quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Transposição do São Francisco vira ambicioso projeto político


Um olho na obra e o outro na urna

 

Por Giovanni Sandes

Depois de um problemático 2011, pior ano da transposição do São Francisco, a presidente Dilma Rousseff confere de perto a situação da obra pela primeira vez, desde que assumiu o cargo. Mas a agenda em quatro trechos da obra, em Pernambuco e no Ceará, é bem mais que uma visita. Simboliza o empenho pela retomada e conclusão do projeto, uma mensagem necessária. Assim como a obra impulsionou a economia nas pequenas cidades por onde passa, a paralisação na maioria das frentes de trabalho esvaziou hotéis, restaurantes e comércio. Frustrou muito quem perdeu emprego, teve prejuízo ou viu de perto o abandono. Há um inquestionável desgaste político no projeto que é o mais emblemático legado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o antecessor e grande responsável pela vitória de Dilma nas urnas.

O governador Eduardo Campos, aliado de primeira hora de Lula e Dilma, também tem muito com que se preocupar. É ele quem dá suporte político ao ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, responsável pela execução do projeto.

A obra tem grande peso em todos os aspectos. Sua maior meta é dar segurança hídrica, acabar com os longos racionamentos de água, especialmente em áreas urbanas do interior, muito embora no imaginário popular o projeto seja a redenção de todo o Sertão rural. A água também terá papel crucial na economia dentro e fora das áreas urbanas, porque no futuro criará perímetros irrigados a partir da transposição.

Mas o apelo da obra não está só em promessas. Ela gerou no auge 9 mil empregos, uma explosão de movimento em municípios de economia raquítica. O vínculo entre bonança econômica e política é direto, como sintetiza a famosa frase de James Carville, marqueteiro do ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton na campanha eleitoral de 1992: “É a economia, estúpido!” A tirada, bem-humorada e agressiva, mostra o peso eleitoral do bem-estar gerado por uma economia sólida e em expansão.
Assim, por tudo o que envolve, a transposição foi promessa de campanha dos três últimos presidentes do Brasil: Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma.

Mas na eleição passada a obra trouxe polêmica. A transposição era a grande bandeira do Nordeste no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), criado em 2007. O pacote de projetos virou plataforma política para Dilma, apelidada por Lula de “mãe do PAC”. Em outubro de 2009, o governo criou até a “caravana da transposição”, uma longa e controvertida série de palanques em cidades por onde a obra passa.

Dilma foi eleita em 2010, quando deveria estar pronto o primeiro canal, o Eixo Leste, de acordo com o prazo original. O outro, o Eixo Norte, viria em 2012. Mas, após a eleição, a obra começou a empacar. Havia serviço em 12 lotes, de 14. Depois, nove pararam. O avanço físico da construção foi de apenas 5% no ano passado.

Oficialmente, os problemas partiram do projeto básico malfeito, com informações insuficientes: a realidade e o papel eram bem diferentes. Diante de custos maiores, as empresas cobraram altas de até 32%, acima do teto legal. Após arrastadas negociações, a obra subiu 36%, para R$ 6,9 bilhões, e a conclusão foi para o fim de 2015.

Enquanto isso se desenrolava em gabinetes de Brasília, no Semiárido milhares perderam o emprego, um efeito multiplicador de prejuízos e desgaste. Segundo o governo, mês passado eram 3.900 operários. O JC visitou todos os canteiros e levantou outro número, 2 mil trabalhadores, além de registrar vários trechos dos canais com rachaduras e placas de concreto quebradas.

“Quando se para uma obra dessas, se perde um monte de serviço já feito. Não sei porque parou depois de Lula”, reclama André Rodrigues da Silva, 32 anos. “Entra presidente, sai presidente, essa obra não termina. E assim vai chegando 2013, 2014, 2015. E a obra não termina nunca”, repete, para enfatizar, Marcos Silva, 25 anos.

Os dois são ex-funcionários do lote 11, em Sertânia, que chegou a ter 2 mil trabalhadores. Em 2010, o consórcio OAS, Galvão, Barbosa Mello e Coesa demitiu o pessoal e parou. Marcos saiu em maio e André, em outubro. Mês passado a construção voltou e abriu vagas. Sempre que podem, Marcos e André vão para a frente do canteiro e encostam nas motos, embaixo da sombra. São vários pequenos grupos, todo dia, com uma esperança só: voltar a ter perspectiva na vida.

“Trabalhei aqui até 2010, quando me botaram para fora. Fui para São Paulo e voltei, tudo sem emprego. Todo dia venho aqui, mas nunca me chamam. Volto para casa e passo o dia só bebendo, comendo e dormindo”, conta Marcos. André, casado e pai de uma filha, apela para o “alugado”, diária na roça. “Hoje, passo o dia debaixo do sol, arrancando toco de planta”, lamenta André.

A parada e a degradação da transposição foi para o foco do noticiário nacional, há dois meses, um peso a mais sobre os ombros do ministro Fernando Bezerra Coelho, bombardeado politicamente desde que foi acusado de privilegiar Pernambuco na liberação de verbas contra enchentes, em detrimento de Estados massacrados pelas fortes chuvas do início do ano.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Patos no Caminho da Mudança!

Ramonilson Alves, Deputado Federal Eflain Filho, Benone Leão e Umberto Joubert.  Por uma Patos Melhor!