral e de um Estado que, politicamente, é bastante afirmativo na Federação brasileira, que é Pernambuco. É o Estado cosmopolita da Região. Ao final, consegui uma eleição que, claro, não era fácil, mas se revelou uma resposta à presença nacional; porque sempre, mesmo quando parlamentar de Pernambuco, era um parlamentar nacional e isso se refletiu na minha eleição. Não fui candidato em 2006 em função de que iria ser candidato a presidente da República. Mas a verticalização atrapalhava o partido porque criava impossibilidade de alianças nos Estados e coligação proporcionais para eleição dos nossos parlamentares. Ao nos afastarmos daquela eleição majoritária, ficava difícil a volta, inclusive, para Pernambuco. Foi bem sucedido esse meu recuo ainda mais com a força de Raul Jungmann, que se consolidou como uma grande liderança.

Nesse período, o senhor exerceu a função de conselheiro da São Paulo Turismo, vinculada à Prefeitura paulistana...
Eu era conselheiro de amdinistração de empresa do municicípio de São Paulo. Mas é empresa de economia mista, no caso a São Paulo Turismo. É uma função prevista em Lei, tal qual os conselhos fiscais das empresas.
O ex-senador Marco Maciel foi convidado pelo prefeito Gilberto Kassab para o mesmo posto, mas declinou após críticas. Avalia o posicionamento como correto?
Não, porque houve uma pressão de setores da sociedade de São Paulo e do País, que criaram certo constrangimento e ele resolveu não ir. O Conselho de Administração é de fundamental importância. Alguém vai discutir a presença da Dilma no Conselho da Petrobras? Não. Vai discutir, agora, a presença do ministro da Fazenda, (Guido) Mantega, no Conselho da Petrobras, no BNDES, ou algum ministro em Itaipú, ou nas grandes  empresas estatais do Govenro Federal? Então, vamos deixar de bobagem porque isso, evidentemente, é um preconceito. Você pode discordar. Eu não vejo nenhuma discussão sobre isso, até porque isso é apenas uma forma que alguns setores da política usaram para criar constrangimento. Não há como você imaginar as empresas não terem conselhos fiscais ou administrativos. E serão compostos por pessoas escolhidas, porque são responsáveis e têm reputação ilibada. De vez em quando, eu perguntava a algum ‘lulo-petista’, que falava da minha presença lá no conselho de administração, se alguém imaginava que deveria compor o conselho algum petista, que até bem recentemente eram adversários da administração, enquanto nós tínhamos sido aliados, inclusive, no processo eleitoral.
Como estão os debates internos do PPS para 2012? Disputará em quais cidades?
Posso começar pelo Recife, falar da candidatura de Raul Jungmann. Depois vou para São Paulo: Soninha Francine; Stepan Nercessian, no Rio; a deputada estadual Luzia Ferreira, em Belo Horizonte; Luciano Rezende, deputado estadual em Vitória; Arnaldo Jordy, deputado federal, em Belém. São candidaturas que têm força e presença como a candidatura da deputada Eliziane Gama, em São Luís do Maranhão. Ou seja, o partido, nas grandes cidades, está fazendo um trabalho bem determinado de lançar candidaturas. E onde puder (outros municípios), no máximo possível até porque vamos enfrentar tempos difíceis com um pequeno partido ou partido mediano, em função de reformas políticas que venham com a clara determinação de buscar fortalecer os grandes partidos em detrimento dos outros partidos. Temos que nos preparar para isso, tentando dar um salto de um partido pequeno para um partido mediano, que busca sua maior inserção na política brasileira.
Vê com bons olhos essa proposta de fusão entre os principais partidos de oposição no Brasil?
Isso não existe. Isso é uma criação do mundo político, a partir de declarações soltas que, em nenhum momento, pelo menos no PPS, tenham aventado qualquer hipótese dessas. A aliança (com o PSDB) já se encerrou com a eleição.
Mas não há possibilidade de novas alianças. O PSDB pode apoiar Jungmann no Recife?
Isso é outra coisa, vai se discutir. Tudo indica, claro, que em Pernambuco terá essa aliança. Agora, em outros municípios, em outros Estados, podem caminhar para outras alianças. O que ocorre hoje é que estamos no campo da oposição. Falo sempre no campo das oposições, no plural. Pode se encontrar em trabalho conjunto em função das denúncias das malfeitorias que vêm acontecendo no governo da Dilma.
Acredita que, ao afastar a cúpula do Ministério dos Transportes, incluindo o então ministro, a presidente resolveu os problemas naquela pasta?
Não, não... O que é isso? Oxente! Afastou e acabou a malfeitoria, a ilegalidade, a corrupção? Não! É tão verdade que não acabou que o senhor Pagot diz que não saiu. Ele está de férias. Mais do que isso, o Pagot veio para o Senado e para a Câmara e foi elogiadíssimo pela base. Defendeu o Governo e pior: disse que tudo que lá aconteceu a Dilma sabia. Aí você poderia me perguntar: ‘por que é que a Dilma não demitiu’? E pior, botou como ministro alguém que estava lá durante toda a bandalheira, que era o secretário-executivo do Ministério (Paulo Sérgio Passos). Não sabia nada? Era um ingênuo? Aí não tem competência para exercer a função.
Como é que o senhor está avaliando o Governo Dilma?
Avalio muito mal, envelheceu precocemente. Menos de seis meses e três ministros já caíram. É um Goveno que patina por uma herança de irreponsabilidades que o Lula deixou. Vamos enfrentar tempos mais difícies, ainda. Há risco de volta da inflação. Não vejo o Governo atendendo nenhuma das expectativas que foram criadas, que, para nós, foram poucas. Até porque não era nada daquilo que diziam como gerente ou a mãe do PAC, que agora fica comprovado. Não só pela sua irrelevância, incapacidade de atender aos reclames da nossa infraestrutura, que está em frangalhos. Problemas graves em aeroportos, portos, nas estradas; problemas da energia brasileira. Todo um entrave político que não dá uma boa expectativa.

Em sua opinião, falta competência a Dilma para administrar o País?
Acho que sim. Do ponto de vista político, evidente. Crise no início da articulação politica, por brigas e motins para ocupação de espaço, sem que você tenha uma liderança clara, uma definição do papel dos partidos aliados. É uma crise meio generalizada. E quando você enfrenta problemas como esse, que vêm a público, malfeitorias no ministério, desarticula mais ainda, porque aquilo parecia um feudo do Partido da República. E um feudo que, suspeita-se, era quase um pequeno mensalão destinado a esses partidos. É bom, talvez, a favor da Dilma, que isso não foi construído no seu Governo. Mas ela fez parte do Governo Lula, onde todo esse sistema de se entregar ministério como feudo a determinado aliado foi realizado. Os problemas não são de hoje, apenas. Isso vem já há muito tempo. Todo esse processo aí de desmoralização do trato com a coisa pública.
Como senhor avalia a influência do ex-presidente Lula no Governo?
Poderia ser até esperada como normal, até porque a Dilma só é presidente por causa dele. Sua força, popularidade, seu apoio; os ganhos que pessoas - significativos na sociedade brasileira - que tiveram no seu governo, e aí não adianta discutir. Mas, de fato, ele extrapolou. O que poderia ser normal, em função de sua participação decisiva na eleição, sua experiência e tudo mais como grande líder de bloco que estava no poder, ele extrapolou. Ele veio para cá (Brasília) e enfraqueceu mais ainda. Ajudou que esse processo de discórdia na própria base se ampliasse. Muitos estão imaginando que não têm que falar com Dilma, mas com Lula.
Alguns parlamentares do PPS podem migrar para o PSD. O senhor vê com bons olhos a criação desse novo partido?
Criar partido é um direito da cidadania. Vejo com profunda normalidade e com respeito democrático. Cada cidadão é livre para se organizar e se expressar. O que o PPS reclama com jus­a razão é que o partido não po­de ser criado como plataforma para o adesismo e reforma para infidelidade. Há uma afronta à lei, porque o Supremo decidiu que o mandato é do partido e não do parlamentar. Não é contra o PSD, é contra a gente voltar ao troca-troca partidário.

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